'Padrinho' de Cazares, ex-volante Matías Almeyda acredita que meia pode conduzir o Galo

Frederico Ribeiro
fmachado@hojeemdia.com.br
03/05/2016 às 20:36.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:15
 (Bruno Cantini/Atlético)

(Bruno Cantini/Atlético)

A língua portuguesa, o clima quente de Belo Horizonte, a preocupação pelas famílias equatorianas atingidas pelos terremotos de 7,8 na escala Richter e o desgaste físico. Todos estes obstáculos deverão estar no banco de reservas durante 90 minutos, na noite desta quarta-feira (4). A cabeça do meia-atacante Juan Cazares terá espaço apenas para conduzir o Atlético à vitória contra o Racing, pelas oitavas da Libertadores, às 21h45, no Independência.

Com Dátolo lesionado, chegou o momento de Cazares provar a que veio. Depois de uma estreia de encher os olhos contra o Del Valle e um gol importante diante do Colo-Colo, caiu de produção e virou suplente nos últimos três jogos. A missão é, em uma grande partida como a de logo mais, provar o potencial que o futebol argentino conheceu bem quando defendeu as camisas de River Plate e Banfield.

Quem treinou e ajudou a forjar a qualidade do equatoriano garante que ele tem capacidade para ser o maestro alvinegro. Basta ter paciência para superar as dificuldades de adaptação, deixar o “sono” de lado e não se intimidar na hora de furar a defesa adversária com um passe ousado.

“Ele jogava como um segundo atacante. Mas quando eu comecei a treiná-lo, considerei que ele era um enganche natural. Eu curtia muito treiná-lo e observá-lo a cada jogo porque sempre fazia algo raro e eu procurava lhe dar a liberdade necessária para que pudesse se divertir dentro de campo. Ele apenas tem uma particularidade, gosta muito de dormir”, diz o treinador argentino Matías Almeyda, em entrevista ao Hoje em Dia.

Almeyda, atualmente técnico do Chivas, do México, é o “descobridor” de Cazares. Conhece o camisa 11 como poucos. Era o capitão do River Plate quando o armador chegou ao clube, em 2011. 

Naquele ano, durante o pior momento da história dos Millionarios (rebaixado à Série B), Almeyda se aposentou, virou treinador da equipe de Núñez e realizou a estreia oficial de Cazares, em dezembro. Um ano e meio depois, El Pelado foi para o Banfield e pediu o empréstimo do meia. Juntos, ganharam a Segundona Argentina de 2014.

Confira a entrevista com Matías Almeyda
“Juanito é um dos poucos que, em cada partida, pode construir dois a três passes de gol para um companheiro”                                                                                                                                                             Reprodução

Almeyda oriente Cazares no River Plate. Ambos se reencontrariam meses depois no Banfield

Em 2011, ainda como jogador, você conheceu Cazares no River Plate. Depois, virou treinador do equatoriano. Como foi a relação como companheiro de trabalho e, posteriormente, como técnico do meia-atacante?
A minha relação com Juanito, quando éramos companheiros, sempre foi muito boa. Sabia que ele era um jogador que em algum dia eu iria dirigir, porque via nele um potencial enorme, uma grande qualidade, e tratei também de aconselhá-lo como pessoa, para que pudesse seguir um caminho de bem na carreira e na vida pessoal.

No Brasil, Cazares já demonstrou que tem capacidade de achar os companheiros com passes precisos, atuando como um ‘camisa 10’. Quais as qualidades que você observou nele?
Ele jogava mais como um segundo atacante, um ‘media punta’, atrás do camisa 9. E quando eu comecei a treiná-lo, considerei que ele era um ‘enganche’ (armador central) natural. Então, lhe incorporei um pouco de características de camisa 10, com mais mobilidade. E, como enganche, é um dos poucos que tem muita mudança de ritmo, consegue jogar indo lado a lado do campo, rende bem no mano a mano com a marcação e detém um bom chute de média distância. Isso posto, Juanito é um dos poucos jogadores que em cada partida pode construir dois a três passes de gol a um companheiro. 

Foi pelas suas mãos que Cazares se transformou em um jogador de seleção. Como foi esse processo?
Quanto tive a chance de tirá-lo de empréstimo do River e levá-lo ao Banfield (algo que não foi fácil) eu avisei a Cazares que lhe daria de seis a sete partidas para que se afinasse como um enganche e que teria de cumprir este papel também na seleção. E conseguiu! Em menos de um ano ele foi convocado e foi uma grande alegria. Fiquei bastante feliz por ele. É um jogador com um futuro enorme para seguir evoluindo.

Há alguma característica de Cazares que você teve que excluir? Alguma dificuldade de adaptação, de comportamento?
Nos primeiros momentos que eu levei-o ao Banfield, ele estava em momento de alternância no time de cima do River, assim que a mudança lhe custou, porque teve que assumir muitas responsabilidades, teve que tomar cargo de uma posição em outro clube onde não era conhecido, uma mudança brusca. Inclusive, eu recebi algumas críticas por haver lhe trazido ao Banfield. Durante a segunda ou terceira semana, não sei o que passou mas ele faltou ao treinamento. Então, eu o agarrei e disse que eu havia apostado muito nele e que ele não seria usado na próxima partida, como castigo e ensinamento. Tomei esta atitude dele como algo próprio da juventude. Depois disso, ele foi crescendo muito e é um jogador que se sente feliz com a bola. Desfruta do dia a dia, sempre com um sorriso no rosto e é um bom companheiro. Era um dos jogadores que mais me protegia e me enchia os olhos vê-lo jogar. Eu curtia muito treiná-lo e observá-lo a cada jogo porque sempre fazia algo raro.

Matias Almeyda é técnico do Chivas-MEX e treinou Cazares no River Plate e no Banfield. Como jogador, foi volante da seleção argentina, com passagens pelo futebol italiano e espanhol. Aposentou no River Plate, em 2011, para assumir o cargo de técnico.


Atlético x Racing

Atlético: Victor; Marcos Rocha, Leonardo Silva, Erazo e Douglas Santos; Leandro Donizete, Rafael Carioca, Junior Urso e Cazares; Robinho e Lucas Pratto. Técnico: Diego Aguirre

Racing: Sebastian Saja; Ivan Pillud, Sergio Vittor, Nico Sánchez, Leandro Grimi; Ricardo Noir, Ezequiel Videla, Luciano Aued, Marcos Acuña; Óscar Romero; Lisandro López. Técnico: Facundo Sava

Horário: 21h45. Local: Estádio Independência. Arbitragem: Daniel Fedorczuk, auxiliado por Mauricio Espinosa Richard Trinidad, todos do Uruguai. Transmissão: Globo e Fox Sports 2

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