Unificação: Bahia e Atlético duelam também pela condição de primeiro campeão brasileiro

Alexandre Simões
@oalexsimoes
18/10/2020 às 15:58.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:49

Em 20 de dezembro de 2010, uma resolução da presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), na época comandada por Ricardo Teixeira, decretou a unificação dos títulos nacionais, com os extintos Taça Brasil e Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão ou Taça de Prata (a partir de 1968), sendo equiparados ao Campeonato Brasileiro.

A canetada do cartola teve como base o “Dossiê da Unificação dos Títulos Brasileiros a partir de 1959”, produzido pelo jornalista Odir Cunha em conjunto com o afastado presidente do Santos, José Carlos Peres.Arquivo/ Hoje em DiaO Atlético venceu o Campeonato Brasileiro de 1971, considerado até 2010 a primeira edição do torneio

O material se transformou inclusive num livro, de 326 páginas, que tem como parte final justamente o documento assinado por Ricardo Teixeira, com quatro laudas e o poder de criar uma das maiores polêmicas do futebol brasileiro em todos os tempos.

E a maior delas tem relação direta com o confronto que fecha, nesta segunda-feira (19), às 20h, no Estádio do Pituaçu, em Salvador, a 16ª rodada da Série A. Estarão em campo, Bahia, campeão da Taça Brasil, em 1959, e Atlético, vencedor do Campeonato Nacional de Clubes, em 1971.

Ambos usam a frase “primeiro campeão brasileiro” como uma de suas marcas. E essa duplicidade de pioneirismo já dura quase uma década.

Argumentos

Os argumentos apresentados no “Dossiê da Unificação” são os que constam na resolução assinada por Ricardo Teixeira. O documento fala da regularidade das disputas nacionais a partir de 1959; que eram as únicas competições nacionais de futebol (embora ambas tenham sido disputadas em 1967 e 1968); a repercussão e o nível técnico dos torneios; que apontavam os representas do Brasil na Copa Libertadores; e que contaram com todos os atletas campeões do mundo pela Seleção em 1958, 1962 e 1970.Bahia/ArquivoO Bahia venceu a primeira edição da Taça Brasil, em 1959, derrotando o Santos, de Pelé, na decisão

Além disso, o “Dossiê da Unificação” tem uma parte, que não foi incluída no documento divulgado pela CBF em 20 de dezembro de 2010, promovendo a unificação dos títulos, em que são relatados os vários nomes do Campeonato Brasileiro a partir de 1971.

A competição se chamou Campeonato Nacional de Clubes (1971 a 1974); Copa Brasil (1975 a 1979, 1984 e 1986); Taça de Ouro (1980 a 1983 e 1985); Copa União (1987 e 1988); Campeonato Brasileiro (1989 a 1999 e a partir de 2001) e Copa João Havelange (2000).

Opinião

Um dos principais conhecedores da história do futebol brasileiro e com vários livros publicados sobre nossas competições e clubes, o jornalista Celso Unzelte tem uma opinião de respeito e reconhecimento às conquistas entre 1959 e 1970, mas de crítica à unificação promovida pela CBF.

“Isso é um problema. Costumo usar uma frase, que não é porque hoje vivemos numa República que vamos chamar Dom Pedro de presidente. Ele era Imperador. Até mandava mais. Isso na história é o que chamamos de anacronismo. Você querer enxergar as coisas com as lentes de outro tempo. Quando você transforma tudo isso em Campeonato Brasileiro, você está faltando com a verdade”, afirma Unzelte.

O jornalista afirma que não se pode desvalorizar de forma alguma as competições nacionais disputadas até 1970, mas que principalmente a Taça Brasil tem características muito mais próximas da Copa do Brasil que do Brasileirão.

“Sou contra quem diminui. A Taça Brasil de 1966, por exemplo, foi um marco tão grande, que em 1967 tivemos Minas e Rio Grande do Sul, principalmente, no Rio-São Paulo. Não é nem questão de depreciar. Mas você não precisa dar o carimbo de Campeonato Brasileiro para valorizar essas competições”, completa Unzelte.

Com opiniões a favor e contrárias, a unificação completa dez anos, e o Campeonato Brasileiro segue com dois primeiros campeões.

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