Skatistas veem ‘efeito Fadinha’ capaz de impulsionar o esporte e quebrar preconceito de gênero

Lucas Borges
@lucaslborges91
27/07/2021 às 19:34.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:31
 (Maurício Vieira/Hoje em Dia)

(Maurício Vieira/Hoje em Dia)

No início da semana, uma maranhense de apenas 13 anos fez história ao conquistar a medalha de prata para o Brasil no skate street, nos Jogos de Tóquio. Mais que o pódio na estreia da modalidade no principal evento esportivo do planeta, o feito de Rayssa Leal tem tudo para causar um impacto positivo em um esporte ainda estigmatizado em terras tupiniquins, especialmente em relação a mulheres.

Além do pouco incentivo por parte das autoridades e dos empresários, o skate é visto por boa parte das pessoas como uma modalidade predominantemente masculina.

Atleta profissional e professora de skate, Lorena Fernanda conta que o esporte ainda é um tabu para muita gente.

“Há muitas comparações da sociedade. Pessoas dizendo que mulher que anda de skate é menino. Que mulher tem que arrumar casa, que tem que fazer coisas de mulheres. No skate feminino, sempre sofremos muita repressão por ser um esporte mais visto por praticantes homens. Sempre teve um preconceito da sociedade em si”, completa.

Com 13 dos seus 26 anos dedicados ao skate, Lorena conta que manifestações preconceituosas são explícitas e rotineiras.

“Andando na Praça da Assembleia uma moça veio brigar comigo, mandando eu ir arrumar casa, porque esse esporte de homem, que eu não deveria estar ali. Já teve policial que mandou eu ir brincar de boneca, porque skate seria coisa de homem. Isso não me atinge, porque sei o que o skate representa pra mim, mas não é assim com todas”.

Aumento na procura
Professora em uma pista particular no Centro de Belo Horizonte, Lorena revelou que a demanda pelas aulas aumentou desde o início da participação do skate nos Jogos Olímpicos.

“Sim, houve uma procura legal nos últimos dias, com vários pais mandando mensagens interessados. O skate é um meio de mudança de vida. É muito importante termos o reconhecimento que temos hoje, mas sem deixar a essência do skate morrer”.

No mesmo tom que a atleta, Stephane Guimarães, praticante do esporte, e ativista Pró-skate feminino, como ela mesmo se autodenomina, vê o desempenho da Fadinha como um potencial catalisador da evolução da modalidade no Brasil.

“O skate feminino nunca esteve em evidência. Os principais personagens que tínhamos até hoje eram figuras masculinas. Então, a vitória da Rayssa mostrou para os brasileiros e para o mundo, o que a gente, da comunidade do skate feminino já sabia: o potencial que as meninas tem e a quantidade de skatistas boas que temos no país. A vitória dela foi uma vitória do skate feminino. Deixou o Brasil apaixonado por skate”, disse Stephanie, que trabalha como analista de sistemas.

Reforma estrutural
Umas das principais críticas dos praticantes de skate em Belo Horizonte é a escassez de lugares próprios acessíveis à prática da modalidade.

“Falta bastante (incentivo). Precisamos de espaços públicos, que as autoridades olhem para nossas pistas de skate em Belo Horizonte. Atualmente, de street (modalidade do skate) temos duas pistas, no Parque Ecológico Nossa Senhora da Piedade e uma no Parque das Mangabeiras. No bowl (outra modalidade), temos na Lagoa do Nado. Somos carentes de espaço para praticar”, disse Lorena Fernanda.

Diante desse cenário, Stephanie Guimarães crê que o sucesso verde e amarelo em Tóquio, também impulsionado pela medalha de prata de Kelvin Hoelfler, pode incentivar melhorias nas condições para os praticantes.

“Acredito que essa visibilidade que a vitória dela traz para o skate pode causar uma mudança estrutural. Que o skate das meninas seja visto como um esporte com mesmo potencial e oportunidades que as dos homens. Com as marcas colocando meninas no seu time, não só priorizando os meninos. Tem que ter uma consciência que é um esporte que está evoluindo, mas tem todo um tempo de aprendizagem, todo um processo para que a gente forme novas skatistas”.

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