O título do Cruzeiro de tetracampeão da Copa do Brasil em 2003 contado por Alex

Alexandre Simões
asimoes@hojeemdia.com.br
28/09/2017 às 00:28.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:41
 (Arquivo/Hoje em Dia)

(Arquivo/Hoje em Dia)

Na conquista do hexacampeonato da Copa do Brasil pelo Cruzeiro, o Hoje em Dia relembra os cinco títulos anteriores do clube no relato de campeões. Confira o trecho do livro Rei de Copas, publicado em 2009, com o depoimento de Alex sobre a campanha de 2003.

COPA DO BRASIL 2003
Por Alex

Depois de momentos difíceis no próprio Cruzeiro, em 2001 e 2002, Alex deu mais que a volta por cima em 2003. Com uma temporada perfeita, maestro de um time inesquecível, ele colocou de vez seu nome na galeria de ídolos cruzeirenses, dividindo espaço com gente como Niginho, Tostão, Palhinha, Dida e Sorín.

E ninguém mais poderia contar o tetracampeonato da Copa do Brasil, alcançado em 2003, que Alex, que foi o autor da obra prima daquela competição, um gol de letra, na partida de ida d final, em pleno Maracanã.

Nesta entrevista, diretamente de Istambul, onde morava desde 2004, quando deixou a Toca da Raposa para defender o Fenerbahce, da Turquia, o eterno camisa 10 cruzeirense falou sobre a trajetória naquela Copa do Brasil e relatou detalhes da conquista.

Depois de passar com facilidade por Rio Branco (ES), Corinthians (AL) e Vila Nova (GO), a primeira grande dificuldade que o time enfrentou foi diante do Vasco, nas quartas-de-final. Depois de vencer por 2 a 1, no Mineirão, num dia em que poderia ter goleado, no jogo de São Januário o Cruzeiro teve o Augusto Recife expulso. No final, com o 1 a 1, um gol do Vasco levaria a decisão para os pênaltis. Você, que tinha marcado o gol, saiu para a entrada do Mota. Você chegou a temer pela perda da vaga na semifinal?
Alex: No jogo do Mineirão e no primeiro tempo em São Januário fomos muito superiores. Em Belo Horizonte, poderíamos ter definido a nossa classificação, e no Rio de Janeiro, no primeiro tempo, perdemos muitos gols. estivemos sempre melhores, mas em futebol temos que definir as coisas quando elas acontecem. Não fiquei com medo de perder a vaga, mas apreensivo por que tivemos muitas chances e não definimos. Prefiro sempre estar em campo, principalmente em momentos decisivos como aqueles de São Januário.

Durante a competição o time perdeu dois jogadores com contusões sérias no joelho, o zagueiro Marcelo Batatais e o armador Martinez. Como isso refletiu no grupo. Cria uma insegurança no jogador ver companheiros sofrendo lesões sérias como foram as deles?
Alex: Tínhamos um grupo que se dava muito bem. Ele tinha começado a se formar no ano anterior. Então, quando aconteceram situações como aquelas, realmente nos deixaram chateados. Mas tínhamos que entender e seguir nosso caminho. Basta lembrar que o título mineiro desse ano de 2003 todos ofereceram ao Marcelo Batatais. Esperamos nunca acontecer, mas sabemos que estamos sujeitos a isso.

Nas semifinais, o Cruzeiro encarou um Goiás que fazia campanha ruim no Brasileiro, pois terminou o turno na lanterna, mas que tinha uma grande equipe, com Fabão, Josué, Danilo, Dimba, Araújo. Os dois jogos foram muito duros, principalmente no Mineirão, quando eles saíram na frente do placar. Quando o Augusto Recife, que é um jogador que marca poucos gols, fez o da vitória e da classificação para a final, encobrindo o Harlei, de fora da área, você acha que era um sinal de que o título estava próximo?
Alex: Era um Goiás se recuperando. Um meio-campo muito forte. No Mineirão, eles fizeram um sistema de marcação homem a homem o campo todo. Eles não se preocuparam em jogar futebol. Somente marcar e esperar um erro nosso. Não fizemos um bom primeiro tempo, mas depois nos ajeitamos e chegamos com méritos na final. O gol do Recife foi muito bonito e coroou nossa chegada na decisão.

Qual é a sensação de marcar um gol de letra, no Maracanã, numa final contra o Flamengo, com quase 80 mil pessoas torcendo contra?
Alex: Sensação indescritível. Estávamos bem no jogo, nos movimentávamos bem, e fomos melhores sempre. Aquele gol me emociona até hoje.

O Deivid sempre fazia aquele tipo de jogada. Naquele lance especificamente, você sabia que ele cruzaria a bola rasteira para você? A letra foi um enfeite ou um recurso, pois a bola tinha passado um pouco do ponto da finalização?
Alex: Ele é muito inteligente. Mas se perceber vai ver que fiz uma finta antes de me posicionar ali. O Deivid cruzou muito forte, e usei a letra como recurso. qualquer outra coisa que tentasse a bola tomaria um rumo diferente. Ela veio forte e atrás de mim. Fui feliz e consegui fazer o gol.

