Papo em Dia: Árbitra há 19 anos, Edina Batista acumula feitos entre mulheres e homens

Henrique André
@ohenriqueandre
06/03/2020 às 17:42.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:52
 (Ailton Cruz/CBF)

(Ailton Cruz/CBF)

Escudo da Fifa no peito e um orgulho enorme por quebrar paradigmas no futebol, espaço onde o machismo ainda mostra sua cara, mesmo em pleno Século XXI. É isso que a paranaense Edina Alves Batista, nascida em Goioerê, traz consigo desde que se formou no curso de arbitragem, em 2001. 

No fim de semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a árbitra concede entrevista ao Hoje em Dia e conta um pouco dos 19 anos de estrada. Ex-atleta de basquete e futsal, se apaixonou pelo apito influenciada pelo pai de uma grande amiga. Em 1999, calçou as chuteiras pela primeira vez e, no futebol amador, teve certeza do rumo que daria à sua vida a partir daquele momento.

Passando uns dias na Argentina, onde participa de um curso, Edina fala dos desafios de comandar partidas masculinas e da emoção por ter apitado a Copa do Mundo Feminina, revela qual o sonho que a alimenta e muito mais.

Aos 40 anos, ela ficou marcada também por ter sido a primeira mulher a apitar uma partida da Série A do Campeonato Brasileiro após um hiato de 14 temporadas. Na ocasião, atuou no duelo CSA x Goiás, na edição do ano passado.Rodrigo Corsi/FPF

Como foi a experiência de trabalhar numa Copa do Mundo Feminina? Foi a melhor da sua carreira?
Foi um momento único em minha vida estar em uma Copa do Mundo e representar nosso país. Vejo que sou espelho para algumas árbitras e por isso minha responsabilidade aumenta, e meu desejo de dar meu melhor, também.

Você foi a primeira mulher, após quase 15 anos, a apitar um jogo masculino na Série A. Quando surgiu seu nome no sorteio, qual foi a sensação? Viu como um marco?
Você não imagina a alegria que fiquei quando fiquei sabendo que iria atuar na Série A. Trabalhei muito para chegar até aqui, e nada caiu do céu para mim. Tenho 19 anos de carreira e antes de apitar na Primeira Divisão, trabalhei em todas as categorias dos campeonatos estaduais e nacionais, da base até o principal. Fiz minha estreia apitando na Série D em 2015; em 2017 apitei meu primeiro jogo da Série B e em 2019 cheguei à tão sonhada Série A.

Foi um caminho longo e árduo, não é?
Nada foi fácil para mim. Por isso, sempre trabalhei duro buscando evoluir em todos os pilares: técnico, físico, mental e social, com muita dedicação e muito comprometimento. Tenho que agradecer à Comissão de Arbitragem da CBF, que vem sempre dando oportunidade a nós, mulheres, ao Leonardo Gaciba, ao Alício Pena e toda à comissão por acreditarem que podemos.Kim Saito/CBF

Muitos dizem que a diferença física (força e outros fatores) entre homens e mulheres, acaba excluindo muitas profissionais do quadro de arbitragem masculina. Você concorda com isso? É o fato primordial?
Geneticamente a mulher tem que treinar mais que homem para alcançar a excelência. É um fato.

Você completou 40 anos em janeiro. Ainda alimenta sonhos como árbitra? Quais?
Alimento sim e estou trabalhando para isso. Quero representar nosso país nas Olimpíadas e trabalhar em competições masculinas da Conmebol como árbitra central.

Crê que os rótulos que cobrem as mulheres no universo masculino da bola acabarão com o tempo ou isso é uma missão quase impossível? O que fazer para que eles sejam extintos ou quase nulos?
Acredito que mais importante que o gênero é a capacidade profissional, a dedicação, o amor e a fé. É o caminho para o sucesso em qualquer área, independentemente de ser homem ou mulher.Ailton Cruz/CBF

Depois que ganhou espaço no cenário nacional e também internacional, você se vê como exemplo para as outras mulheres que estão iniciando esse caminho tão desafiador?
Engana-se quem pensa que me gabo por ter sido a primeira mulher a apitar na Série A do Campeonato Brasileiro depois de vários anos, por ser integrante do trio feminino que representou nosso país e a arbitragem nacional em uma Copa do Mundo e por ter sido a primeira árbitra a apitar uma final de Brasileiro (Série D do ano passado), em Manaus. Estudei muito, me preparei fisicamente e psicologicamente por muito tempo e nunca desisti dos meus sonhos. Considero que sou um espelho para muitas mulheres que ingressam ou sonham ingressar na arbitragem do futebol brasileiro. Isso aumenta ainda mais minha responsabilidade, mas exalta o desejo de que meninas tenham cada dia mais a coragem de lutar por seus objetivos.

Quando “pendurar o apito”, já sabe que rumo seguir? Sonha em se tornar comentarista na TV ou seguir no mundo da bola em outra função?
Não sei ainda o que vou fazer. Amo a arbitragem e estou me dedicando exclusivamente a isso. Eu amo representar nosso país e, pelo menos por enquanto, é o que passa na minha cabeça. É hora dessa dedicação total ao Brasil.

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