Cento e seis anos de história, três presidentes em menos de um ano e apenas 265 pagantes na última partida em casa. A equipe mais tradicional do interior mineiro agoniza e praticamente paga para jogar. Com dois pontos em cinco jogos pela Série D, o Villa Nova corre sério risco de não avançar para a próxima fase. O time mineiro entraria em campo no domingo, mas o adversário, o Itaporã-MS, desistiu da disputa.
O Leão do Bonfim também vive uma situação financeiramente delicada. Em nove jogos como mandante na temporada, o time de Nova Lima não levou prejuízo apenas no clássico contra o Atlético. Em todos os outros compromissos, acumulou perdas.
Os bastidores também estão tumultuados. Anísio Clemente Filho renunciou à presidência em 26 de agosto, menos de um ano após ter assumido a vaga de Jairo Gomes, que havia deixado o posto em outubro de 2013 alegando problemas de saúde. Funcionário da base há dois anos e empresário do ramo de construção civil, Aécio Prates de Araújo é o terceiro cartola a ocupar a cadeira em um período inferior a 12 meses.
“O primeiro desafio é atrair parceiros e patrocinadores. Quero valorizar a base. Temos vários jogadores que podem ser aproveitados no time principal. Acredito que essa é a melhor saída”, aponta o novo presidente. Segundo ele, a atual folha salarial gira em torno de R$ 120 mil.
O Villa conta com a empresa do próprio mandatário como maior patrocinadora, além da ajuda de outros empresários locais. A prefeitura da cidade, por meio de uma lei municipal, destina parte dos recursos às categorias de base do clube e ainda empresta o Estádio Castor Cifuentes para que o time possa treinar e jogar.
A situação é tão complicada que dois fisioterapeutas e dois médicos abandonaram o clube por falta de pagamento. Alegando pouco tempo no cargo, Araújo preferiu não detalhar as receitas e despesas do clube.
A primeira ação efetiva do novo presidente foi demitir o técnico Walter Murilo e contratar Walace Lemos, treinador com passagens por Santo André, Betinense e o Guarani de Campinas. Ele é o terceiro técnico a comandar a equipe nesta temporada. Contratado no início do ano, o ex-jogador Paulinho Kobayashi acabou substituído no meio do Campeonato Mineiro.
Falta dinheiro, sobram multas e casos de má administração
As constantes mudanças no comando do Villa Nova acarretam uma série de problemas para o clube. Cada presidente que entra tenta implantar uma filosofia diferente, promovendo alterações na comissão técnica e no elenco. Com contratos encerrados antes do prazo, restam as multas.
Pessoas ligadas ao Leão contam que uma das primeiras ações do ex-presidente Anísio Clemente foi demitir o técnico Alexandre Barroso e sua comissão técnica, em 8 de outubro de 2013. O problema é que, segundo uma cláusula contratual, se o treinador fosse dispensado antes de novembro, o clube teria que arcar com os salários de Barroso até o fim do contrato, em maio deste ano.
O técnico e o supervisor Dárcio de Souza já ganharam a ação em primeira instância e, por causa de 22 dias, o clube deverá ter que pagar cerca de R$ 500 mil em multas aos dois ex-funcionários. A reportagem tentou contato com Anísio durante toda a semana, mas ele não atendeu as ligações.
Vai e vem
As constantes mudanças na presidência não são novidade. Nos últimos cinco anos, o Villa teve média de um dirigente por temporada. Natural de Nova Lima e revelado pelo clube, o ex-zagueiro da Seleção Luizinho foi o primeiro a abandonar o barco.
Eleito com votação expressiva, o ex-jogador ficou cinco meses no cargo e renunciou em maio de 2009 para a entrada de José Raimundo Martins, o Zuca. Logo em seguida, foi a vez de Adão Gomes Filho, afastado pelo conselho menos de um ano depois, no primeiro impeachement da história do clube.
Após dois anos conturbados, o ex-presidente Jairo Gomes voltou à presidência. Mas, reeleito para o cargo, teve que se afastar em 2013. Alegando problemas de saúde, cedeu a cadeira para Anísio Clemente assumir o clube pela terceira vez.