"O Minas teve um investimento bem menor, mas pode aprontar", diz Jaqueline

Felippe Drummond Neto
Hoje em Dia - Belo Horizonte
18/01/2015 às 11:37.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:42
 (André Brant)

(André Brant)

Contratada pelo Minas com a Superliga Feminina de vôlei em andamento, a ponteira Jaqueline, 31 anos, em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, falou um pouco sobre como anda sua vida profissional e também fora das quadras em Belo Horizonte.   Bicampeã olímpica pela seleção brasileira, a jogadora, que estava longe das quadras desde a metade de 2013, período em que deixou o Osasco para se tornar mãe, espera ajudar o clube da Rua da Bahia a surpreender na competição. Na conversa, ela revela também o desejo de ajudar o clube mineiro a trazer o Marido Murilo na próxima temporada.   Com apenas quase dois meses em BH, você já se adaptou ao modo de vida mineiro?   Já me adaptei bem a cidade, conheci muita gente. O pessoal aqui é muito receptivo. Todo mundo me cumprimenta, conversa comigo. Não tive dificuldade.   Como é a Jaqueline fora da quadra? O que você faz para relaxar?   Minha vida mudou muito depois do nascimento do Arthur. E como ele ainda está muito pequeno (um ano e um mês), saio do treino e corro pra casa pra ficar com ele. Vou para a piscina, o parquinho, mas o tempo todo com ele.   Como é a sua alimentação? Tem algum prato preferido em Minas?   Gosto muito da galinhada daqui. Já comi várias vezes e é um prato que me fascina. O pão de queijo também é muito bom, e não dá pra comparar com o de nenhum outro lugar. O tempero mineiro é muito gostoso.   Depois de sua chegada o desempenho do Minas melhorou bastante. O mesmo aconteceu com as jogadoras mais jovens. Qual o segredo?   Tudo é a base do que fazemos nos treinos. Acho que a minha presença ajuda muito, porque elas confiam que vou ajudar, seja passando ou atacando. Tento fazer o máximo para ajudá-las. A Naiane está surpreendendo, jogando muito bem, e tem muito a dar para o vôlei brasileiro. A Carlinha também está em ótima fase. Estou aqui para isso, para que elas possam me sugar ao máximo, para que elas aprendam comigo e aproveitem. Isso é mais uma contribuição que temos que dar para o vôlei, ser um exemplo.   Qual o real objetivo do Minas nesta temporada?   Ainda temos uma certa dificuldade por conta de entrosamento. Eu, por exemplo, tenho menos de dois meses treinando com as meninas, e normalmente este entrosamento demora de quatro a cinco meses. Estamos evoluindo muito e nossas últimas partidas mostram isso. Este grupo ainda tem muito para crescer e podemos surpreender. Comparando com outras equipes como o Rio, Sesi, Osasco e Praia, o Minas teve um investimento bem menor, mas podemos aprontar.   Você já trabalhou e conhece bem os dois principais técnicos do país, Bernardinho e Zé Roberto. Com qual se identifica mais?   São dois treinadores completamente diferentes fora da quadra, mas dentro dela ambos são muito competentes. A forma como eles conduzem os treinos não é tão diferente, e ambos sabem trabalhar cada jogadora de forma individual. Eu mesma, quando fiz minha cirurgia no joelho, fui chamada pelo Bernardo para jogar no Rio, e me deu toda a confiança. Por incrível que pareça, o Zé Roberto é bem mais agitado. Mas os dois são maravilhosos treinadores, tanto que sempre os vemos revelando jogadoras e as ajudando a crescer no esporte. Não é à toa que os dois treinadores são multicampeões.   No ano passado, o Zé Roberto te convocou para a seleção mesmo você tendo ficado mais de um ano sem jogar e disse que sempre vai confiar em você. Como é a sua relação com ele?    Comecei a jogar com ele. Ele que me levou para o time adulto do Osasco quando eu ainda tinha 17 anos, me chamou para a seleção quando eu estava voltando da contusão no joelho. Sempre me estendeu a mão, mesmo nos momentos mais difíceis da minha carreira. Lógico que não temos só coisas boas, já tivemos nossos momentos ruins. Mas ele sempre confiou em mim, como nesta volta da gravidez, e eu pude retribuir da melhor forma. Agradeço a Deus por botar pessoas como ele na minha vida.   No Minas você é treinada pele Marco Queiroga, que está apenas em sua segunda temporada como técnico de um time adulto. Como você a ajuda?   Tento ajudar todos os meus treinadores. Tem momentos que o Queiroga procura alguma informação das jogadoras no meio da partida e eu o ajudo, assim como ele também sempre me passa algo. É um treinador que está começando, porque na última temporada, por mais que ele também tenha dirigido o Minas, era uma equipe só com juvenis. Então é uma responsabilidade grande, mas que ele está sabendo administrar muito bem.   Como você encaram a pressão por resultados da seleção em 2016? O que pesa mais: a cobrança pela medalha de ouro ou o apoio da torcida?   Sempre jogamos com cobrança. Em 2008 chegamos à olimpíada de Pequim tachadas de “as amarelonas” e mostramos o contrário. Em 2012 foi a mesma coisa, começamos a competição muito mal, todo mundo já tinha desistido da nossa equipe e demos a volta por cima. Ainda temos tempo para evoluir, mas já estamos indo para nossa terceira olimpíada, e sabemos conviver com essa pressão.   Você é vista por muitos como a melhor jogadora de vôlei do mundo. Como vê isso?   