Projeto de Felipão no Mundial era repetir fórmula usada na Copa das Confederações

Estadão Conteúdo
08/07/2015 às 08:54.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:48
 (Carlos Rhienck)

(Carlos Rhienck)

Passados 365 dias da queda diante da Alemanha, a maioria dos envolvidos na derrota ainda não deu uma explicação para o resultado negativo. Com base em dados obtidos da comissão técnica da seleção e alguns depoimentos, a reportagem relata como o Brasil, de favorito ao título, foi protagonista do maior vexame de sua história.

Os problemas, segundo fontes da comissão técnica, começaram ainda na definição da preparação da seleção. Com a experiência de outras Copas, Felipão gostaria de um pouco de privacidade no período de treinamentos. Sabia muito bem que na Granja Comary, em Teresópolis (RJ), não poderia isolar os atletas em momentos importantes da Copa.

A preferência de Felipão era pelo CT do São Paulo, em Cotia (SP). O treinador havia visitado o local e entendeu que ali deveria ser o quartel-general da seleção. Felipão só não conseguiu convencer José Maria Marin, então presidente da CBF. O dirigente teria obrigado o treinador a optar pela Granja Comary para atender a interesses dos patrocinadores da CBF que haviam ajudado a bancar a reforma.

Resignado, o técnico concordou. Mas com a exigência de que haveria um limite de 50 visitantes, em determinados dias, nos treinos na Granja Comary. Os patrocinadores queriam armar tendas na concentração para ações de marketing durante a Copa que poderiam envolver mais de 300 pessoas por dia. Ainda na Granja foi montada uma estrutura para atender dois mil profissionais da imprensa, que teriam acesso liberado todos os dias. A privacidade que Felipão havia imaginado tinha ido para o espaço.

Instalada na Granja Comary, a comissão técnica seguiu a mesma preparação que havia dado certo na Copa das Confederações de 2013, quando o Brasil conquistou o título com expressiva vitória por 3 a 0 diante da Espanha. Dados obtidos pela reportagem mostram que na preparação para a Copa das Confederações a seleção teve 17 sessões de treinamentos, mesmo número da reta final para o Mundial. Entre os jogos, a rotina também foi idêntica: treino regenerativo no dia seguinte ao jogo, muscular 48 horas depois e técnico-tático após 72 horas.

Os números mostram que a comissão técnica entendeu que a fórmula vitoriosa na Copa das Confederações poderia se repetir no Mundial. Não levaram em consideração o lado emocional dos jogadores. Se na primeira fase da Copa a seleção teve desempenho razoável, no mata-mata o estado emocional dos atletas deixou a comissão técnica em alerta após a dramática vitória na decisão por pênaltis sobre o Chile, nas oitavas de final.

"Cometemos o erro de repetir a estratégia que tinha dado certo na Copa das Confederações. O estado dos jogadores era outro. Um ano antes, a forma física e técnica era perfeita e eles responderam muito bem ao apoio que tiveram da torcida. Agora o comportamento está sendo outro", disse Carlos Alberto Parreira, então coordenador técnico, no dia seguinte à vitória contra o Chile.

Felipão também estava fragilizado com duas mortes na família (um cunhado e um sobrinho) muito perto do início da Copa. Não conseguia impor o estilo sargentão nos momentos complicados nem o de protetor da "família Scolari". E até por isso, e mais o diagnóstico de que os jogadores precisavam de um suporte emocional, ele e Parreira resolveram convocar a psicóloga Regina Brandão - que havia traçado um perfil dos jogadores.

O diagnóstico de Regina foi devastador. Os atletas estavam no limite. Algo de diferente deveria ser feito. O problema era a falta de tempo. A psicóloga ainda conseguiu diminuir a ansiedade dos jogadores que responderam bem com a vitória contra a Colômbia. Mas naquele jogo Neymar deixava a Copa. Sem o craque, o Brasil tinha de encarar a Alemanha. Felipão e Parreira não conseguiram manter o time concentrado, nem com a ajuda da psicóloga.

Na parte tática, Felipão e Parreira sustentaram a mesma estrutura do time, apenas com Bernard no lugar de Neymar. A Alemanha agradeceu. Números da comissão técnica mostram que a posse de bola do Brasil foi de 52% e da Alemanha, 48%. Um dado chama atenção, a seleção teve apenas quatro desarmes contra 20 dos alemães. Os brasileiros finalizaram 18 vezes e marcaram um gol. A Alemanha finalizou 14 e fez sete.
http://www.estadao.com.br

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