Murer faz número de jovens no salto com vara se multiplicar pelo Brasil

Estadão Conteúdo
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10/07/2016 às 10:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:14
 (Luiz Prado)

(Luiz Prado)

A estudante Maria Clara Teixeira tem uma resposta incomum para a pergunta sobre o futuro, o tradicional "o que você quer ser quando crescer?" Depois de um sorriso leve e encabulado, a adolescente de 15 anos diz: "Quero ser como a Fabiana Murer".

A resposta não é tão específica quanto parece. No Troféu Brasil de Atletismo, o salto com vara, a modalidade de Murer, teve o recorde de 25 meninas inscritas na fase classificatória. Nos clubes, o movimento é o mesmo. "Está acontecendo no salto com vara o que houve com o Guga no tênis alguns anos atrás", opina Antonio Carlos Gomes, superintendente de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Atletismo.

Maria Clara é uma das dez meninas entre 13 e 18 anos do Instituto Elisângela Maria Adriana (IEMA), núcleo de iniciação esportiva do Centro de Treinamento da BM&F Bovespa. Depois de experimentar dez modalidades diferentes, ela se encontrou no salto com vara.

Hoje, conta que se sente motivada por treinar diariamente com a própria Fabiana, no mesmo local. "A inspiração vem das conquistas dela. Ela sempre fala com a gente, é bastante acessível", conta Nicole Caroline de Lima Barbosa, uma das atletas do Troféu Brasil e que tem contato diário com a primeira brasileira campeã mundial de salto com vara.

Fabiana treina no mesmo espaço físico das novatas. O Estado acompanhou as atividades da quinta-feira em São Caetano do Sul. Como diz Nicole, ela é uma campeã acessível, que conversa, dá risada e troca ideias com as meninas. Naturalmente. Volta e meia, dá uma olhadinha e uma dica.

Aí, as promessas vão ao céu. Literalmente. "Quando eu assistia na tevê, ela parecia de outro mundo. Agora tenho a chance de treinar com ela, com os mesmos equipamentos. Ela não é nariz empinado", diz a atleta Ana Carolina Dias, de 18 anos.

A leitura sugere que a proximidade diária com Fabiana e a atenção inesperada do ídolo são fundamentais para a formação de novas atletas. Não é só isso. Na Sociedade Ginástica de Porto Alegre (Sogipa), no Rio Grande do Sul, dobrou o número de saltadoras desde que Murer participou de dois torneios na região no ano passado: a Copa Gaúcha e o Campeonato Estadual de Atletismo. O número de atletas passou de oito para 19 em apenas um ano. A realidade da modalidade é essa mesma e envolve números diminutos, não é possível falar em dezenas.

Na opinião de José Haroldo, treinador chefe de atletismo da Sogipa, a figura de Fabiana Murer também explica outro fenômeno recente: a supremacia feminina nas categorias de base. No clube do Sul do País são apenas 11 meninos. "O ídolo arrasta. O exemplo encoraja. Quando ela vem aqui e conta sua história vencedora, as meninas ganham confiança para fazer também", explica.

No Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, órgão da Secretaria de Esportes da Prefeitura de São Paulo, a proporção é de 70% de meninas e 30% de meninos na categoria sub-16. De novo, os números são modestos: dos dez atletas são sete meninas.

ÍNDICE - A confederação também deu um empurrãozinho para a popularização da modalidade. Quase literal. No Troféu Brasil, a entidade diminuiu o índice de 3,30 m para 2,90 m. A ideia era aumentar a participação dos atletas. A medida deu certo com as meninas, mas não com os meninos, que continuaram sem fase preliminar por causa do baixo número de atletas. Mesmo com esse porém, a conclusão é a mesma: mais meninas estão praticando o salto com vara.

Elson Miranda, técnico de Fabiana Murer no salto com vara, considera positivo o aumento do número de atletas, mas ressalta a necessidade de melhoria do nível técnico. "Existe um gap entre o resultado da Fabiana, da Joana (Joana Ribeiro Costa, segunda colocada e que conquistou o índice olímpico) e as marcas das outras atletas. Precisamos trabalhar para esse nível subir, e o índice vai subir também", diz o técnico Elson Miranda.

Embora o masculino esteja passos atrás em participação, também produz bons resultados. Thiago Braz terminou 2015 entre os quatro melhores do mundo, com 5,92m, recorde sul-americano em pista aberta, mas não chegou às finais do Pan e do Mundial.

No começo desta temporada, em Berlim, o brasileiro deu a volta por cima. Superou o atual campeão olímpico e recordista mundial da prova em pista coberta, o francês Renaud Lavillenie, e ainda bateu o seu recorde sul-americano com 5,93m, melhor marca de sua carreira. Thiago vai para os Jogos do Rio.
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