Ouro no Pan, Luciano Corrêa fala do sonho olímpico e revela planos

Felippe Drummond Neto e Wallace Graciano - Hoje em Dia
Hoje em Dia - Belo Horizonte
26/07/2015 às 09:12.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:05
 (MINAS TENIS CLUBE/DIVULGAÇÃO)

(MINAS TENIS CLUBE/DIVULGAÇÃO)

Campeão mundial em 2007 e bicampeão Pan-Americano (2011 e 2015), o judoca Luciano Corrêa se prepara para se aposentar após a Olimpíada do Rio. Antes, o atleta de 32 anos quer desfrutar das últimas competições, a começar pelo Mundial do Cazaquistão, no fim de agosto. Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Luciano falou, entre outros assuntos, do sonho pela medalha na Olimpíada do Rio, único título que ainda não conquistou na carreira.
 
Qual é o significado deste ouro no Pan?

Essa medalha tem vários significados. O primeiro é que por ser meu último Pan-americano, torna-a ainda mais especial por encerrar esse ciclo. Segundo, mostra que minha carreira tem uma grande longevidade, que fiz tudo certo. E o terceiro é que traz alegria para os meninos do meu projeto social, onde eu busco energia.
 
Essa conquista aumenta a confiança para 2016?
É claro que a medalha de ouro aumenta minha confiança. Mas também não dá pra ficar parado e esquecer de trabalhar duro. Sei que as próximas competições estão chegando e tenho que ir bem nelas para garantir minha classificação para a Olimpíada do Rio. Tanto que já estou trabalhando para daqui um mês disputar o Campeonato Mundial que vale muitos pontos para o ranking.
 
Quais os prós e contras de disputar uma Olimpíada em casa?

Acho que vai de cada atleta. Pra mim é sensacional ter a oportunidade de disputar uma Olimpíada em casa, com o apoio da torcida. Não somos nós que vamos enfrentar a pressão da torcida, são os adversários. Além disso, já lutei algumas vezes em casa e fui bem na maioria das vezes. No Pan do Rio em 2007 fui medalha de bronze, e no mesmo ano fui campeão mundial no Rio, em 2007. Só em 2013, também no Rio, que não consegui conquistar um pódio, então acho que com a torcida do meu lado eu luto melhor.
 
O resultado do judô brasileiro no Pan de Toronto serve de termômetro para a Olimpíada do Rio?
Guardada as devidas proporções, eu acho que serve, sim. Foi uma competição importante e que teve um bom nível. Mas, o mais importante foi testar os judocas brasileiros com a pressão para conquistar medalhas, e a maioria respondeu bem. Sabemos que em todas as categorias o Brasil tem pelo menos dois atletas bem ranqueados, e com chance de representar o país na Olimpíada, e isso faz com que o judoca que está na frente dessa “corrida” não se descuide e se mantenha na melhor forma possível até a Olimpíada.
 
Existe uma frustração por ainda não ter uma medalha olímpica?

É o único título que falta na minha carreira, mas eu tento não pensar nisso no meu dia a dia, porque gera uma ansiedade e uma pressão a mais. Eu tento olhar apenas para a próxima competição que terei, e nos treinamentos busco minimizar todos os erros que cometo a cada luta. Se conseguir fazer isso, tenho certeza de que a medalha olímpica será consequência.
 
O que diferencia a Olimpíada das outras competições?
Acho que o principal é o ambiente. Uma Olimpíada é a junção de todas as modalidades. Além disso, gera uma ansiedade maior, e é o auge de qualquer atleta. O pessoal costuma falar que são quatro anos de preparação, mas na verdade é muito mais. Desde o início da carreira um atleta se prepara para chegar lá. Já participei de duas edições e é realmente diferente.
 
Porque no judô nem sempre os favoritos conseguem ganhar o ouro?
No judô ninguém ganha de véspera. Por isso, é comum os favoritos não conseguirem ganhar as principais competições. No meu caso, prefiro chegar sem ser considerado favorito, gosto de ir comendo pelas beiradas, e quando todo mundo assustar estarei no pódio.
 
O Grol (Henk Grol, da Holanda) está bem cotado para ir ao Rio. Você pensa em uma revanche em casa contra ele?
Como perdi para ele em Londres (2012) e Pequim (2008), escuto muitas pessoas falando sobre essa possibilidade. Mas eu não tenho esse sentimento de vingança. Meu foco é ganhar uma medalha olímpica, independente de lutar contra ele ou não.
 
Houve uma cobrança interna pelo resultado aquém do esperado no Pan?
Consideramos que o resultado foi positivo. Apesar da queda e de não ter atingido o objetivo proposto, pudemos ver que os outros países da América do Sul evoluíram muito e mesmo assim mantivemos o número de medalhas conquistadas em Guadalajara.
 