Você era o maestro de um meio-de-campo formado por garotos naquela reta final de Copa do Brasil, pois o Maldonado e o Zinho não estavam inscritos e o Martinez tinha machucado. Dava trabalho controlar Augusto Recife, Jardel, Wendel, Márcio e Sandro? Como foram as reações dos meninos?
Alex: Rapaziada boa de bola e boa de cabeça. Quem dava trabalho era o Marcinho. Muito bom jogador, mas com uma personalidade muito difícil. Me deram a missão de dividir o quarto com ele e tentar passar situações positivas para a cabeça dele. Ele só precisava disso, por que futebol joga bem demais. Ele não sabia ouvir. O Vanderlei, Cris, Aristizábal, Paulo Miranda e eu tivemos muitas conversas com ele. O Sandro e o Jardel eram soldados prontos para tudo. O Wendel e o Recife também eram soldados prontos para tudo, mas eram mais lapidados, tinham mais tempo e vivência. O mais importante é que eles queriam crescer, aprender, ganhar, e sabiam ouvir. Eram importantíssimos junto com os demais meninos.

Aquele gol do Fernando Baiano, na partida de ida da final, aos 48 minutos do segundo tempo, chegou a dar uma baixada de guarda no grupo?
Alex: Em momento algum. O que queríamos era fazer gol no Maracanã. É claro que logo após a partida todos lamentam a perda de uma vantagem maior. Mas depois, com a cabeça mais fria, você consegue ver que o primeiro objetivo que era obter a vantagem tinha acontecido.

Naquele jogo do Maracanã, o Edu Dracena e o Thiago receberam o terceiro cartão amarelo. No jogo de volta da final a zaga foi formada pelo Luisão, que estava muito tempo parado, por contusão, e o Gladstone, que nunca tinha jogado no time principal. Chegou a dar insegurança?
Alex: Não tínhamos insegurança. Confiávamos muito no nosso trabalho e na qualidade do elenco. O Vanderlei, na segunda-feira, chamou o Aristizabal e eu e disse que colocaria o Gladstone no jogo. Que ele acreditava ser melhor do que improvisar. O Luisão, mesmo parado depois de muito tempo, tinha dado a certeza de que jogaria. O menino tinha qualidade. Tínhamos que somente passar confiança para ele. Nosso meio-campo era muito forte e a bola chegava sempre mastigada atrás. Isso facilitaria o trabalho do Gladstone. O que passamos para ele é que ali nascia a chance que todos esperam anos. Ele podia estrear sendo campeão. Passamos a confiança e ele mostrou sua qualidade.Arquivo/Hoje em DiaApós a vitória por 3 a 1 sobre o Flamengo, na partida de volta da final, no Mineirão, jogadores fazem a festa com a taça do tetracampeonato da Copa do Brasil, um dos títulos da Tríplice Coroa de 2003


Com 28 minutos do segundo jogo, no Mineirão, o Cruzeiro já vencia por 3 a 0, com três gols de cabeça em todos com assistências suas. Em qual momento daquele jogo você percebeu que o título estava ganho?
Alex: Para mim já estava ganho no Maracanã. Aquele Flamengo era tipicamente uma equipe de contra-ataques. As bolas passavam pelo Felipe e o Edílson puxava os contra-ataques. O Recife dominava o Felipe, ele era obrigado a sempre driblar, até mesmo por que não tem como característica jogar de primeira. A principal jogada deles não aconteceria. E nós não mudaríamos nossa forma de atuar. Ai contamos com a sorte de abrir o placar na primeira bola na área. Quando o Deivid fez 1 a x0, a imagem de campeão só aumentou em minha cabeça.

Nunca uma equipe tinha vencido a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro no mesmo ano. Qual foi o segredo para vocês chegarem às duas conquistas. A vaga na Libertadores do ano seguinte provoca mesmo acomodação?
Alex: O segredo era fazer história. Ouvíamos muito dentro da Toca da Raposa que o Cruzeiro sempre tinha problemas no Campeonato Brasileiro. Que era uma equipe que sempre chegava perto mas não levava. A torcida do Atlético também nos ajudou muito, por que íamos para a rua e eles sempre diziam que o Cruzeiro tinha ganho todos os títulos, mas não o Brasileirão, que eles já tinham conquistado. E nós queríamos eternidade, essa palavra usávamos sempre. E conseguimos! Nosso time tinha muita qualidade técnica e física, mas mentalmente éramos fortíssimos. Esse time de 2003 era fantástico em todos os sentidos. Todas as qualidades que se exige de uma equipe em qualquer esporte coletivo, essa equipe possuía. Tivemos vários problemas, e poucos vazaram. Tivemos alguns "incêndios" a serem apagados, mas sempre fizemos juntos e bem. Essa era nossa motivação. Mostrar para nós mesmos que éramos o melhor time do Brasil sem deixar duvidas. E conseguimos! Ninguém que acompanhe futebol e principalmente goste do Cruzeiro conseguira achar um senão a respeito desse time. Isso é o que me deixa mais feliz, mesmo depois de tanto tempo.Editoria de Arte 


 

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