Sem dinheiro e desmotivados com a Lei Pelé, clubes se viram na montagem de times para os estaduais

Gláucio Castro - Hoje em Dia
26/10/2015 às 07:36.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:13
 (Carlos Henrique)

(Carlos Henrique)

O futebol brasileiro passa por uma profunda crise dentro e fora das quatro linhas. Sem renovação, a Seleção pentacampeã do mundo é praticamente refém do craque Neymar. O problema é que as categorias de base, tradicionais formadoras de atletas, estão morrendo, principalmente no interior.

Os 12 clubes que vão disputar o Campeonato Mineiro de 2016, só América, Atlético, Cruzeiro e Villa Nova contam com divisões de base regulamentadas.

Apesar de os dirigentes serem unânimes em apontar a formação de atletas como principal alternativa para reduzir os gastos com contratações, eles citam os altos valores para manter profissionais capacitados e falta de local para treinar como principais responsáveis pelo fim das categorias de base.

Outro entrave seria a Lei Pelé, criada em 1998. Pela norma, os clubes formadores ficam com a menor parcela no caso de venda de alguma revelação, o que acaba desmotivando as diretorias a investirem no negócio.

Na Série B, mas sem base

Garantido na Série B do Brasileiro de 2016, o Tupi, de Juiz de Fora, não conseguiu arcar com as despesas e encerrou a atividade de suas divisões inferiores, em 2012. Com o incremento nos cofres, motivado pelo acesso recentemente conquistado pelo Galo Carijó, a diretoria do time da Zona da Mata já planeja o ressurgimento da base.

“Nosso primeiro passo será a reforma do Centro de Treinamento Santa Terezinha. Logo depois vamos voltar a investir na base. Esperamos conseguir reativá-la até 2017”, promete o vice-presidente do Conselho Gestor, Cloves Santos.

Segundo ele, o clube precisaria destinar em torno de R$ 60 mil por mês para manter a base. Antes do acesso, as receitas do Tupi estavam na casa de R$ 1,1 milhão mensais, entre contratos de patrocínio e renda com bilheteria. “Nossa expectativa é aumentar bastante essas cifras em 2016. Só de cotas de televisão esperamos receber algo em torno de R$ 7 milhões, o que vai nos ajudar muito. Os patrocínios também devem aumentar. Aí teremos condições de pensar na base”, completa.

Lei Pelé atrapalha

Outra equipe que fez bonito em 2015, a Caldense, finalista do Estadual, fechou as categorias de base há cerca de cinco anos por falta de condições financeiras. Vice-presidente do clube, Franco Martins acredita que precisaria desembolsar cerca de R$ 50 mil/mês para reativá-la.

“Não queremos manter uma divisão de base mais ou menos e estamos sem condições agora. A Lei Pelé atrapalhou muito, porque você forma o atleta e fica com uma parcela muito pequena na hora da venda. O filé fica mesmo é com os empresários”, pondera.

No início deste ano, a diretoria do Guarani, de Divinópolis, tentou voltar com o futebol de base. Fez uma peneirada na região e selecionou jovens que disputaram a Taça BH e agora atuam na Copa Super Craque, um torneio de juniores realizado na Região Centro Oeste de Minas Gerais para descobrir novos talentos.

Apesar de não receber salários ou qualquer ajuda de custo, os jogadores que se destacarem serão aproveitados pelo time principal do Guarani, no Estadual do ano que vem.

Times da capital oferecem boa condição aos jovens atletas

Enquanto o futebol de base agoniza no interior de Minas Gerais, Atlético e Cruzeiro oferecem às jovens promessas uma estrutura que impressiona. A diretoria da Raposa investe cerca de R$ 10,5 milhões por ano e o Atlético em torno de R$ 12 milhões.

Apesar do investimento mais modesto, o América também apresenta boas condições para as categorias inferiores, com um CT em Santa Luzia.

Antiga concentração da Seleção Brasileira na fase de preparação para as Copas de 1982 e 1986, a Toca da Raposa I, instalada em uma área de 60 mil metros quadrados, funciona exclusivamente para atender aos futuros craques.

Atualmente, o Cruzeiro reúne 152 garotos, divididos em quatro categorias. Muitos moram no próprio centro de treinamento – Ronaldo Fenômeno, na década de 90, também passou uma temporada no local –, onde contam, além de toda infraestrutura necessária, inclusive com escola.

“Nossa meta é revelar de três a cinco jogadores por temporada”, projeta o novo superintendente das categorias de base do Cruzeiro, Antônio Assunção, o Toninho, que ocupa a vaga deixada por Bruno Vincitin, atual vice-presidente de futebol do clube. “Principalmente agora, com as várias adequações que os clubes terão que fazer por causa do Profut (programa de refinanciamento de dívidas), a base se torna ainda mais fundamental”, diz.

Para entrar no clube, o jovem que sonha em vestir a camisa estrelada tem várias opções. Uma delas, participar das peneiradas, abertas a todos e realizadas uma vez por mês. As outras, ser descoberto por algum olheiro ou ainda no Circuito Base Forte, competição que reúne na Toca da Raposa equipes de várias regiões de Minas Gerais.

Atlético

O sistema para entrar na base do Atlético, que reúne 120 jovens, é praticamente o mesmo. As categorias de base funcionam na própria cidade do Galo, onde os atletas têm um contato direto com os profissionais. Na parte educacional, os jogadores estudam em escolas da região.

“Até pensamos em montar uma escola aqui dentro. Mas achamos mais interessante que os jovens saiam do CT e tenham um pouco de contato com pessoas da comunidade, ampliem o círculo de amizade”, explica o coordenador geral do Sub-20, Anísio Silva. Ele tem na ponta da língua a resposta para o fim da base no interior. “Manter essa estrutura custa caro”. (G.C.)

 

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