Xterra: adrenalina e velocidade se misturam a histórias de determinação e solidariedade

Henrique André - Hoje em Dia
28/09/2015 às 08:18.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:52
 (Arthur Mazai)

(Arthur Mazai)

TIRADENTES – Até onde vai a superação do ser humano? No caso da família Guimarães, a força de vontade e o amor pelo pai, Luiz, fizeram com que os filhos Gabriel e Daniel superassem os obstáculos da corrida do maior evento outdoor do planeta, o Xterra, e cruzassem a linha de chegada sob uma chuva de aplausos de quem esteve em Tiradentes neste final de semana.

Exauridos e longe do tempo de Antônio José Gonçalves da Silva, campeão da prova noturna de sete quilômetros, com 28min38s, os irmãos e outros vários amigos não chegaram nem entre os cem primeiros corredores, mas tornaram-se os protagonistas da noite de sábado por um motivo: adaptaram um monociclo e empurraram o pai, vítima de uma encefalite (inchaço no cérebro), por todo o percurso.

“Meu pai era tenente do exército quando adoeceu, há 27 anos. Na época, ele era atleta e sempre gostou muito de correr”, conta Daniel, que hoje é tenente do Corpo de Bombeiros de São João Del Rey e que desde 2013 participa da prova com o pai, o irmão e um grupo de amigos que os ajudam durante o trajeto.

Incapacitado de falar, andar e com muita dificuldade para se movimentar, Luiz, hoje com 53 anos, traduziu a emoção de participar do Xterra com um sorriso no rosto. Cercado por uma multidão que queria conhecê-lo de perto, o ex-tenente foi levado ao pódio e foi consagrado com mais uma medalha para a coleção.

“Quando eu era mais novo, meu pai andava um pouco, tomava banho sozinho, mas não falava. De uns cinco anos para cá, ele deu uma piorada forte”, lembra Gabriel, que trabalha numa imobiliária.

Durante a semana, quando não tem os filhos por perto, Luiz é assistido pela esposa, Christina Rodrigues, que, segundo Daniel e Gabriel, sempre segurou a barra em casa, cuidando dos três.

Cidade cheia e calor

Além dos Guimarães, cerca de cinco mil atletas estiveram nas ruas e praças de Tiradentes nos dois dias de provas do Xterra. De acordo com comerciantes da cidade, a nona etapa do evento fez com que o número de clientes em bares, restaurantes e lojas aumentasse cerca de 30%. neste final de semana, em relação aos passados.


Quem não pôde competir foi para ver de perto as provas

Competir nem sempre é o mais importante. Às vezes, sair de casa, pegar estrada e sentir de perto adrenalina dos competidores já basta. E foi o que fez o empresário José Gilberto de Melo, de 74 anos.

Corredor há mais de duas décadas, ele saiu de Juiz de Fora e foi até Tiradentes para ver de perto as provas do Xterra. Porém, desta vez não pôde juntar-se aos atletas do grupo de corrida Super Amigos, criado por ele há 25 anos. Há pouco mais de um mês, o idoso com disposição e jeito de menino passou por uma cirurgia no coração.

Após um susto em 2001, quando o coração esteve perto de parar, o empresário precisou colocar um marcapasso. Hoje, após a segunda substituição do aparelho, Gilberto orgulha-se de falar das mais de mil medalhas e troféus que acumulou durante as três décadas dedicadas ao esporte, e das maratonas das quais participou até pouquíssimo tempo atrás.

“Mesmo com o marcapasso eu continuei correndo. Vim para Tiradentes porque já tinha me inscrito no Xterra antes da última cirurgia”, contou o empresário. “Como o marcapasso foi colocado há pouco tempo, prefiro não arriscar e esperar mais um pouco para voltar”, acrescentou.

A expectativa do empresário é voltar logo aos treinos e às competições. “Se eu não correr, eu morro. Às vezes, o marcapasso atrapalha mais a cabeça das pessoas do que o coração”, brincou.
 

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