‘O surfe poderia estar na Olimpíada há muito tempo’, diz campeão mundial Mineirinho

Cristiano Martins
csmartins@hojeemdia.com.br
21/07/2017 às 21:53.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:42
 (Ryan Miller/Red Bull Content Pool/Divulgação)

(Ryan Miller/Red Bull Content Pool/Divulgação)

Ele já tem nome e apelido gravados na história do surfe. Foi o primeiro brasileiro a ocupar o topo do ranking mundial, em 2011, e o segundo a conquistar o título da WSL (World Surf League), há dois anos. É também o representante do país há mais tempo na elite internacional (desde 2006, quando tinha apenas 18 anos) e o único a levar a bandeira verde e amarela ao lugar mais alto do pódio no lendário Pipe Masters (Havaí), principal etapa do circuito profissional.

Adriano "Mineirinho" de Souza não esconde o desejo de tornar-se o primeiro bicampeão mundial do Brasil. Desde o fim do ano passado, contudo, o surfista de 30 anos passou a ter também outro objetivo em mente, após a inclusão da modalidade nos Jogos Olímpicos, a partir da edição de Tóquio.

O “capitão” da Brazilian Storm (Tempestade Brasileira) conversou com o Hoje em Dia diretamente da África do Sul, onde participou do torneio de Jeffreys Bay, encerrado na última quinta-feira (20). Atualmente, Mineirinho aparece em quinto lugar na corrida pelo título mundial de 2017, restando cinco etapas a serem disputadas.

Depois de um ano e cinco meses, você voltou a ganhar uma etapa do Circuito Mundial, em maio, no Rio de Janeiro. Esse jejum já estava ‘entalado’?

Foi muito bom, tirou um peso enorme das minhas costas. Eu não vencia desde a conquista do título em 2015 e precisava ganhar para mostrar que ainda estou na briga entre os primeiros. Já havia vencido a etapa brasileira em 2011 (na Barra da Tijuca), mas esta agora teve um sabor ainda mais especial, por ter sido disputada no ‘Maracanã’ do surfe brasileiro (Saquarema), um lugar que gosto muito.

A vitória te colocou perto dos líderes, em um ranking "embolado". Se coloca como candidato ao título?

Sim, entrei de vez na briga, e estou trabalhando para isso. Eu nunca treinei tanto quanto nos últimos meses. Venho me preparando desde o fim da temporada passada, e tenho o objetivo fixo de chegar à etapa final (no Havaí, em dezembro) disputando o título contra quem quer que seja.

  

Como a inclusão do surfe nos Jogos Olímpicos repercutiu entre os atletas? O que esperar do primeiro ‘teste’ em 2020?

Todo mundo ficou amarradão. Antes, o surfista nunca tinha sentido essa expectativa para competir nos Jogos. Chegava a época da Olimpíada, e todo mundo virava apenas espectador. Agora, poderemos representar o nosso país, e isso é uma coisa que não acontece no surfe profissional, então é outro motivo para deixar todos nós bastante empolgados. Não será um teste. Vai ficar a certeza de que o surfe poderia fazer parte dos Jogos Olímpicos há muito mais tempo.

Poderemos representar o nosso país. Isso não acontece no surfe profissional, então é outro motivo para nos deixar empolgados [...] Sem contar que todo mundo vai querer colocar o nome na história como primeiro campeão olímpico”

Estar na Olimpíada de Tóquio já virou uma meta pessoal para você? Quem serão os principais concorrentes pela medalha?

Sim, se tornou um objetivo importante. Não só para mim, como para todo mundo que disputa o Circuito Mundial. Nenhum surfista nunca tinha se imaginado ganhando uma medalha olímpica, e agora teremos três para disputar. Sem contar que todo mundo quer colocar o próprio nome na história como o primeiro campeão olímpico do surfe. Sobre os concorrentes, ainda é muito cedo para dizer, mas dá para ter uma noção levando em conta os países dos atletas nas primeiras posições do ranking (atualmente, Austrália, Estados Unidos, África do Sul e Brasil).

Qual é a sua opinião sobre o possível uso de piscinas artificiais em competições futuras, incluindo a Olimpíada, como já vem sendo cogitado?

Estou aberto a novidades. Se for legal, por que não? Acredito que só saberemos a verdade sobre o assunto no dia que rolar alguma etapa nessas condições.Kirstin Scholtz/WSL/Divulgação

Mineirinho conquistou título mundial de 2015 ao faturar lendária etapa de Pipeline, no Havaí

Você disputou etapas e títulos com lendas como Kelly Slater e Mick Fanning, além de campeões como o próprio Medina, entre outros. Qual deles mais te desafia e motiva ao entrar na água?

Ah, sem dúvida, é o Kelly. Nós sempre tivemos essa rivalidade dentro da água. Ele sempre foi uma grande referência, por ter sido o melhor surfista da nossa geração, talvez até de todos os tempos. Me sinto muito realizado em saber que fui uma bela ‘pedra no sapato’, ganhando dele em quase todos os nossos confrontos diretos.

O Slater já tem 45 anos e vem adiando a aposentadoria, para citar apenas um exemplo. Existe idade máxima para surfar em alto nível?

O Kelly é a principal referência também nesse aspecto. É claro que, com surfistas cada vez mais jovens na elite, os veteranos talvez não consigam mais competir no mesmo nível depois de um certo tempo. Mas isso vai de cada um. Eu não sei até quando vou competir, só sei que quero ser campeão de novo.

Com surfistas cada vez mais jovens na elite, os veteranos talvez não consigam competir no mesmo nível depois de um tempo. Mas isso vai de cada um. Só sei que quero ser campeão de novo”

“Quem é do mar não enjoa”, segundo Martinho da Vila. Seus planos envolvem morar perto da praia e continuar surfando após a aposentadoria? Ou gostaria de viver outro tipo de experiência longe do litoral?

Acabei de construir minha casa ali na Praia do Campeche (Florianópolis), ajudo projetos sociais dando aulas de surfe para crianças e adolescentes mais carentes, e também faço alguns investimentos. Graças à internet, dá para fazer tudo sentado na areia (risos), então não penso em sair de perto do mar, não.

Por fim, conte para os seus fãs de Minas Gerais a origem do apelido “Mineirinho”. Já precisou explicar quantas vezes que não nasceu aqui, mas, sim, em São Paulo?

Hoje em dia, principalmente depois do título mundial, a maioria já pegou a ideia do apelido e parou de ter essa dúvida. Foi por causa do meu irmão mais velho Ângelo, que é tão quieto quanto eu. Os amigos colocaram o apelido de Mineiro nele por conta disso, e, ao me conhecerem, me batizaram de Mineirinho. O resto é história!

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