Tenho uma função na equipe que faço um pouco de tudo. Isso faz com que eu me destaque. Quando não estou bem em um fundamento consigo suprir em outros. Sou uma jogadora que saca bem, ataca bem, passa bem e ainda bloqueio. Não é que eu seja a melhor do mundo, mas eu faço tantas funções na equipe que as vezes chamo mais a atenção. Para o futuro precisamos de outras jogadoras que façam isso também. Para ser diferenciada você tem que fazer de tudo na quadra. Quando eu era mais nova, gostava só de atacar e aprendi ao longo da carreira, principalmente com a minha lesão, que tinha treinar outros fundamentos como passar melhor. Me espelhei na Virna e na Fabizinha, e espero ser o espelho para as jogadoras mais novas também.   Porque o Brasil tem tanta dificuldade para conquistar o Mundial?   É engraçado que tudo acontece igualzinho. Em 2008, chegamos na Olimpíada tendo perdido o Mundial e fomos campeãs. Em 2012, a mesma coisa, e agora novamente perdemos o mundial e vamos ganhar a olimpíada. Temos que pensar positivo.   O que você pensa sobre o sistema de pontuação de atletas da CBV?   Só aqui no Brasil que existe este critério que acaba prejudicando muitos atletas que acabam tendo que sair do Brasil. É uma invenção, que mais prejudica do que ajuda os jogadores. Ficamos dependentes disso e não acho certo. Nesta temporada senti na pele isso. Não imaginava que um dia isso pudesse acontecer comigo. Ainda mais dentro do meu país, que já ajudei tanto. É uma vergonha ficar desempregada no seu país e ser muito valorizada fora daqui. Não recebi ajuda de ninguém, a não ser do Luiz Gustavo (Presidente do Minas) e da Patrícia Axer (supervisora do Minas), e o Pinheiros que também me procurou. Hoje estou muito feliz aqui no Minas. Muito mais do que eu imaginava que poderia ser. Não tenho nem explicações, era mesmo para eu estar aqui. Quem sabe não trago o Murilo (jogador e marido) , na próxima temporada (risos).   Como que você vê essa crise da CBV, com vários escândalos envolvendo o nome da entidade?   Não podemos confundir quem está cuidando da CBV hoje. Temos que falar da presidência anterior (Ary Graça). Infelizmente, tudo isso que foi descoberto é péssimo para a imagem do Brasil e do vôlei. Estamos lutando para que tudo seja resolvido da forma correta e os responsáveis paguem por isso.   O Murilo é um dos líderes entre os jogadores contra estes escândalos. Você se sente pressionada para também brigar pela causa?   Não me sinto pressionada em nada. Acho que o que ele, com outros jogadores, como o Gustavo e o Bruninho, estão sendo muito corajosos e liderando um trabalho muito legal. Eles tomaram a frente de um problema que de certa forma atinge a todos os jogadores e clubes, e estão fazendo tudo para não prejudicar o futuro do nosso esporte. Acredito que eles estão fazendo a coisa certa, e com certeza nós mulheres estamos ajudando no que eles precisarem.   Você brincou sobre trazer o Murilo para o Minas. Existe mesmo essa possibilidade?   Acho que pode acontecer. Eu já falei que não quero ficar longe dele. Mas não podemos ficar parados. Disse ao Murilo que aqui tem uma estrutura impressionante. Eles fazem um trabalho de base muito bom em todos os esportes. O convívio aqui é muito bom. Falamos sobre a possibilidade de ficar juntos, mas não depende apenas da nossa vontade, pois isso envolve patrocinadores, a própria vontade do clube de contar com nós dois. Já estamos recebendo algumas propostas de times de fora do país, mas vamos esperar a temporada acabar para resolvermos nosso futuro.   Como vocês estão fazendo com o Arthur (filho)?   Nós nos programamos de acordo com o calendário de jogos das equipes. Quando eu vou jogar em São Paulo, o levo, pois ele tem casa lá. Mas não tem uma data fixa.   Como é ser casada com alguém que tem a mesma profissão e rotina?    Não acho que tenha um lado ruim. Estamos juntos desde quando eu tinha 14 anos e ele 17. Crescemos e evoluímos juntos em tudo. Hoje, somos jogadores quase iguais, inclusive temos a mesma função dentro de quadra. Mas isso é muito bom, já que ele é uma pessoa na qual eu me espelho e que me apoia em todos os momentos. Infelizmente, ele está passando por um momento difícil na carreira com as lesões, mas eu já passei por isso também e tenho certeza que ele dará a volta por cima. Mesmo jogando machucado, ele foi eleito o jogador da Olimpíada e do Mundial. Enfim, fico muito feliz de ter um marido como ele, e orgulhosa de ele ser pai do meu filho.   Atletas de alto rendimento costumam ser muito competitivos. Como se dá isso em seu casamento?   Não competimos em nada. Somos muito diferentes, ele gosta de muita coisa que eu não gosto, como rock e filmes, mas não competimos em nada. Aliás, a única competição que tenho é contra o videogame dele e nessa eu sempre perco.   Você nunca escondeu que tem vontade de trabalhar no mundo da moda. Já fez trabalhos como modelos e disse que sonha montar uma linha de cosméticos. Atualmente, como estão estes trabalhos fora da quadra?   Mantenho os mesmos planos, só não gosto de ficar falando muito porque meu foco é na jogadora. Mas eu gosto muito do lado da moda, da estética. Já fui na Fashion Week para conhecer os bastidores de como as coisas funcionam. Aos poucos, vou conhecendo melhor este mundo que acho que é o meu futuro quando me aposentar. Não adianta eu abrir um negócio agora se eu não vou poder cuidar dele.

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