Médica que trabalhou na Seleção Brasileira destaca adaptação ao piso no debate sobre grama sintética
Para a especialista, lesões estão mais ligadas à falta de padronização dos campos e à preparação dos atletas do que ao tipo de gramado utilizado

A médica Flávia Magalhães, com mais de duas décadas de atuação no futebol profissional, afirmou que a adaptação dos atletas ao tipo de piso é determinante na ocorrência de lesões, em meio à polêmica reaberta com a instalação de gramado sintético na Arena MRV, estádio do Atlético. A arena foi reinaugurada no último domingo (11), após mais de 150 dias de reforma, com a vitória da equipe mineira por 3 a 2 contra o Fluminense, pela oitava rodada do Campeonato Brasileiro.
Com a mudança, o Atlético passa a integrar o grupo de clubes que utilizam gramado sintético em seus estádios, ao lado de Botafogo, Palmeiras, Athletico-PR, além da Arena Barueri e do Pacaembú, que será reinaugurado. A decisão reacendeu discussões entre atletas e técnicos sobre a segurança e a qualidade do jogo nesses campos. Apesar da autorização da FIFA para o uso do piso artificial, desde que obedecidos os critérios técnicos, a controvérsia entre profissionais da área permanece.
“A lesão está muito mais relacionada ao nível de adaptação do jogador ao tipo de gramado do que ao gramado em si”, explicou Flávia Magalhães, que também trabalhou no Atlético e no América. Ela também ressaltou a ausência de padronização nos campos brasileiros como um agravante. “Jogadores que atuam frequentemente em campos sintéticos tendem a se adaptar melhor. Fora isso, fatores como preparação física, sono e alimentação também impactam a propensão a lesões.”
Durante a reestreia da Arena MRV, nomes como Hulk, do Atlético, e Renato Gaúcho, técnico do Fluminense, opinaram sobre o novo piso. Enquanto o atacante mineiro comentou a necessidade de adaptação ao ritmo da bola, o treinador tricolor foi categórico ao afirmar que o gramado sintético prejudica o espetáculo e aumenta o risco de lesões.
No início da temporada, atletas de pelo menos dez clubes da Série A, entre eles Corinthians, Flamengo e São Paulo e Cruzeiro assinaram uma nota pública contra o uso do sintético. A campanha utilizou o lema “futebol é natural, não sintético”, e argumentou que esse tipo de gramado favorece o aumento de lesões graves.
Contrapondo a percepção de risco, o fisioterapeuta esportivo Fabrício Santos citou uma revisão científica com mais de 20 estudos, na qual as taxas de lesões em gramados sintéticos foram menores ou equivalentes às dos naturais. “Não há evidência de que o sintético ofereça mais perigo. Houve até redução de casos em pelve, coxa e joelho entre os jogadores analisados”, afirmou.
Para Sergio Schildt, da empresa Recoma, responsável pela instalação de pisos sintéticos em estádios brasileiros, a escolha pelo material artificial é técnica e econômica. Ele argumenta que o gramado sintético oferece manutenção mais barata e desempenho equivalente ao natural, além de ser uma resposta ao calendário apertado e às variações climáticas.
A falta de consenso entre atletas, técnicos e especialistas reflete um cenário onde, segundo Flávia Magalhães, a chave para a segurança está menos no tipo de piso e mais na preparação e adaptação ao ambiente de jogo.
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