Entrevista

Multicampeã de jiu-jítsu fala de conquistas e desafios dentro e fora dos tatames

Alice Pocahontas tem apenas 10 anos e tem um sonho de abrir um projeto social

Bernardo Haddad (*)
@_bezaoesportes@hojeemdia.com.br
08/01/2024 às 09:06.
Atualizado em 08/01/2024 às 13:15
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Com apenas 10 anos, Alice Pocahontas, moradora da região do Barreiro, em Belo Horizonte, acumula títulos no jiu-jítsu. Em apenas quatro anos de competição, a jovem possui mais de 90 medalhas. Recentemente, conquistou o mundial de Abu Dhabi, pela segunda vez consecutiva.

Os triunfos dentro dos tatames fomentaram um desejo da garota e da família de transmitir essas conquistas para crianças carentes. Assim, a jovem revelou que está prestes a abrir um Instituto para incentivar jovens que passam dificuldades a praticarem esportes.

O Instituto Alice Pocahontas, idealizado pela jovem e por seu pai, Davi Campos, irá proporcionar, de maneira gratuita, aulas de jiu-jítsu, futebol, além de um acompanhamento psicológico para tratar do emocional de crianças carentes.

Alice Pocahontas bateu um papo com o Hoje em Dia para contar sobre o Instituto e falar mais sobre a sua história no jiu-jítsu.

(Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Como o jiu-jítsu apareceu na sua vida tão cedo?

Quando tinha quatro anos batia nos meus colegas na escola e sempre ficava de castigo, era uma confusão. Então meus pais optaram por me colocar em uma artes marciais, mas até então a gente não sabia que o jiu-jítsu existia. Depois de procurar muito, meus pais acharam e me colocaram.

O que te fez se apaixonar pelo esporte?

Eu comecei a praticar cedo e já me identifiquei muito com o jiu-jítsu. A parte que eu mais gosto é de passar a guarda. É uma coisa que eu consegui aprender bem, consigo fazer bem e acho muito legal. Outra coisa que eu gosto também é quando a gente ganha as lutas no último momento, é muito emocionante.

Qual seu maior sonho no jiu-jítsu?

Meu maior sonho é ser uma professora de jiu-jítsu faixa preta. E agora também, um dos meus sonhos é abrir um projeto social, que já está se realizando. No instituto que estamos abrindo para crianças carentes, vamos poder ajudar os jovens com aulas de futebol, jiu-jítsu e um acompanhamento com uma psicóloga para trabalhar o emocional dessas crianças.

(Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

O jiu-jítsu não é um esporte olímpico, você já pensou em focar em outra modalidade, como o judô, para participar das Olímpiadas?

Nunca pensei, mas estão falando por aí que o jiu-jítsu vai entrar nas Olimpíadas e eu espero que isso aconteça. Então quando for mais velha, tenho esse sonho de participar de uma Olimpíadas sim. Se Deus quiser vai dar tudo certo. 

De todas as suas conquistas, qual a mais especial para você?

Todas tem um pedacinho no meu coração, mas a mais especial foi a desse ano, que pude viajar com os meus professores e com minha amiga Sofia. A gente foi para Abu Dhabi e me consagrei bicampeã mundial.

Qual o papel dos seus pais na sua vida tão dedicada ao jiu-jítsu?

Meu pai me acompanha em todas as viagens, até hoje ele nunca faltou em nenhuma luta minha. Um pai é fundamental, é aquela pessoa que te apoia quando você precisa e te dá um conselho. Os pais em si são muito importantes. Meus pais me apoiam muito e isso é muito bom para mim, fico muito feliz.

De onde surgiu o apelido “Pocahontas”?

Foi um apelido que o meu mestre Sapo (Rafael Natal) me deu. Eu doei meu cabelo e ele era bem grande. E esse apelido surgiu por causa do meu cabelo e por que a maioria das pessoas falam que pareço com a Pocahontas. Inclusive a gente comprou uma bonequinha dela e toda luta agora vou levá-la. Vai ser meu amuleto de sorte.

Como você faz para conciliar seus treinos e torneios com a escola?

A escola me apoia muito, é muito acolhedora. Eles sabem que viajo muito. Igual nessa viagem que fiz para Abu Dhabi e para Irlanda, perdi algumas provas, mas no final do ano eles repetem a prova para mim, o que me ajuda muito.

Qual a sensação de poder ajudar outras crianças com o Instituto Alice Pocahontas?

É um dos meus sonhos de criança, né? Ter um instituto assim. Esse projeto é voltado para as crianças carentes. Além da prática de esportes e acompanhamentos, teremos a academia para a terceira idade.

(Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Você já se sentiu subestimada por ser uma mulher no jiu-jítsu?

Infelizmente sim, já fui até prejudicada por isso. Tivemos um campeonato em que ganhei de uma menina, mas aconteceu alguma coisa com ela. Nisso, as pessoas ficaram falando que dei um golpe ilegal e começaram a me xingar e realmente não gostei da situação. Outra coisa que acontece é que, até com as adultas, nós mulheres sofremos muitas diferenças para os homens. O jiu-jítsu dá premiações, mas os homens, por exemplo, se ganham R$ 1.200 em uma luta, as mulheres ganham R$ 800. Existem campeonatos somente de homens, mas não tem disputas voltadas só para as mulheres.

Você pretende continuar lutando na sua fase adolescente e adulta?

Claro, vou continuar lutando até eu não aguentar mais. Sempre pensei só no jiu-jítsu e esse é meu foco.

*Estagiário, sob supervisão do editor Angel Drumond

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