Presidente do Inter de Minas, ex-zagueiro Thiago Gosling põe em prática modelo de gestão

Henrique André
20/09/2019 às 13:47.
Atualizado em 05/09/2021 às 21:51
 (Henrique André)

(Henrique André)

Do amor pela bike nos tempos de criança ao desafio de ser presidente de um clube de futebol, aos 40 anos, passando por uma história de títulos importantes como jogador profissional. Desta forma resumida, é possível apresentar a trajetória do ex-zagueiro Thiago Gosling, que em 2020 assume a missão de projetar o Internacional de Minas no cenário nacional. 

Há dez anos fora dos gramados, o belo-horizontino põe em prática o modelo de gestão que, para ele, fará da equipe sediada em Itaúna modelo no país. Com auxílio de outros profissionais e do amigo Elmo Molica – ambos foram companheiros nas categorias de base do Atlético e se tornaram parceiros na Soccer Training, empresa que lapida jovens talentos no bairro Lagoinha, na capital –, ele espera que o clube seja referência em formação de base e que, ao mesmo tempo, colha também bons frutos no profissional.

Nesta entrevista ao Hoje em Dia, Gosling relembra a trajetória como atleta, fala da histórica Tríplice Coroa do Cruzeiro e dá detalhes do projeto com o clube que o fez voltar ao futebol como dirigente.

Como você tem vivido essa nova experiência como dirigente de clube? Como surgiu a ideia?

Isso vem de curto prazo, junto com o Elmo, que é meu parceiro de Inter de Minas. Ele já vinha fazendo um trabalho de formação de base há alguns anos. Estávamos esperando a melhor hora para iniciar o profissional. A gente já tinha um know-how de três anos desempenhando um grande trabalho. Conseguimos acertar um time, uma associação. É muito complicado encontrar um clube sadio, pois a maioria acumula dívidas, processos trabalhistas e cíveis, então conseguimos 'startar' para a Segunda (Divisão) do Mineiro neste ano e tivemos sucesso.

Como começou esse trabalho no Inter de Minas para, de fato, dar certo dentro e fora das quatro linhas?

Já estávamos nos preparando. Temos um grupo muito profissional. A forma como o Inter veio é como enxergamos o futebol. O esporte tem que ser profissional na acepção da palavra; são grandes profissionais por trás. Estamos colocando em prática esse modelo de gestão, treinamento e organograma que já tentamos implementar na base há algum tempo.Henrique André / N/A

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E essa mescla de experiência com a juventude?

Foi uma coisa bem pensada. Nosso treinador, o Cássio, treinou nosso sub-20 por três anos. Conhecemos bem o estilo dele de trabalhar, então fomos buscar no mercado aquela espinha dorsal de atletas mais rodados, para dar uma sustentação aos novos, que já passaram pelas nossas categorias de base e estouraram a idade. Aproveitamos bastante os atletas que passaram pela Soccer, que é nossa captação.

O diferencial do Inter hoje é essa captação de jovens valores?

Com certeza. O diferencial do Internacional de Minas é esse. A Soccer Training já está consolidada nesse mercado de captação há alguns anos, então só veio a somar. É um bom negócio. Os dois lados somam um para o outro. Hoje já disputamos todas os campeonatos de categorias de base. O sub-15 e o sub-17 disputam pelo Villa Nova, como mais uma forma de parceira, o sub-20 está com o Serranense, e o profissional, com o Inter de Minas. A partir do ano que vem, o Inter disputa todas as categorias.

Até onde o Inter de Minas chegará?

A gente tem uma pretensão de virar referência em categoria de base e ser exemplo de gestão moderna. A ideia do Internacional de Minas é fazer seu futebol profissional uma S.A; estamos acabando essa formatação para fazer a transferência. É o melhor modelo a se implantar, porque a gente pode achar parceiros que acreditar num trabalho bem feito no futebol.

E a sede em Itaúna?

Itaúna é uma cidade que foi escolhida por vários fatores. Tem uma estrutura muito boa, temos algumas ligações com a cidade, por termos feito, durante três anos, nossa categoria de base em Nova Serrana. É lógico que as coisas demoram um pouco, mas o início está sendo bem feito, e a cidade tem abraçado. Aos poucos vamos mostrando nosso projeto; a seriedade do grupo, a experiência e a vontade de fazer acontecer. Itaúna possui condições de ter um time na Primeira Divisão do Mineiro e categorias de base.

