“O cara”, Éder Jofre comemora 40 anos de segundo título mundial

Gazeta Press
04/05/2013 às 15:18.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:24

Na noite de 5 de maio de 1973, Éder Jofre, então com 37 anos, subia no ringue do Ginásio de Esportes Presidente Médici, em Brasília, para enfrentar o espanhol José Legra, dez anos mais novo. Uma hora e 15 assaltos depois, o paulistano do Peruche tinha mais um título no currículo e o próprio nome cravado de vez na história do esporte brasileiro, ao conquistar o cinturão dos pesos pena do Conselho Mundial de Boxe.

A façanha, que completa 40 anos neste domingo (5), marcou um retorno tardio e surpreendente, mas desenhado há tempos, do Galinho de Ouro à idolatria. Éder já colecionava títulos como peso galo profissional desde 1958, quando venceu o Campeonato Brasileiro da categoria. Dois anos depois vieram o Sul-americano, o primeiro mundial (da Associação Mundial de Boxe) e a fama fora do Brasil e dos ginásios. "Ele era como um espelho para mim. Eu o observava para ver os golpes que ele dava, a maneira como se movia", disse à GazetaEsportiva.net Servílio de Oliveira, o primeiro medalhista olímpico do Brasil (bronze na Cidade do México-1968).

Por cinco anos, Éder conseguiu manter o cinturão da AMB, até ser surpreendido pelo japonês Masaharu Harada, que deu a ele as únicas duas derrotas de toda a carreira. Na sequência, a desilusão, um período sabático de três anos, o retorno aos ringues em 1969, a passagem para o peso pena e a volta à disputa de um cinturão mundial.

A luta

Em 1973, José Legra era o detentor do título dos pesos pena do CMB, uma década mais novo do que Éder e tinha o apelido de Pocket Cassius Clay (Cassius Clay de Bolso). "Foi o melhor peso pena com quem eu já lutei", disse o brasileiro à GE.net. Era alguém que impunha respeito, até pelo tamanho. Durante a pesagem, Éder, que media apenas 1,63m, se assustou com a estrutura física do adversário, muitos centímetros mais alto e bem mais pesado.

Legra realmente tinha dez centímetros a mais e era mais forte, mas não tanto quanto o Galinho de Ouro temia. O espanhol, apesar de jovem, era experiente, e apareceu na pesagem com um sapato e um terno que o faziam ganhar alguns centímetros de altura e muitos quilos de músculo - constatação feita com alívio pelo brasileiro quando os dois tiraram os roupões no ringue.

Curiosamente, Éder quase perdeu aquela que seria uma das lutas mais importantes de sua carreira por ter dormido demais. Mesmo assim, dentro dos quatro córners, começou melhor. Quando o terceiro assalto estava próximo do fim, Legra acertou um cruzado de direita que quase liquidou o brasileiro. "Não fui eu que caí. Foi o chão que subiu. Quando eu vi, estava de joelhos, segurando na corda e tentando entender o que tinha acontecido", disse.No assalto seguinte, o espanhol foi para cima a fim de aproveitar a confusão do adversário. O Galinho de Ouro conseguiu afastá-lo por tempo suficiente para se recuperar. Na sequência, Éder reequilibrou o combate, à medida que Legra ia diminuindo a força dos socos, perdendo pontos por falta, com os assaltos se arrastando. "Ele, além de ser maior, lutava mais em pé, com o corpo ereto. Botava a esquerda na frente, aquele braço comprido, e me mantinha à distância. Para chegar nele, eu tinha que me virar. Mas quando eu chegava, metia a mão", explicou Éder.

Os 15 assaltos previstos inicialmente chegaram ao fim, e a decisão foi parar nas mãos dos juízes. Depois de alguns minutos de expectativa, o brasileiro conseguiu transformar o suor em pontos e venceu a luta por decisão majoritária, fazendo a maior parte das 24 mil pessoas presentes no Presidente Médici explodirem de alegria. "Foi muita emoção. Lembro dos torcedores que foram lá me apoiar. Eu quase choro de alegria quando falo sobre isso, porque foi uma vitória muito disputada, puxada", disse.

Legado

Éder ainda teve mais três anos de carreira, mas, abalado pela morte dos pais, decidiu parar de lutar em 1976. O legado do Galinho de Ouro, não entanto, não parou junto. Com um cartel de 75 vitórias (53 delas por nocautes), quatro empates e duas derrotas, ele foi eleito em 1996, pela revista norte-americana The Ring, a ‘bíblia’ do pugilismo, o nono boxeador mais importante dos 50 anos anteriores - à frente de nomes como Mike Tyson, Evander Holyfield, George Foreman e Joe Frazier.

Além disso, Éder, hoje com 77 anos, é o único brasileiro a integrar o Hall da Fama do Boxe, honra não concedida nem a Acelino ‘Popó’ Freitas - campeão dos super pena pela AMB e pela Organização Mundial de Boxe (OMB) e dos pesos leve pela OMB.

"Ele é o número um do Brasil, foi muito longe. É uma inspiração em todos os sentidos, quebrou tabus. Ele tinha um gancho de esquerda no fígado que me ajudou muito", disse Popó.

"O Éder é ‘hors concours,’ está num patamar só dele. Na nossa época só havia duas associações (CMB e AMB), não era como é hoje em dia, que tem milhares de entidades, o caminho era estreito. Então, para chegar onde ele chegou, tinha que ser o cara", completou Servílio.

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