"Ronaldo e Bom Senso foram no estouro da boiada", diz secretário da CBF

Agência Estado
11/06/2015 às 20:00.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:26
 (Divulgação)

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Se a ex-ministra Marina Silva tivesse sido eleita presidente em 2014, o ex-deputado tucano Walter Feldman, que foi seu principal operador político na campanha, estaria nesse momento despachando em algum gabinete da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Mas a história tomou outro rumo e Feldman acabou surpreendendo o mundo do futebol (e da política) ao assumir o cargo de secretário-geral da CBF.

Ele acabou se tornando o braço direito do presidente Marco Polo Del Nero, pouco antes de vir à tona um escândalo de corrupção de proporções inéditas e que respingou na entidade. Nesta entrevista exclusiva, Feldman tenta descolar Del Nero da crise, crítica Ronaldo, o Bom Senso F.C. e garante: "Não há constrangimento".

Agência Estado - As denúncias de corrupção constrangem a CBF?
Walter Feldman - O constrangimento foi zero. Não há nenhum problema. O Marco Polo não teve seu nome citado em nenhum momento. Passou 5 horas na Câmara [dos Deputados] e saiu ileso, apesar da determinação dos deputados. Muitos dos parlamentares estavam inclusive com matérias do Estadão que foram subsidiadas pelo (repórter) Jamil Chade (Nota da Redação: o repórter Jamil Chade não enviou nenhum material aos deputados). Há concretamente um exagero e um enquadramento do Marco Polo. Isso é injusto do ponto de vista da Constituição e do direito à inocência. Não tenho dúvida de que há uma ideia equivocada em relação à CBF: de que há uma continuidade. Marco Polo recebe o acúmulo de críticas de toda a história do futebol, como se ele fosse continuidade do modelo e do sistema. Quando você diz que a atual gestão é continuidade do passado, isso é política no futebol.

AE - Mas no jogo contra o México Marco Polo saiu antes do fim. Não foi para evitar constrangimento?
Feldman - Ele saiu um pouco antes porque tinha que chegar ao Rio de Janeiro para preparar a reunião dos clubes na segunda-feira. Antes esteve no hotel, cumprimentou todos os jogadores, veio junto no ônibus e esteve no vestiário. Não teve problema ou dificuldade. Marco Polo também esteve na Granja Comary. Falou com os atletas, mas não quis falar com a imprensa. O esquema de segurança foi o mesmo. Houve um exagero interpretativo.

AE - Como o escândalo influiu no clima da concentração?
Feldman - A seleção está muito tranquila. A vitória belíssima (contra o México) mostrou que não há nenhum tipo de conflito ou contaminação pelo excesso de notícias. Podemos chegar a Copa América com dez jogos invictos. (N.R.: a entrevista foi feita antes do amistoso desta quarta-feira contra Honduras. O Brasil venceu por 1 a 0 e chegou a dez jogos de invencibilidade).

AE - O que mudará no estatuto da entidade?
Feldman - Isso faz parte da democratização dos países e é oxigenação permanente de seus líderes. Mandato será de quatro anos com uma reeleição, os clubes terão uma comissão nacional permanente na CBF e autonomia de debate dos seus problemas. Tem, ainda, o fim do poder de veto da CBF nos conselhos arbitrais. Tudo que for decidido sobre competições, valor de ingresso, rendas será decidido pelos clubes, sem interferência da CBF.

AE - Esse processo de democracia interna esvazia a criação da Liga?
Feldman - A Liga é feita por setores de oposição que fazem contraponto a CBF. É um movimento político. Não há elemento de dificuldade junto à CBF. A Liga aparece para criar um sistema de crítica à CBF. Isso é injusto porque a CBF cumpre seu papel sem ter nenhum retorno do ponto de vista financeiro.

AE - Não há retorno financeiro? Estamos vendo no noticiário que não é bem assim...
Feldman - Os erros cometidos por gestões anteriores estão sendo investigados. A CBF tem seu recurso auferido do patrocínio da seleção brasileira. Essa é a receita.

AE - Foi você quem pediu a retirada do nome do Marin da sede da CBF?
Feldman - Quando houve a decisão do banimento provisório, a diretoria, na ausência do Marco Polo, achou que deveria sugerir a retirada do nome até o julgamento final. Foi uma decisão coletiva.

AE - O nome pode voltar ao prédio?
Feldman - Se ele for inocentado, temos que rever o banimento.

AE - O Bom Senso F.C. pediu a renúncia do Marco Polo. O que achou disso?
Feldman - O Bom Senso foi no estouro da boiada. Um boi fica nervoso, dispara e a turma vai atrás sem muito entender o que está acontecendo. Eu lhe pergunto: qual o motivo para a renúncia do Marco Polo? Acho estranho pedir a renúncia. Temos falado com eles reiteradamente.

AE - O Ronaldo, que foi um aliado, também começou a criticar a atual gestão. O que achou disso?
Feldman - Ronaldo é um extraordinário jogador, mas chutava para fora também. Nesse caso, ele também foi no estouro de uma parte da boiada.

AE - Vocês pretendem em algum momento assumir a defesa do Marin e do Ricardo Teixeira?
Feldman - Não. Cada um responde por seus atos. Estamos fazendo uma reanálise de todos os contratos, mas não existe responsabilidade pelo que a gestão anterior.

AE - Marin e Del Nero não eram do mesmo grupo? Você acha que o Tancredo era do grupo do regime militar? O Itamar Franco era do grupo do Fernando Collor?
Feldman - Era. Tanto que foi seu vice presidente... Estar junto não é ser do mesmo grupo. Marco Polo entra e propõe contratar a Ernst & Young, criar um sistema de compliance, reduzir o mandato, dar mais espaço para o clube. Outras gestões não fizeram isso. O grande esforço de setores contra a gestão da CBF é dizer que é tudo a mesma coisa. Isso é onda, espuma, cena. A gestão Marco Polo tem a cara dele. É inteiramente nova.

AE - Por que escolheram João Doria para comandar a delegação no Chile?
Feldman - O futebol é uma atividade do Brasil, não de dirigentes e jogadores. Pertence a todo pensamento e alma do povo brasileiro. Um dos problemas do futebol foi ter ficado um longo período sob a batuta dos dirigentes. Marco Polo quer abrir completamente. Trazer formadores de opinião e agentes não militam no futebol.

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