"Medalha Olímpica não apaga vexame na Copa", diz Taffarel

Henrique André
Hoje em Dia - Belo Horizonte
19/04/2015 às 12:03.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:42
 (Divulgação)

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Com 108 partida ao longo de 11 anos de convocações, Cláudio André Taffarel, de 48 anos, ostenta o posto de goleiro com mais jogos oficiais com a camisa da Seleção Brasileira. Um dos protagonistas da quarta Copa do Mundo conquistada pelo Brasil, em 1994, o gaúcho de Santa Rosa – eternizado pelo bordão “Sai que é tua, Taffarel!”, criado pelo narrador global Galvão Bueno – disputou também as edições de 1990 e 98. Com ele, a Seleção venceu 64 jogos, empatou 31 e perdeu 13. Foram 73 gols sofridos. Treinador de goleiros do Galatasaray, da Turquia, desde 2012, ele foi convidado por Dunga a exercer a função também na Seleção. Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Taffarel fala sobre o momento atual do futebol no país e diz que o fiasco na Copa de 2014 nunca será esquecido – mas que é preciso superá-lo de uma forma: olhando para frente. Ele também relembra a passagem por Minas Gerais, onde defendeu as cores do Atlético, de 1995 à 1998.   Oito jogos, oito vitórias. Esta nova era Dunga é para empolgar mesmo ou toda cautela com o futuro da Seleção Brasileira é pouca após o trágico 7 a 1?   Tivemos oito jogos difíceis contra bons adversários. Mesmo assim temos que ter os pés no chão, pois são jogos de preparação. É o início de um trabalho. O que vai valer é a Copa América e as Eliminatórias. Tem que trabalhar com tranquilidade. O 7 a 1 é passado. A Copa passou. Temos que olhar para frente, porque trabalhando sério os resultados chegam.   Aceitou de cara o convite do Dunga para assumir a função de treinador de goleiros da Seleção? Como foi?   Quando você é convidado pela Seleção ou pelo Dunga, não tem que aceitar, você tem que se apresentar correndo. É uma grande oportunidade pra mim. Eu já vinha sonhando com isso há muito tempo e aconteceu muito rápido. Aceitei com muita alegria e quero ajudar bastante o Dunga e os goleiros. Quero dar a minha contribuição.   Como você vê o atual momento dos clubes e do futebol brasileiro?   Não tenho acompanhado muito. Mais os resultados. O futebol brasileiro vive de momento. Os clubes estavam cheios de dinheiro e, de repente, estavam todos endividados. Não entendo como isso acontece. Não sei se é má gestão ou o que acontece. Esta é a grande dificuldade do futebol brasileiro hoje.   Não temos mais a superioridade técnica de outros tempos. E estamos defasados taticamente. Concorda com esta análise?   Temos que aprender que todos os adversários que nos enfrentam dão mais do que o 100%. Todos serão difíceis. Não perdemos e nunca vamos perder o brilho característico do nosso futebol e nem a maneira do brasileiro de jogar. Tem que ter inteligência, ordem tática e saber defender e atacar em conjunto. São coisas que o Dunga está colocando em prática nos treinamentos e nos amistosos. Só assim o Brasil vai voltar a se superar. São 11 jogadores em campo, e todos têm que batalhar da mesma maneira.   E do ponto de vista físico, como estamos?   Fisicamente estamos muito bem e temos bons preparadores. Na Seleção é feito o mesmo trabalho que é realizado nos grandes clubes da europa.   Sobre a atual safra de jogadores, temos uma zaga considerada forte (Tiago Silva e David Luiz) e apenas um craque, o Neymar. Por que paramos de produzir jogadores excepcionais?   Exatamente. Temos uma boa defesa, com jogadores fortes e importantes. Coloco nesta lista também Miranda, Gil e Marquinhos. Só não concordo que na Seleção exista apenas o Neymar. Ele é o craque no Brasil, no Barcelona e em qualquer outro lugar que jogar. No entanto, ele é apenas mais uma peça do conjunto. Willian e Oscar são outros dois importantes, que cumprem as funções táticas na Seleção.   A Seleção de 1994 quebrou um jejum de 24 anos sem títulos do Brasil. Estamos, no momento, vivendo uma crise de credibilidade parecida?   Vencer uma Copa do Mundo depende muito do momento da equipe. Espero que não passemos por um jejum semelhante, porque isso não faz muito bem. Se aparecer a oportunidade temos que estar prontos para vencer. Existem outras seleções com o mesmo jejum e isso é um fator que dificulta bastante.   