Seleções da Europa se isolam com início da Liga das Nações

Estadão Conteúdo
06/09/2018 às 09:03.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:19
 (Fifa)

(Fifa)

Enterrando uma era de amistosos polêmicos e acusados de "caça-níqueis", começa nesta quinta-feira, (6) um novo torneio na Europa: a Liga das Nações. Sua criação, porém, é vista por dirigentes de fora do continente como um início de modificação profunda na estrutura do esporte e uma ameaça de isolar, cada vez mais, a periferia do futebol, inclusive a América do Sul, com seus nove títulos mundiais - cinco do Brasil, dois da Argentina e mais dois do Uruguai.

Quando Alemanha e França entrarem em campo nesta quinta-feira, os europeus vão estar dando uma mensagem clara: a Europa irá ditar o calendário internacional do futebol e, quem quiser se juntar a ela, terá de ceder a seus interesses. O formato da disputa foi resistido pelo Brasil, demais países da Conmebol e diversas outras federações pelo mundo. A CBF, por exemplo, já deixou claro, perante a Fifa, sua a insatisfação.

Existiam dois temores oficiais. O primeiro era de que, com o novo torneio de um ano de duração jogado nas datas Fifa para amistosos, os europeus, assim, impediriam que seleções como a do Brasil enfrentassem times como o da Espanha, Itália, França ou Alemanha.

Na prática, a seleção brasileira apenas testaria suas forças contra os europeus numa Copa do Mundo, evento que há quatro edições é dominado pela Europa - Itália, em 2006; Espanha, em 2010; Alemanha, 2014; Franca, em 2018. O risco, portanto, é de um distanciamento cada vez maior entre a qualidade do futebol europeu e o restante.

A segunda ameaça é, segundo a CBF, financeira. Fonte de dinheiro para a entidade brasileira, os amistosos agora apenas poderiam ocorrer contra rivais da América do Sul, América do Norte, árabes, asiáticos ou africanos. "Vamos jogar 300 vezes contra a Argentina", ironizou um cartola brasileiro ao Estado.

Pressionada, a Fifa saiu em busca de resposta. Mas a proposta que está sobre a mesa não passa de repetição do formato europeu, em uma espécie de Liga Mundial. Dia 24, em Londres, o assunto será discutido.

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, vive uma saia-justa. Se hoje ele precisa dar uma resposta aos demais países, não pode dizer que é contra a Liga das Nações europeias. Afinal, foi ele que, como secretário-geral da Uefa, criou a nova competição.
A formatação de um torneio mundial, porém, enfrenta dificuldades. Pelo projeto exposto, cada região do planeta teria suas ligas continentais e só uma final promoveria um quadrangular com os melhores de cada região. Para a Conmebol, a proposta não é suficiente.Além disso, a Fifa quer vender a organização da disputa para um fundo. Em troca, receberia bilhões de dólares em renda.

DISPUTA - A história do novo campeonato europeu se confunde com a disputa pelo poder e pela fatia de contratos bilionários no futebol internacional. Sua elaboração teve início há cerca de dez anos. Naquele momento, dirigentes da Uefa se reuniram para fazer uma constatação: o poder dos clubes era cada vez maior e se o futebol de seleções se limitasse à Copa do Mundo e Eurocopa, existiria risco real de o epicentro do esporte mudar definitivamente para os superclubes europeus. Então, Michel Platini, hoje afastado por corrupção, e Infantino pensaram na Liga das Nações.

FORMATO - No torneio que começa nesta quinta, as 55 seleções são divididas em quatro ligas, espécies de divisões. Os vencedores de cada uma delas se encontram para semifinais e final em junho de 2019, num só país, ainda não definido. Os quatro últimos colocados de cada liga cairão para divisão inferior, em 2020. O torneio também vale quatro vagas para a Eurocopa de 2020, além de determinar o ranking geral da Uefa para os sorteios das Eliminatórias.
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