“Podemos mudar o critério de vagas mineiras na Copa do Brasil”

Henrique André - Hoje em Dia
Hoje em Dia - Belo Horizonte
26/10/2014 às 08:53.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:46
 (Luiz Costa)

(Luiz Costa)

Castellar Guimarães Neto vai completar na próxima quarta-feira, dia 29, cinco meses à frente da presidência da Federação Mineira de Futebol (FMF). Eleito por aclamação, após um processo de intervenção judicial na entidade que culminou com a deposição do antecessor Paulo Schettino, Castellar Neto tem como bandeira o corte de gastos e a modernização da FMF, historicamente marcada por más gestões, continuísmo, nepotismo e intervenções, vide o ocorrido com Schettino e, antes, Elmer Guilherme, afastado em 2003 pela CPI do Futebol após mais de 35 anos de dinastia familiar no poder. Nesta entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o jovem presidente da entidade, de apenas 32 anos, Mestre pela Universidade de Sorbonne, de Paris, fala de seus planos, dos problemas herdados de gestões anteriores e explica por que emprega nos quadros da FMF um sobrinho de Elmer Guilherme, fato que, para os críticos, coloca em xeque o seu discurso moralizador. O dirigente também faz revelações sobre a situação financeira da instituição e sobre os projetos para melhorar o Campeonato Mineiro.

Ao assumir, o senhor disse que precisaria de pelo menos três meses para “conhecer a casa” e começar a colocá-la em ordem. E agora?

Quando eu disse em conhecer a casa, era dar esse chamado choque de gestão. Aderimos ao Programa de Recuperação Fiscal (Refis) e contratamos uma empresa de auditoria independente. Criamos alguns departamentos específicos e só de despesa com estacionamento, táxi e xerox nós economizamos 56 mil reais em 1 mês. Uma parcela significativa da nossa folha de pagamento. De hora extra foram 8 mil reais economizados. Criamos também um dispositivo de requisição de materiais esportivos, economizamos cerca de mil bolas. Hoje existe licitação e cotação de melhor preço, coisa que não existia. Agora, quem faz o fechamento diário do caixa sou eu.

O que a Federação conseguiu com o Refis?

A FMF tinha dívidas fiscais não prescritas e portanto ainda exigíveis, desde 1963. Conseguimos parcelar mais de 15 milhões de reais. Isso, para a FMF, representa uma vida. Já fizemos dois ou três pagamentos.

A Federação Mineira ainda está sem conta bancária? Muito se diz que não existe movimentação em uma conta corrente. É verdade?

Hoje temos uma conta bancária, sim. Desde o dia 31 de julho, quando aderimos ao Refis, passamos então a não ter mais riscos de bloqueios judiciais. Podemos movimentar tranquilamente nosso dinheiro. Além disso, a movimentação via conta bancária na conta corrente facilita bastante a auditoria independente.

A média de público do Campeonato Mineiro 2014 foi de risíveis 4,2 mil pagantes por jogo. O que o senhor pretende fazer para aumentar a atratividade da competição nas próximas edições?

Diminuimos a taxa que era paga pelos clubes da segunda divisão em relação a renda bruta dos jogos. Era cobrado 6%, diminuimos para 5% e posteriormente aumentamos o percentual que era repassado para as ligas de 1% para 2%. A Federação, que antes ganhava 5%, passou a ganhar 3%. No arbitral (do Campeonato Mineiro) do próximo dia 27 (amanhã), devemos anunciar também aos clubes do Módulo I a redução da taxa, que atualmente é 10%.
Acredito que esta redução de despesas do clube com a Federação possa proporcionar a ele a possibilidade de baixar os preços do ingressos. Temos um campeonato com clubes que vêm se dando bem nas competições nacionais, nas quatro divisões. A expectativa é ter um Estadual mais atrativo em 2015.

Uma corrente mais crítica no futebol defende a extinção dos campeonatos estaduais, como o Mineiro, o que contraria o interesse das federações. Como presidente da FMF, o que o senhor pensa disso?