Como está o clima entre os jogadores? Existe uma cobrança interna muito grande? Os reflexos da pressão externa (mídia, torcedores, mundo) estão sendo sentidos a cada convocação?   O entrosamento, a união e amizade entre os jogadores é o ponto mais positivo deste grupo até agora. O ambiente que está sendo formado é muito bom. A derrota na Copa do Mundo doeu bastante, mas todos estão olhando para frente. A próxima Copa é daqui três anos, e por isso todos estão se empenhando ao máximo no dia a dia para mudar a imagem que ficou da última. Não existe pressão, o que temos hoje na Seleção é comprometimento.   A medalha olímpica no Rio pode amenizar o vexame dos 7 a 1 ou a crise do futebol brasileiro será sentida por muitos anos ainda?   Não acho que medalha olímpica possa apagar o vexame. Nada vai apagar aquilo (derrota por 7 a 1 para a Alemanha). A derrota vai ficar nos álbuns e na história. Não temos mais que pensar em Alemanha, em revanche ou algo semelhante. São competições diferentes e ficar vivendo do passado não é saudável. Vamos olhar para frente.   A atual geração de goleiros no mundo é boa? A safra é melhor, igual ou pior a sua?   A safra no mundo inteiro é muito boa. É um goleiro mais potente e alto do que na minha época. Hoje o goleiro é muito exigido a jogar com os pés, como um líbero. Houve uma mudança muito grande e eu, como treinador, trabalho com bolas mais rápidas, simulando as partidas da atualidade.   Você recebeu alguma proposta para atuar como treinador de goleiros no Brasil? Se sim, por que recusou?   O primeiro convite que recebi foi aqui no Galatasaray, há quase quatro anos. Agora que o pessoal no Brasil está sabendo que sou treinador de goleiros, em função da minha posição hoje na seleção. Vai acontecer de voltar para o Brasil, mas ainda não sei o destino. Futuramente é uma ideia. Vou ter calma para que isso aconteça.   Quem é melhor: Victor ou Fábio? Quais os pontos fortes e fracos de cada um? Ambos podem figurar nas próximas convocações ou não fazem parte dos planos?   São dois grandes goleiros que atuam em grandes clubes. Ambos têm tranquilidade, sabem se posicionar bem e têm personalidade. Para uma convocação é fundamental. No entanto, quem convoca é o Dunga. Eu vou para Seleção apenas para treiná-los. São nomes que sempre figuram nas listas de possíveis convocações, mas não sei se no momento podem ser convocados. Como disse, isso fica a cargo do Dunga.   O goleiro, normalmente, consegue prolongar a carreira em alto nível. O que tem achado do momento vivido por Rogério Ceni? Ele está prolongando além do que pede o bom senso?   Cada profissional sabe a hora de parar ou continuar. Rogério Ceni tem que ser admirado. Ficar quase 20 anos num mesmo clube, jogando em alto nível, não é para qualquer um. O jogador vai perdendo a agilidade e a força com o tempo. O futebol fica rápido e parece que a gente vai encolhendo. Ele é um cara inteligente e vai ser o primeiro a sentir o momento certo de pendurar as chuteiras.   O posicionamento avançado do Neuer é uma característica individual ou trata-se de uma tendência do futebol moderno? É uma função cobrada na Seleção e no Galatasaray?   Ele é o retrato do que é o goleiro atual. Jogar adiantado facilita o trabalho da defesa e ele mostrou que sabe fazer muito bem o papel. Pra mim, atualmente é o melhor goleiro do mundo.   Você tem acompanhado o Atlético? O que pode falar do time atual?   Apesar de gostar muito do Atlético, não tenho acompanhado muito de perto daqui. Independente disso, a torcida pelo clube é muito grande. Existem algumas pessoas da minha época que ainda trabalham no Galo e por tudo que vivi com esta camisa, tenho muito carinho guardado. É um clube que tenho no coração e estou sempre torcendo por ele.   Qual recado deixaria para o torcedor atleticano?   O recado que deixo para o meu torcedor atleticano é um agradecimento por todo carinho que sempre me deu. Procurei fazer sempre o meu melhor com a camisa do Galo. A lembrança é sempre muito prazerosa, junto com minha esposa e meus filhos que, inclusive, se dizem mineiros até hoje.

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