Mineirão custa quatro vezes menos para o Cruzeiro que Maracanã para o Flamengo

Alexandre Simões
Publicado em 07/02/2019 às 20:30.Atualizado em 05/09/2021 às 16:27.

A temporada de 2019 começou no futebol brasileiro com os elevados custos do Flamengo para jogar no Maracanã dividindo as atenções com o grande time que o rubro-negro carioca montou contratando estrelas como Arrascaeta, ex-Cruzeiro, e Gabriel e Bruno Henrique, ex-Santos.

Como o Hoje em Dia teve acesso à planilha do custo do Mineirão para o Cruzeiro em toda a temporada de 2018, uma comparação entre os gastos do mandante nas duas arenas se tornou obrigatório, sendo que no caso flamenguista a fonte de consulta foi o site da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj), onde são publicados os borderôs dos jogos do Campeonato Carioca.

E a comparação entre os dois maiores clientes de cada uma das duas arenas é impressionante, pois o Cruzeiro paga quatro vezes menos para ter o Mineirão como “casa” em relação ao que gasta o Flamengo para ser mandante no Maracanã.

Duas diferenças precisam ser consideradas, pois o Cruzeiro, por ter um contrato de exclusividade com o Mineirão por 25 anos, tem 30% de desconto nas suas despesas e também não paga aluguel do campo, sendo que isso para o Flamengo custa R$ 120 mil por partida.

De toda forma, nas três primeiras partidas do Flamengo em 2019 no Maracanã, todas pelo Campeonato Carioca, o custo médio por torcedor foi de R$ 15,77, segundo as despesas discriminadas no boletim financeiro de cada um dos jogos. Em 2018, o custo médio de torcedor do Cruzeiro no Gigante da Pampulha foi de R$ 4,25.

O maior valor de despesas da Raposa no Mineirão no ano passado foram R$ 212.230,56, na partida de volta da semifinal da Copa do Brasil contra o Palmeiras. Ele é inferior três vezes ao menor valor pago pelo Flamengo com despesas de jogos nesta temporada no Maracanã.

Os dois estádios passaram por reforma a partir de 2010, pois ambos receberam jogos das Copas das Confederações e do Mundo, em 2013 e 2014, respectivamente.

Em nota (veja no final do texto), no início da semana , a administradora do Maracanã revelou que todas as despesas pagas pelo clube rubro-negro no estádio são de operação dos jogos. O único valor cobrado fora isso são os R$ 120 mil pelo aluguel da arena.

Racionalidade

O baixo custo de operação por torcedor que o Cruzeiro conseguiu no Mineirão em 2018 é fruto de uma mudança estratégica promovida pelo clube na última temporada, com a troca de diretoria.

“Nós temos a preocupação de usar o estádio sempre de forma racional. Assim, tentamos fazer uma previsão de público o mais real possível, o que em determinadas partidas nos permite até mesmo fechar setores inteiros, o que faz o custo cair”, revela Leandro Freitas, gerente de marketing do clube e que está diretamente ligado às operações das partidas.

Mas o dirigente cruzeirense faz uma observação, pois segundo ele esses R$ 4,25 de custo médio de operação por torcedor não são o valor gasto pelo clube em seus jogos no Gigante da Pampulha.

“Gastamos mais do que isso. Este valor é apenas o que custa a operação da Minas Arena. Mas o Cruzeiro também tem uma equipe própria trabalhando em todas as partidas e que recebe uma remuneração por jogo. Com isso, nosso custo por torcedor sobe”, afirma Leandro.

Segundo ele, no ano passado este quadro móvel cruzeirense custou cerca de R$ 1,5 milhão, o que aumenta em R$ 1,35 o custo da operação por torcedor, chegando-se a um valor próximo de R$ 5,60, mesmo assim muito inferior se comparado aos R$ 15,77 que o Flamengo desembolsou, em média, nos três jogos no Maracanã em 2019.