O Campeonato Mineiro, pra mim, é uma grande vitrine até para negociação de jogadores. Se acabam com o estadual, os clubes do interior vão ser esquecidos e abandonados.

Há informações de que os estaduais podem ser reduzidos já a partir de 2015 pela CBF, com o intuito de aumentar a pré-temporada e adequar melhor o calendário. Procede?

Existe uma redução sim, já estabelecida para o próximo ano. O Bom Senso F.C conseguiu com a CBF a aprovação de um calendário nacional unificado. O Campeonato Mineiro começará no primeiro final de semana de fevereiro e vai até o início de abril. Não teremos atividades em janeiro, como de costume.

Em que a FMF pode contribuir para acabar ou pelo menos amenizar o problema dos clubes que ficam seis meses sem disputar um campeonato, após o Mineiro?

Estamos planejando a criação da Taça Minas Gerais sub-23 para o segundo semestre do ano. A ideia é que os clubes possam disputar uma competição além do Mineiro, podendo utilizar 5 atletas acima dos 23, para que o regulamente nos dê a possibildiade de oferecer uma vaga na Copa do Brasil. A Federação bancaria 100% da competição, sem gastos para os clubes. A CBF nos pediu para indicar quatro equipes para a Copa do Brasil. Atualmente indicamos os quatro primeiros do Mineiro, mas podemos mudar o critério técnico para os três primeiros e o campeão da Taça Minas Gerais sub-23. É uma possibilidade.

O senhor disse que buscaria novos patrocinadores para o Campeonato Mineiro e que ajudaria os clubes na diminuição dos gastos, até com distribuição mais justa das cotas de TV. Já houve alguma mudança para a próxima temporada?

São situações que estamos trabalhando. Nosso patrocinador principal, a Chevrolet, tem até o mês que vem para renovar e acredito que não haja problemas. Estamos correndo atrás de outros parceiros também, para que possamos ter mais condições de ajudar os clubea.

O que o senhor tem feito para moralizar a FMF e o futebol mineiro?

O foco principal da federação hoje é a diminuição de gastos. O futebol só tem a ganhar. Temos que ter um equilíbrio entre finanças e calendário. Para se ter um exemplo, gastávamos cerca de 2.800 reais com materiais de limpeza. Hoje gastamos 600. Um outro exemplo é em relação ao borderô. Um clube do interior que viajava para uma outra cidade “x” e pagava 15 mil reais, por exemplo, tinha embutido nisso gastos que não acho justos, como a festa de abertura do campeonato, bolas, marca de lucro administrativo, serviço de gráfica e outras coisas. Pagam tudo isso, achando que era uma cortesia da Federação.

Quais as alterações da diretoria da FMF na sua gestão, em relação aos tempos de Paulo Schettino?

Completa. Não há mais nenhuma pessoa da gestão anterior.

Um sobrinho do Elmer Guilherme (afastado da presidência da FMF em 2001 pela CPI do futebol) atua como secretário geral do senhor na FMF. Por que o contratou? Não soa mal, considerando o ocorrido no passado?

Nunca fui questionado sobre isso. O Adriano, que é meu amigo, é uma pessoa absolutamente preparada, que conheço há muitos anos e conhece a Federação como poucos. Ele tem uma visão muito detalhada de gestão e, por tudo isso, coloco minha mão no fogo. Jamais indicaria alguém que colocasse meu nome em xeque. A coisa que mais prezo na minha vida é a honra do meu nome.

O senhor também é conselheiro do Atlético. Como está conciliando as duas funções sem interferir nos trabalhos da Federação?

Ser conselheiro não me demanda tempo. As reuniões acontecem uma vez a cada três, quatro meses. Elas não me ocupam.

Sua família é historicamente ligada ao Atlético. Qual é o relacionamento do senhor com o Cruzeiro, tendo em vista sua clara ligação com o rival?

