Saúde mental no esporte e quebra de tabu: por que precisamos falar de Simone Biles?

Lohanna Lima
@jornalhojeemdia
28/07/2021 às 19:39.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:32
 (Reprodução / Instagram)

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Aos 24 anos, Simone Biles é o assunto dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Tudo estava dentro do previsto, afinal a ginasta chegou ao evento como principal nome e apontada como favorita a subir em diversos pódios, tal como Michael Phelps, Usain Bolt, entre outros, em edições passadas. Mas não é por medalhas que todos têm falado dela. 

Após uma estreia fora do padrão e um segundo dia de disputa em que a atleta atingiu uma das notas mais baixas após um salto, Biles desistiu de disputar a final por equipes nessa segunda-feira (27) e, posteriormente, a individual geral nesta quarta (28). O motivo? Sua saúde mental. 

É raro ver debates sobre o tema no meio do esporte. Análises e avaliações são feitas com base no desempenho dos atletas nas competições, sem que o lado emocional de cada esportista seja levado em consideração na maioria das vezes. Ao desistir da busca por medalhas em Tóquio, Simone expõe toda sua fragilidade, seus anseios e a pressão por ser uma das maiores atletas da história, não só na ginástica como também na Olimpíada. 

A presença dela na disputa das finais por aparelhos ainda é uma incógnita. Desde segunda, algo raro vem acontecendo nos principais meios de comunicação que acompanham de perto os Jogos de Tóquio: longas discussões sobre o emocional dos atletas foram abertas. A pergunta que fica é: por que uma discussão tão importante raramente é levantada – ou pelo menos lembrada – na hora de falar sobre performance? A psicóloga do esporte, Michelle Rios, explica um pouco sobre por que o tema é um tabu.

“Estamos vivendo uma nova era em que o tema saúde mental vem sendo bem discutido por conta dos casos da Naomi Osaka, tenista que pediu para não jogar um Grand Slam por causa da saúde mental, e agora o caso da Simone Biles. Esse tabu está sendo quebrado nesse exato momento. Um tema que não era muito conversado justamente pelo estigma social. Há um estigma de que quem precisa de psicólogo é doido, louco, fraco. A saúde mental foi muito discutida na pandemia. Pois após esse período tivemos vários casos de pessoas ansiosas, com depressão, então trouxe à tona algumas questões individuais, de saúde mental, que fizeram com que as pessoas pesquisassem mais ou procurassem pela terapia. O mundo está aceitando mais ser vulnerável”, avaliou.

Opinião de quem vive a ginástica 

Diante da ampla discussão sobre a questão emocional dos atletas de alta performance, o técnico da ginástica artística do Minas Tênis Clube desde 2008, Antônio Lameira Gonzalo, trouxe à tona a questão da individualidade de cada esportista e que a situação de Simone, em sua visão, não refletirá na modalidade como um todo.  

“Essa é uma questão de pessoa para pessoa, atleta para atleta. Não há nada de negativo em tomar a decisão que ela tomou para preservar a saúde dela. Nós somos seres humanos, e concordo muito com ela em relação a isso. A grande mídia a tem tratado como uma ‘super heroína’, mas não vejo assim. É uma coisa humana dela”, opinou o treinador, que ajudou na preparação de Caio Souza, um dos representantes da seleção brasileira em Tóquio.

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