Você não é do tipo dirigente engravatado, né?

Não, não. Esse não é meu tipo de vestimenta. Temos é que fazer as coisas acontecerem da melhor maneira, colocar a experiência como jogador para os que estão começando, pois são muitos anos de prática. Essa mudança de lado é cansativa, trabalhosa, mas não é nada complicado. Sou empresário há 15 anos e sei me adaptar ao lado de cá agora.Henrique André / N/A

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Sente falta de campo?

Poucas coisas, para te falar a verdade. O futebol foi muito bom na minha vida, me deu muitas alegrias. Vou guardar isso para o resto da vida, mas ser profissional é muito desgastante, ao contrário do que as pessoas de fora enxergam. Você se preparar para um grande jogo, aquele estádio cheio, isso a gente sente um pouquinho de falta, mas foi bom enquanto durou. A vida é boa também fora do futebol.

Sua projeção foi no América?

Sem dúvida. Cheguei ao clube em 2000, passei o ano todo me preparando e a oportunidade veio em 2001. A gente tinha um time muito bom e muito novo. Eu tinha 22 e era um dos mais velhos. Ali foi a projeção para vários atletas. O bom trabalho abriu várias portas.

E o Cruzeiro?

Fui para o Cruzeiro em 2002, e o primeiro ano lá foi a mesma história do América. A mudança foi muito pesada, e as oportunidades foram poucas. Quando tive, aproveitei. Em 2003, junto com aquele grupo fantástico, entrei para a história do clube.

Falam que o Luxemburgo não gostava muito de zagueiro canhoto. É verdade?

(Risos) Não sei disso, mas o que eu posso falar é que tive um ano bem pesado, com uma pressão imensa, no bom sentido. Até por eu ser um jogador mais técnico, ele pegava muito no meu pé. Foi um grande treinador que tive e me ensinou demais. Sou grato demais por ele ter pegado tanto no meu pé.

Apesar da história feita no Cruzeiro, você não esconde de ninguém que é atleticano. Como lidar com isso?

Eu acho que isso é natural. Depois que você escolhe uma profissão, sua paixão de torcedor fica em segundo plano. Sou um privilegiado, porque em Belo Horizonte joguei nos três clubes e tenho as portas abertas em todos eles. Tenho grandes amigos nos três, também. Me sinto muito feliz por ter participado desse grupo do Cruzeiro, que é para o resto da vida. Não tenho problema algum de falar o time que torço, porque dentro de campo, você demonstra seu profissionalismo e sua seriedade.

O que a passagem pelo Genoa, da Itália, te ajudou?

Eu fiquei lá durante um ano e meio. Claro que a experiência, não só no futebol, mas também de vida, é muito válida. O futebol europeu é de muita força e muito tático. Aprendi bastante. Na minha volta pude colocar várias coisas em prática. Para mim foi válido em todos os sentidos.

Conta uma história inesquecível dentro do futebol.

As histórias boas que tenho são muitas, mas o clima que a gente vivia naquele time de 2003... Lembro bem quando houve o último jogo, contra o Goiás, em 2002. Na hora de despedir para as férias, o Luxemburgo disse: "Agora saímos com a cabeça tranquila, mas só vai voltar para o ano que vem quem quiser ser campeão de tudo". Essas palavras fortes foram absorvidas por nós com muito otimismo. Em 2003, era nítido que aquilo iria acontecer, por toda harmonia dentro e fora de campo. Não era soberba nem excesso de confiança; era uma coisa natural. O grupo estava muito preparado.

E aquele terceiro cartão amarelo na final da Copa do Brasil de 2003, contra o Flamengo? Você e o Dracena acabaram fora da decisão...

Aquela é uma história "triste", né? A gente tinha o Luisão e o Batatais machucados. O Gladstone ainda não tinha jogado. Foi engraçado. Antes do apito, eu olhei para o Dracena e combinamos de segurar a bronca. Com menos de cinco minutos ele levou um cartão. F****! Com 47 eu tomei também, mas ali já não tinha mais nada. Foi só lamentar (risos). O Luxemburgo soube transformar aquilo em algo positivo para motivar o Gladstone, e todo mundo abraçou a causa.

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