
Enquanto Ronaldinho curte a beleza da Grécia em evento comercial da final da Champions League, a sua chegada ao Atlético, que mudou a história do clube, completou 5 anos neste domingo (4). Há exatos 60 meses, R10 desembarcava na Cidade do Galo, sem alarde, para virar ídolo. E tudo começou num aviso do técnico Cuca, mudança de rota do ex-presidente Alexandre Kalil e reunião em Porto Alegre com o craque e o irmão, Assis.
Dias antes de R10 assinar com o Atlético inicialmente por seis meses, Kalil havia se aprumado para o Rio de Janeiro (na época se falou que ele iria contratar Juninho Pernambucano). Mas Cuca avisou o atual prefeito de BH que Ronaldinho tinha saído do Flamengo.
Lá estava livre a peça que faltava. O então mandatário do Galo ligou para um dos homens de confiança da diretoria, Rodolfo Gropen para viajar de imediato para o Sul. O atual presidente do Conselho e então diretor de planejamento foi testemunha ocular da negociação que trouxe o ex-melhor do mundo ao clube mineiro.
Na conversa em quarteto marcada por Assis, praticamente só o ex-presidente do Atlético abriu a boca. Com o seu jeito característico, tratou Ronaldinho de "pai para filho". Apenas Kalil verbalizava, questionava, informava. Até que Assis pegou um pedaço de papel e começou a anotar, como se fosse a lista do supermercado.
- Carro
- Casa
- Seguranças
Praticamente vão.
"O Alexandre falava diretamente com o Ronaldinho, numa conversa séria, direta, falando para onde o R10 queria levar a vida dele, se ele tinha desejo de voltar à Seleção, lembrou que o preparador físico da Seleção e o médico eram do Atlético (Carlinhos Neves e Rodrigo Lasmar). Um papo firme mesmo. Então o Assis, que estava na reunião, começou a anotar uma lista de pedidos. O Kalil, sem desviar o olhar de Ronaldinho, disse: 'Assis, o que eu combinei com você é 300 mil (salário). Carro vocês devem ter uns 50, levem para Belo Horizonte. Casa? Pergunta pra qualquer jogador do Atlético se ele tem casa paga pelo clube", relembra Rodolfo Gropen, ao Hoje em Dia.
Kalil acabou sendo mais flexível com o último item da lista. E logo voltou a manter a conversa com Ronaldinho, explicando que no Atlético ele seria tratado como qualquer outro jogador. Mesmo que fosse impossível para uma superestrela do futebol globalizado viver um dia sequer de forma comum.
"Na viagem que fizemos para Porto Alegre, Kalil falou comigo da intenção que ele tinha de trazer o Ronaldinho e que o protocolo de apresentação fosse como qualquer jogador. Chegaria no CT, treinaria e falaria com a imprensa. Assim, ele mostraria ao R10 que teria um tratamento igual a todos no Atlético", completa Gropen.
"Quando conversei com o presidente do Atlético, pensei: 'Este cara está entendendo o que quero, é com ele que eu vou'. Ele me disse que sabia que eu estava com 'sangue no olho' para jogar de novo, e que poderia ir ao clube dele que ele tinha estrutura para me fazer voltar à Seleção", Ronaldinho, em entrevista ao SporTV em abril de 2013
Ronaldinho ouvia a fala de Kalil atentamente. Havia acabado de rescindir com o Flamengo por falta de pagamento, era taxado pela imprensa e torcida brasileira como um jogador problemático, fadado a encerrar a carreira sem maiores brilhos. No momento final da reunião definitiva com o Atlético, Kalil percebeu que R10 era um astro tímido, na dele, e testou: "ô menino, você não fala porra nenhuma não?". O meia-atacante 'assinou' o pacto, ao responder: "ô presidente, quando é que eu me apresento"?
"Depois que ficou tudo acertado, o Alexandre disse que quando ia a uma loja e comprava algo, levava o produto na hora para casa. Ronaldinho alegou que não poderia ir para BH naquele dia (2 de junho de 2012, sábado à noite), mas que estaria em Belo Horizonte na segunda-feira pela manhã".
Então, tudo modificou no Atlético. Helicópteros da TV Globo sobrevoavam a Cidade do Galo para tentar comprovar a veracidade do fato: Ronaldinho reforçaria o Galo para a temporada 2012. Ganharia R$ 300 mil de salário. Uma redução de 79% em relação ao que recebia no Flamengo (R$ 1,4 milhão). Posteriormente, ao renovar o contrato para o ano em que seria campeão da Libertadores, R10 passou a receber R$ 450 mil por mês. Ainda tinha renda através de prêmios e bônus por conquista.

Só alegria: Ronaldinho fez 88 jogos, 28 gols e 35 assistências pelo Galo; campeão da Libertadores
CINGAPURA
O presença de Ronaldinho trouxe holofotes inéditos para cima da imagem do Atlético. Em viagens pela Libertadores, a presença do jogador atraia torcedores locais atrás de um registro, autógrafo ou apenas para ver de perto a famosa saudação surfista "hang-loose". Gropen vivenciou uma situação que comprovou a força do nome do craque.
"Estava em viagem em Cingapura e num domingo, vesti a camisa do Atlético e sai às ruas. Foi impressionante ver algumas pessoas falando comigo: 'Mineiro, Mineiro de Ronaldinho'.
ÚNICOS AMORES
A última história marcante do atual presidente do Conselho Deliberativo do Atlético com Ronaldinho foi no confronto entre Galo e Fluminense no Maracanã, pelo Campeonato Brasileiro 2015, em agosto. R10 havia deixado o Querétaro no México para assinar com os cariocas.
No Maraca, o alvinegro venceu por 2 a 1 e o ídolo/adversário daquele dia foi substituído aos 21'/2ºT. Enquanto ouvia vaias da torcida tricolor, era reverenciado pelos "CarioGalos". Após o jogo, R10 passou no vestiário do Galo e evidenciou uma vontade que faria a torcida alvinegra fazer festa.
"Ronaldinho foi até o nosso vestiário e ficou uns 30 minutos por lá. Dava para notar que ele se sentia em casa. Me disse que tinha vontade de fazer uma despedida do futebol num jogo Atlético x Barcelona. Lembrou que jamais esperava viver novamente um processo de reconstrução de um clube que viveu na Espanha. Ainda acrescentou que apenas duas torcidas ainda demonstram que o amam depois de ele ter saído dos clubes: a do Galo e a do Barça".