Demetrin Leandro Veal: a história do verdadeiro “número 1” do Brasil na NFL

Felippe Drummond Neto - Hoje em Dia
20/01/2016 às 07:57.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:05
 (NFL)

(NFL)

Talvez você ainda não conheça Demetrin Leandro Veal, mas saiba que este nome até hoje obscuro por aqui é do primeiro brasileiro na história a ter jogado na NFL. Mais de uma década antes do kicker Cairo Santos entrar na principal liga de futebol americano do planeta, Leandro foi selecionado no Draft de 2003 pelo Atlanta Falcons, no sétimo round, com a 238ª escolha.

Mas para entender porque ninguém nunca contou essa história, que foi descoberta pela jornalista carioca Fernanda Pessanha, é preciso voltar muitos anos no tempo. Nascido em Salvador (BA) no dia 11 de agosto de 1981, Leandro Vea tem uma história que renderia facilmente um livro ou até mesmo um filme.

Ele foi adotado aos cinco anos de idade por uma família americana e passou a viver nos Estados Unidos. Por anos, nunca retornou ao Brasil e nem falava sobre isso com ninguém. Apenas após fazer 20 anos de idade, Leandro veio visitar o país. O nome dele enquanto jogador, Demetrin Veal, nunca teve relação com o Brasil, pois como não tinha a certidão de nascimento e foi logo estudar em uma escola de Paramount, Califórnia, lá foi registrado como nascido no local.

Para dificultar ainda mais o reconhecimento como brasileiro, durante toda a infância Leandro sequer sabia deste passado. “Pra falar a verdade nem sempre soube que era brasileiro. É difícil de explicar para uma criança que foi adotada, imagina por pais de outro país. Mas, ao longo dos anos, meus pais foram conversando comigo aos poucos”, conta Leandro.

Depois, a universidade em que ele jogou (Tennessee), assim como as equipes da NFL, apenas repetiram os documentos da escola. “Quando fiz 20 anos, poucas pessoas sabiam sobre isso (ser brasileiro), apenas os meus companheiros de time e amigos íntimos. Mas isso foi antes das redes sociais, então era mais fácil esconder. Por isso, acho que ninguém se atentou para o fato de eu ser brasileiro e estar jogando futebol americano”.

A primeira bola

Demetrin começou a carreira esportiva tardiamente. Era uma garoto tímido, pequeno e chegou a participar do clube de matemática e a praticar esportes como skate, surf ou mesmo pólo-aquático no ensino médio, antes de iniciar no futebol americano.

Um dos professores achava que ele teria potencial por ser maior e mais forte que os outros garotos da idade. Foi aí que, de repente, ele deu aquela esticada natural da adolescência, ficou enorme, e, no último ano do ensino médio, resolveu tentar algo novo, entrando para o time de futebol americano. À época, Leandro não pensava ainda em jogar na NFL, estava apenas se divertindo:

“Não comecei a jogar futebol americano porque era meu sonho; pelo contrário, só fui jogar porque era maior e mais forte que os outros garotos da minha idade, e meu treinador no ensino médio via potencial. Foi aí que descobri que eu era bom neste esporte. Acho que isso é o sangue brasileiro, somos naturalmente atléticos”, conta ele.

Carreira sólida

Após ter sido selecionado pelo Atlanta Falcons em 2003, Leandro Veal jogou 37 partidas na NFL, como defensive tackle, por Atlanta Falcons, Denver Broncos e Tennessee Titans. Mas uma ruptura parcial do ligamento colateral do joelho, em 2007, interrompeu a carreira na liga.

Durante a estada na NFL, ele também conseguiu marcar pontos, mesmo jogando na defesa. O que o também o torna o primeiro jogador do país a fazer ponto. Em 2005, ele conseguiu um safety – vale dois pontos (quando derruba-se o adversário na própria endzone).

Leandro ainda tentou voltar a jogar na UFL (United Football League), em 2009, pelo Florida Tuskers, uma espécie de segunda divisão nacional de futebol americano, mas sem sucesso, até se aposentar do esporte completamente em 2011.

Depois de se dedicar sete anos ao futebol americano como jogador, Leandro fez uma tentativa no MMA. E na única luta profissional, em 2012, nocauteou Chad Wicks, ainda no primeiro round. Mas, como ele diz, foi apenas uma experiência.

De volta ao futebol americano, Leandro juntou-se ao americano técnico da seleção brasileira Clayton Lovett, e ambos montaram um Centro Comunitário para crianças em Salvador, chamado “Our kids, Together Foundation”.

O objetivo é dar às crianças uma oportunidade de ter sucesso na vida, ensinando, educando e aconselhando através dos princípios do esporte. Leandro não mora no país, mas pensa mudar-se em breve. Enquanto não vem, mora na Suécia, onde é assistente técnico da defesa e coordenador de linha defensiva do time Tyresö Royal Crowns, e fora da temporada vive entre Denver, nos Estados Unidos, e as visitas ao Brasil.

Mas o que ele mais quer não é ‘tomar’ o posto de Cairo Santos como o primeiro brasileiro a ter jogado na NFL, e sim o reconhecimento no país natal. “Para mim, não é uma questão de ser o primeiro, mas uma questão de ser reconhecido. Todos nós fizemos parte disso, e eu quero que esse seja o nosso legado. Sim, eu nasci no Brasil e consegui chegar lá (na NFL), mas deveríamos ser quatro ‘filhos’ do Brasil que jogamos na NFL”.

Outros brasileiros

Leandro refere-se aos outros três jogadores com alguma ligação com o Brasil e que já estiveram na NFL. O primeiro é o tight end Damiam Vaughn, que ainda criança foi morar no Tio Sam. Ele entrou na NFL e compôs o elenco do Buccaneers e do Bengals, de 1998 a 2002 – mas não jogou nenhuma partida.

O segundo é o right tackle Breno Giacomini. Filho de brasileiros, ele foi selecionado pelo Green Bay Packers em 2008, depois passou pelo Seattle Seahawks, pelo qual foi campeão do Super Bowl em 2014, e atualmente joga no New York Jets.

O terceiro é o kicker Cairo Santos, do Kansas City Chiefs, que até então ostentava o posto de primeiro brasileiro a jogar na NFL.

Se somarmos a essa história os também kickers brasileiros Maikon Bonani e Raiam dos Santos, o Brasil tem nada menos que seis jogadores com história na NFL. Maikon fez testes no Tennessee Titans em 2013 e acabou cortado. Já Raiam tentou entrar na NFL em 2011 via Draft, mas não teve sucesso.

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