Penta em 2002, Roque Júnior analisa 7 a 1 contra Alemanha como 'ponto fora da curva'

Alexandre Simões e Henrique André
esportes@hojeemdia.com.br
30/03/2018 às 17:52.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:06
 (Fifa/Divulgação)

(Fifa/Divulgação)

A vitória da Seleção Brasileira por 1 a 0 sobre a Alemanha, em amistoso disputado em Berlim na última terça-feira (27), deixou animado o ex-zagueiro Roque Júnior, pentacampeão mundial com a equipe canarinho na Copa de 2002, com sede no Japão e na Coreia do Sul.

Atualmente acumulando cursos para exercer a função de treinador, o ex-jogador natural de Santa Rita do Sapucaí, na região Sul de Minas Gerais, acredita que a inesquecível goleada de 7 a 1 sofrida para os atuais campeões mundiais na última edição da competição foi apenas “um ponto fora da curva”. 

Para ele, o que deve ser considerado é o retrospecto geral do duelo, no qual o Brasil soma 13 vitórias, cinco empates e cinco derrotas diante dos alemães.

Nesta entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Roque Júnior relembra os confrontos históricos contra o Cruzeiro, quando atuava pelo Palmeiras, destaca a conquista da “Família Scolari” na Copa de 2002, aponta as seleções europeias mais fortes para o Mundial da Rússia e palpita sobre as peças do setor ofensivo da atual Seleção comandada pelo técnico Tite.

Apesar de ser mineiro, você não atuou nos grandes clubes do Estado. Faltou isso na sua carreira?
A minha cidade é muito mais perto de São José dos Campos (SP) do que de Belo Horizonte. E eu tinha família em São José, então foi mais fácil ir para lá. Isso facilitou a minha ida para o interior de São Paulo, onde fiquei por três anos e meio. Cheguei com 12 anos e saí com 15, para ir para o Palmeiras.

Você viveu uma época em que, tirando os times de São Paulo, a rivalidade do Palmeiras com o Cruzeiro era muito grande. Como eram aqueles confrontos decisivos com a Raposa?
Naquele momento, as melhores equipes do país eram Palmeiras e Cruzeiro. Decidimos a Copa do Brasil, a Mercosul... Eram jogos sempre muito difíceis, entre dois grandes times. Sabíamos que teríamos partidas complicadas, mas eram sempre vividas com aquela vontade de ganhar. 

Sua experiência na Itália, onde a disciplina tática é o destaque, te influenciou a seguir no futebol como técnico?
Carrego muita coisa que aprendi na Itália, principalmente na parte defensiva, e alguma coisa na ofensiva também. Não influenciou na minha decisão de ser treinador. Mas me influenciou nesse sentido, de levar algumas coisas que aprendi. Eles pensam o futebol e conseguem explicar o começo, o meio e o fim. Têm um olhar e entendem o esporte de uma maneira diferente da nossa.

Prefiro Marquinhos e Miranda como titulares da Seleção. Essa seria a minha dupla de zaga. Gosto também do Jemerson, ex-Atlético. Para mim, ele poderia estar no grupo da Copa do Mundo"


Você jogou na Itália, na Inglaterra e na Alemanha. Há muitas diferenças de se pensar e jogar futebol nestas três escolas do futebol europeu?
Sim. Cada uma pensa de uma maneira diferente. Senti isso quando mudei de país. Espanha, Portugal, França e os outros países também pensam de outras maneiras, graças às diferentes culturas de cada um deles. É possível ver essas diferenças nas próprias seleções.

Quais são as seleções europeias que, na sua opinião, brigarão pelo título na Copa do Mundo da Rússia?
Se você pegar a história das Copas, é difícil ganhar uma seleção que ainda não tenha sido campeã. As europeias entram sempre como fortes candidatas. Você pode colocar Espanha, França, e principalmente Alemanha. Para mim, as três são as mais fortes. A Inglaterra corre por fora, pois tem bons jogadores, mas não consegue formar um bom time, o que é essencial na Copa.Rafael Ribeiro/CBF 

Você foi campeão mundial em 2002, contra a Alemanha. Como encara os 7 a 1 e o desafio do Brasil de tentar apagar essa mancha histórica?
Foi um ponto muito fora da curva. Se você pegar todos os jogos entre Brasil e Alemanha, vai ver que nós ganhamos a maioria deles. Não tem como comparar. Eu joguei três vezes contra eles, ganhei duas e empatei uma. Havia uma grande pressão de ter que ganhar a Copa em casa. Tínhamos bons jogadores, mas alguns não tinham experiência de disputar as Eliminatórias e a Copa do Mundo com a nossa camisa, e isso faz diferença. Todos esses fatores fizeram com que acontecesse aquele placar. Depois de 2 a 0 não, tinha mais jogo. A nossa organização fora de campo e como pensamos futebol também é parte daquele jogo. Antes, o Brasil tinha ‘três seleções’. Atualmente, isso não acontece mais. Mas voltou à normalidade, e ganhamos lá dentro (amistoso em Berlim).

No ano do penta, o Brasil tinha um grupo com vários protagonistas. Para esta Copa, muitos acreditam numa ‘Neymar-dependência’. Você concorda ou acha que existem outras peças que podem carregar o time?
O Neymar é parte do Brasil, assim como eram Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo. Com ele, é melhor jogar. Está entre os três melhores do mundo. Estando bem técnica e fisicamente, será bom para a Seleção. Hoje, ele tem mais experiência em Copa do Mundo. Precisamos ver a realidade. Se o temos, precisamos aproveitá-lo. O mesmo acontece com o Messi na Argentina.

O que acha do sistema defensivo da atual Seleção? 
Nunca gostei de falar de setor defensivo quando não leva gol, porque quando você leva gol não é só responsabilidade da defesa. Assim como, quando se faz, não é só mérito do setor ofensivo. Acho que, sem a bola, todo mundo deve participar do momento defensivo. O futebol mundial pede isso atualmente. Todos têm que participar. Defender com quatro ou cinco jogadores, apenas, é certeza de levar gol. Na Itália, se fala que ‘ataque ganha partida, mas defesa ganha campeonato’.

O Neymar é parte do Brasil, assim como eram Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo em 2002. Com ele, é melhor jogar. Estando bem técnica e fisicamente, será bom para a Seleção”


Qual seria a sua dupla titular hoje? Convocaria algum jogador que não figura na lista do Tite?
Prefiro Marquinhos e Miranda como titulares. Essa seria a minha zaga. Gosto também do Jemerson, ex-Atlético, que está no Monaco. Para mim, ele poderia estar no grupo da Copa do Mundo.

Você é um dos poucos jogadores que conquistou Libertadores e Champions League. Qual é o mais emocionante de se conquistar? Quais as principais diferenças entre as duas competições?
A organização da Liga dos Campeões é muito superior e todo mundo consegue ver. A Libertadores está evoluindo ainda. Em questão de qualidade, de jogo e de competição, a Champions League é melhor. Antigamente, os craques demoravam mais para sair dos países sul-americanos, então a diferença técnica não era tão grande. Agora, cada vez mais, a Champions está se descolando da Libertadores.

Você tem algum clube de coração em Minas Gerais? Qual a sua aposta para a final do Campeonato Mineiro entre Atlético e Cruzeiro, que começa neste fim de semana?
Tenho um tio que é cruzeirense e meu avô, falecido, era atleticano. A discussão era acirrada. É um clássico, e não dá para falar quem vai ganhar. A campanha do Cruzeiro neste ano é melhor, mas ambos chegaram na final e o resultado está em aberto.Reprodução/Instagram 

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