Cobrança

Apesar da parceria, a relação entre Cruzeiro e Minas Arena não é fácil. Mas neste momento, segundo Leandro, o clube tem buscado propostas justamente para melhorar o relacionamento entre as duas partes, o que para ele é fundamental.“

Em 2018, só o Cruzeiro jogou como mandante no Mineirão. Temos algumas questões para acertar e estamos conversando. Na última segunda-feira tivemos uma reunião e fizemos algumas reivindicações, tanto no serviço ao torcedor como em relação a custos. Acredito que podemos resolver, pois queremos melhorar essa relação”, afirma Leandro.

A nota da administração do Maracanã à imprensa

Entenda os custos operacionais dos jogos e da manutenção do Maracanã
• É preciso diferenciar o que é o custo de uma partida e o que é despendido para a manutenção do estádio estar sempre seguro, atualizado e confortável para os torcedores do primeiro ao último jogo da temporada.
• A operação e o custo das partidas, desde 2017, está sob a responsabilidade dos clubes, que negociam diretamente com os fornecedores. A operação dá conta de despesas que existem em todo e qualquer estádio do mundo, como água, energia, seguranças, orientadores e funcionários de limpeza, por exemplo. 
• É importante ressaltar que parte significativa desses custos dizem respeito à segurança dos torcedores. No último jogo, entre Flamengo e Cabofriense, no dia 3/02/19, foram mais de 475 seguranças privados que, somados aos policiais do BEPE, formaram um efetivo de 695 pessoas.
• As contas públicas (água, energia e gás) são medidas somente para o período da partida. Ou seja, os clubes só pagam o que é consumido durante o jogo. 
• Os clubes também são os responsáveis pela bilheteria e pela definição dos preços dos ingressos, que via de regra está atrelada aos respectivos programas sócio torcedor ou similares.
• As receitas provenientes destes programas de sócios torcedor ou similares não aparecem no borderô das partidas.
• As receitas times de futebol mandantes durante os jogos no estádio não se resumem apenas à bilheteria da partida. Pelos contratos estabelecidos entre o Maracanã e o clubes, estes recebem percentuais das receitas de alimentos e bebidas, bem como valores oriundos da venda de camarotes. 
• Reiteramos que a única remuneração da concessionária que administra o Maracanã é de R$ 120 mil por partida e R$ 150 mil nos clássicos. Esses valores foram solicitados pelos clubes numa reunião realizada em 14 de janeiro na FERJ. 
• É com este recurso que a empresa mantém o estádio sempre atualizado e com a manutenção em dia. Está no contrato de concessão, por exemplo, a correta amortização e depreciação dos equipamentos e espaços. Em linhas gerais significa que a concessionária deve trocar equipamentos que se depreciam o quebram ao longo do tempo, como lona da cobertura, telões, subestações de energia, sistema de segurança, ar condicionado, elevadores, catracas, cadeiras e outras dezenas de itens.
• As receitas obtidas pela concessionária por meio do aluguel do Maracanã nos jogos não cobrem todas as despesas necessárias para manter o estádio anualmente. É por esse motivo que o Maracanã viabiliza receitas por meio do conteúdo futebol, das dezenas propriedades do estádio e também através do desenvolvimento do entorno do estádio.
• A simples leitura do borderô das partidas, portanto, mostra apenas parte dos recursos que são movimentados durante um jogo de futebol.
 
Tomando como exemplo o borderô o jogo Flamengo x Cabofriense, sexta partida realizada no estádio em 2019
• A única receita obtida pela concessionária foi o aluguel de 120 mil.
• Receitas descritas nas linhas 17 (conta de consumo) são pagas às empresas de água, energia e gás por meio do rateio das contas referentes somente ao período da partida.
• A linha 18 (custo operacional) é referente a valores que o clube paga diretamente a fornecedores como segurança, limpeza, orientadores, etc. Esse efetivo é dimensionado pelo próprio time, bem como a negociação com cada empresa.
• A linha 15 (custo de infraestrutura) trata de equipamentos, como separadores de fila, que o clube aluga para realizar a partida. 
• Em resumo, os únicos valores pagos diretamente ao Maracanã são o aluguel os das linhas 16 (aluguel do estádio - R$ 120 mil) e 17 (contas de consumo - R$ 150 mil de provisão, mas cerca de R$ 95 de valor real depois da medição) de gás, energia e água, que os clubes pagam somente pelo valor consumido durante as partidas.
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