Meu primeiro compromisso oficial foi ir à sede do Cruzeiro. Eu tive que fazer isso. Fui ao presidente Gilvan para me apresentar. Conheço a respeitabilidade da família dele no meio jurídico e ele conhece a da minha. Ele é um homem muito sério e eu fiquei muito surpreso com a conversa que tivemos. Foi um papo de um nível muito sério e de respeito. Falei pra ele que o que tenho de mais importante é meu nome e que jamais entraria na Federação se eu não tivesse certeza da minha competência e da minha capacidade. Foi uma conversa de homem pra homem, muito tranquila e ele tem me ajudado muito, inclusive.

Dizer não para o Cruzeiro, caso necessário, pode fazer com que relacionem seu nome novamente ao fato de ser atleticano?

Se eu precisar falar não para qualquer clube, o farei. Uma hora serei questionado por time A ou B, mas estou preparado.

A estreita relação entre a FMF e a BWA Arenas é ética, sendo que a entidade é a responsável pela fiscalização da arrecadação nos jogos?

A partir do momento que assumi o cargo de presidente da Federação Mineira de Futebol, abri mão de ser consultor jurídico do Independência.

Em relação à arbitragem mineira. Faz tempo que Minas não tem árbitros de referência no cenário nacional. O que o presidente da FMF tem a dizer sobre a formação e capacitação de árbitros?

Estamos muito ligados e preocupados com isso, por isso nomeamos um novo presidente para a Comissão de Arbitragem. O Giuliano Bozzano, que apitou mais de 100 jogos pelo Brasileiro, além de ser o diretor jurídico da Associação Nacional de Árbitros de Futebol (ANAF), assume o cargo do José Eugênio, que ficará responsável pelo nosso curso de arbitragem para iniciantes. Foi um movimento que partiu dos próprios árbitros que pediam por mudança. Acho que ele chega pra somar. Estamos realizando também um simpósio internacional, com a presença de árbitros do Brasil e do exterior. Teremos também cursos de arbitragem e vamos preencher nosso quadro da CBF que ainda não está completo. Estamos focados nisso.

No Campeonato Mineiro de 2014, na última rodada da fase de classificação, houve um caso de suborno envolvendo a URT e o Minas Boca que poderia dar novos rumos para a competição. Hoje, em que pé está esta questão? A denúncia foi arquivada pelo TJD/MG?

O caso foi arquivado na semana passada pelo TJD por falta de provas. A Federação não entra no mérito da decisão e respeita aquilo que foi decido pela justiça.

Como o senhor enxerga a possibilidade de acabar com o sistema de reeleição na FMF? Isso seria positivo ou não? Por quais motivos?

Não gosto do continuísmo. A nossa expectativa é fazer uma assembleia geral no final do ano e é a primeira regra que quero e vou mudar. Não assumi este compromisso durante a campanha, mas podem me cobrar. Vou propor aos clubes o fim das eleições indefinidas. Hoje não existe mais isso. O tempo ideal é relativo. Pode ser após uma única reeleição, se o gestor tiver interesse. Mas, se ele conseguir executar todos os seus planos em um mandato apenas, este é o tempo que deve permanecer. Acabou este papo de uma pessoa ficar aqui por 10 mandatos ou por quanto tempo quiser.

O senhor se encontrou com o governador Alberto Pinto Coelho no meio do ano. Qual foi o teor da conversa?

Fui colocar a entidade à disposição do governo e da nossa intenção de ser importante em tudo o que envolve socialmente o futebol. Além disso, falei do interesse de buscar uma nova sede para a instituição e mostramos a nossa estrutura atual pra ele. No final do ano podemos ter novidades legais. Meu sonho é uma estrutura clean (limpa), enxuta e que dê condições de os funcionários se sentirem mais animados. Penso numa estrutura pequena. Quero um andar corrido, com todo mundo trabalhando em baias, para que os administradores possam acompanhar mais de perto o que está sendo executado pelos funcionários. É uma tendência moderna este tipo de ambiente.

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