'Sou um cara que não liga para riqueza e luxo', diz zagueiro Jemerson, titular do Monaco

Henrique André
hcarmo@hojeemdia.com.br
06/11/2016 às 09:59.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:32
 (Monaco / Divulgação)

(Monaco / Divulgação)

Humildade talvez seja a principal marca do zagueiro Jemerson, de 23 anos. Titular do Monaco-FRA, time pelo qual já realizou 22 partidas (17 oficiais), o baiano de Jeremoabo vive momento especial na carreira. 

Fora do Brasil desde janeiro, quando trocou o Atlético pelos Rouge et Blanc (Vermelho e Branco), o defensor realiza o sonho de disputar a Liga dos Campeões da Europa e de atuar entre os melhores jogadores do mundo.

Morando com a esposa Débora num dos países mais luxuosos do planeta, o camisa 5 do Monaco usa parte do tempo livre para ver filmes e jogar basquete – sozinho – numa quadra perto de casa; é quando pensa na vida e nas pessoas que deixou no Brasil,

Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Jerê – como é chamado pelos amigos – fala sobre a adaptação ao Velho Continente, comenta o desejo de ser convocado por Tite para defender a Seleção e revela o sonho de ser pai em breve.

Passados 11 meses desde a sua apresentação ao Monaco, como tem sido a vida na França?
Tem sido muito bacana e de um pouco de experiência. Estou me adaptando ao máximo aqui, apesar de ainda não falar o francês fluentemente. Se divertir aqui nesta época é difícil por causa do frio. Fico mais em casa com minha esposa. Gosto de ir ao mercado para passar tempo e ver filmes ou jogos. Quando tenho oportunidade, vou a uma quadra que tem perto de casa, ficar arremessando bola sozinho e refletindo sobre a vida que estou levando em Mônaco. No Brasil eu conhecia tudo, tinha amigos, dava para conversar, mas agora é um pouco diferente.

Em relação ao idioma, como tem sido a sua desenvoltura? Já consegue arranhar um pouco do francês?
Até agora não aprendi direito. Fico falando duas, três, quatro palavras (risos). Aqui tem brasileiros e portugueses. É bom para pegar experiência com eles, pois estão há mais tempo. Agora entendo mais o francês; a pronúncia é muito difícil, mas tem sido bacana. Não imaginei que fosse tão difícil aprender outro idioma. O legal é levar isso para o resto da vida e ensinar para outras pessoas também.Bruno Cantini / AtléticoFaro de Gol – Além de se destacar na posição de origem (zaga), Jemerson também auxilia no setor ofensivo; pelo Atlético, ele balançou as redes oito vezes

De ‘Zé Pequeno’, no Confiança-SE, a ‘Blackenbauer’, no Monaco. Qual é a diferença entre esses dois ‘Jemersons’?
O primeiro só não era tão conhecido. O meu jeito de lidar com as pessoas e com meus amigos não mudou em nada. Os caras falavam que pareço com o Zé Pequeno (personagem do filme Cidade de Deus). Não gosto muito, porque não tem nada a ver (risos). O Blackenbauer (menção ao ex-zagueiro alemão Franz Beckenbauer) era mais com a torcida do Atlético. Era um apelido carinhoso como me chamavam nas redes sociais.

Caçapa (ex-zagueiro) foi ídolo no Atlético e também no futebol francês. Hoje, inclusive, trabalha no Lyon como auxiliar. Você teve algum contato com ele? Se sim, recebeu algum conselho?
Ele me desejou boa sorte quando jogamos contra o Lyon. Não deu tempo de conversarmos. Ele tem uma história bacana. Espero ter oportunidade de encontrá-lo para dividir a experiência que ele teve por aqui.

“Vim de uma cidade pobre, sem oportunidade de trabalho. Aqui é um dos países mais ricos. É uma coisa nova, mas que não me surpreende. Sou um cara muito tranquilo sobre riqueza e luxo. Não ligo muito para isso”

 Antes de trocar de clube, você foi convocado por Dunga para servir à Seleção. Tite, novo comandante, ainda não te deu uma oportunidade. Acredita que ela pode aparecer em breve?
Quando eu fui para a Seleção, nem estava esperando ser convocado. Quando você recebe a notícia, nem acredita. Pode chegar a oportunidade novamente, mas primeiro quero pensar no Monaco, em jogar bem aqui. O Tite sabe escolher bem os nomes. Quando a oportunidade chegar, quero agarrar para ser convocado mais vezes.

Você tem enfrentado os grandes craques do Velho Continente. Qual deles te deu mais trabalho até o momento?
Tem grandes jogadores aqui. A oportunidade que estou tendo de jogar contra eles é um privilégio. Disputar minha primeira Champions também. Enfrentar alguns jogadores do Paris Saint-Germain é complicado. Antes tinha o Ibrahimovic, agora tem Di María, Lucas e Cavani, que são grandes jogadores. Não tem um específico. Os times aqui são muito bons em conjunto. Tem que ficar ligado nos onze.Rafael Ribeiro / CBF Entre Craques – Convocado para substituir David Luiz contra o Peru, em 2015, Jemerson não chegou a estrear pela Seleção

Entrar em campo, ficar em formação com o time e escutar o hino da Ligados Campeões. Você viveu isto pela primeira vez nesta temporada. É de arrepiar? O que sentiu naquele momento?
Quando você entra em campo para se posicionar para o hino, passam lembranças e coisas que você jamais pensou em viver. É um sonho que se realizou. Sempre quando ouço o hino, me arrepio. Lembro da infância, do Atlético e da minha vida.

Você nasceu numa cidade pobre da Bahia e hoje vive numa das cidades mais badaladas do mundo. Como tem sido este contraste de padrão social?
Vim de uma cidade sem muita oportunidade de trabalho, pobre. Aqui é um dos países mais ricos, e é uma coisa que poucos têm esta chance de vivenciar. É uma coisa nova, mas que não me surpreende. Sou um cara muito tranquilo sobre riqueza e luxo. Não ligo muito para isso. Vivo aqui como se estivesse no Brasil. Não mudo meu jeito, minha personalidade e meu estilo.

Você fez sua estreia na equipe principal do Atlético em 2013. Até a saída, no início desta temporada, foram 109 partidas e oito gols. O que o clube significa na sua vida?
O Atlético foi muito importante na minha vida. Foi o clube me deu a oportunidade de mostrar meu futebol para a Europa e o mundo inteiro. Tenho que agradecer pelo que o Atlético e a torcida fez por mim. Eles me acolheram bem, principalmente quando substituí o Réver. Espero que um dia eu possa voltar a jogar no Atlético de novo. Vivenciar tudo novamente.

que eu sempre sonhei”

Assim como Diego Tardelli e Ronaldinho Gaúcho, você não deixou de falar com a torcida atleticana pelas redes sociais. Como é essa relação? 
É a oportunidade de o torcedor estar mais próximo dos jogadores. Mesmo após ter saído, eles me mandam mensagens de apoio. Eu não sou de ficar vidrado ali, mas sempre que tenho oportunidade eu uso. É muito legal esse carinho, mesmo à distância.

Ser um dos zagueiros da Seleção na Copa da Rússia, em 2018, é um dos seus maiores objetivos? Quais os sonhos que você tem, dentro e fora de campo?
Todo jogador quer disputar uma Copa do Mundo. É um objetivo, sim. Sei que é difícil. Faltam dois anos para a Copa da Rússia. É uma coisa que, para quem está de fora, passa rápido, mas que no meio do futebol demora. Quero também construir uma família, ter filhos e uma casa bacana, do jeito que eu sempre sonhei.

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