O judô brasileiro tem uma geração forte. O que dá para projetar para 2016?
Em Olimpíada é complicado apostar em um número de medalhas. Mas tenho certeza de que vamos ter um ótimo desempenho. Para comparar com o nosso desempenho quando sediamos as grandes competições. No Pan de 2007, também fomos segundo lugar, com quatro ouros, seis pratas e três bronzes.No Mundial de 2007, ficamos em segundo no quadro geral de medalhas, com três ouros e um bronze. Por fim, no Mundial de 2013, ficamos em quarto lugar, com um ouro, três pratas e dois bronzes. Isso mostra que podemos ir muito bem.
 
Qual o impacto que a boa organização da CBJ tem na vida de um atleta?
Hoje há uma parceria muito forte da CBJ com os clubes formadores de atletas e as federações, além desses treinamentos de campo que fazemos em vários países do mundo. Tudo isso nos ajuda a evoluir e nos dá conhecimento sobre os principais judocas mundo afora. Hoje somos considerados uma das principais potências na modalidade e isso é fruto de todo esse trabalho.
 
Por que os japoneses perderam a hegemonia na sua categoria e nos pesados?
Porque o esporte está evoluindo. Hoje quando você vai disputar uma grande competição, tem de 20 a 30 atletas com chances reais de alcançar o pódio. Então, não é que os japoneses estejam piorando, os outros países é que estão evoluindo muito. Mesmo assim, eles ainda são o principal país do judô, mas Brasil, França, Holanda e Rússia estão sempre incomodando.
 
Você vai se aposentar depois da Olimpíada do Rio? Como prepara a cabeça para isso?
Eu tento não pensar que minha aposentadoria está tão próxima. O que eu penso sempre é em dar tudo que eu tenho em cada uma dessas competições. Mas também não tem como ignorar; por isso, estou aproveitando cada momento. A vontade de lutar aumenta, o valor que se dá para as pequenas coisas, como as viagens e os treinos, só aumentam.
 
Como é o seu relacionamento com a Joana Maranhão (namorada e nadadora)? E como vocês fazem para driblar a distância e a incompatibilidade de agendas?
Nosso relacionamento é muito bom e acho que por sermos atletas de alto rendimento, ajuda ainda mais. Ela me dá alguns conselhos, sabe das dificuldades que nós atletas enfrentamos, e além disso dividimos os mesmos sonhos, que é uma medalha olímpica no Rio. Ficamos grande parte do tempo separados, já que treinamos em clubes diferentes e as competições de cada modalidade são quase sempre em datas diferentes, mas sabemos que faz parte deste momento de nossas vidas, e que no futuro será melhor.
 
Quando vocês vão aos mesmos lugares durante as competições, conseguem um tempo para se curtir?
Agora, no Pan de Toronto, não deu pra gente ficar junto nem um dia, porque assim que terminei de competir, no último dia do judô, já deixamos a vila no dia seguinte, e ela ainda estava no meio da competição.
 
Antes do Pan, ela divulgou um vídeo, no qual fazia críticas a políticos homofóbicos que se apoiam na religião. Como viu isso?
Acho que antes de sermos atletas, somos cidadãos brasileiros que têm liberdade para expor a opinião. A única coisa que eu não gosto é que as pessoas, cada vez menos, respeitam a opinião do próximo. E algumas pegaram pesado nas críticas a ela.
 
Como você viu a polêmica dos atletas batendo continência após conquistarem medalhas no Pan? Você foi um deles.
Não vejo motivo para isso ter virado polêmica, porque todos os atletas que prestaram continência são das forças armadas e têm orgulho de representar. Eu, por exemplo, sou terceiro sargento do exército brasileiro, já disputei alguns mundiais militares e, no momento em que vemos uma bandeira brasileira sendo hasteada, nós prestamos a continência.
 
Quais os benefícios em ser um atleta militar?
Tem vários benefícios. O programa de alto rendimento é muito bom, já que ele além de ser uma parceria com o COB, ele serve de apoio tanto para os atletas quanto para os clubes. O programa de captação de atletas foi feito para a disputa do Mundial militar de 2011, que foi no Brasil, e com o sucesso, foi mantido para 2016. Este ano, inclusive, terá os Jogos Mundiais Militares na Coreia do Sul, em outubro, e eu devo representar o país.
 
Fale um pouco sobre o seu projeto social...
Chama-se Associação Esportes Sem fronteiras. Temos duas unidades, uma aqui em Belo Horizonte e outra no interior de Alagoas. Em BH, nós realizamos nossas atividades na UFMG e na Escola Municipal Professora Eleonora Pieruccetti. Nós atendemos todos os alunos que fazem parte do programa da escola integrada, da Prefeitura de BH. Hoje temos apoio apenas da PBH e temos dificuldade de mantê-la.
 
Como é sua relação com as crianças?

No início eu queria fazer esse projeto para ajudar as crianças, mas acabou que elas me ajudam mais. Sempre que vou lá volto melhor, mais motivado e isso é sensacional.


“(O ouro olímpico) É o único título que falta na minha carreira, mas eu tento não pensar nisso no meu dia a dia, porque gera uma ansiedade e uma pressão a mais. Eu tento olhar apenas para a próxima competição”   “Eu queria fazer um projeto para ajudar as crianças, mas elas é que me ajudam mais. Sempre que vou lá, volto melhor, mais motivado. É sensacional”  

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