Zagueiro do Villa Nova é aposta do Bom Senso F.C. para representar pequenos

Henrique André - Hoje em Dia
21/09/2015 às 07:58.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:48
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Quanto vale o sonho de ser um jogador de futebol profissional no Brasil? Para os atletas que atuam em clubes pequenos do país, o preço é alto e, na maioria das vezes, as dívidas viram bola de neve e o saldo bancário é bem negativo.

Além de não contarem com os benefícios de um trabalhador comum – 13º salário e FGTS, entre outros –, quem se arrisca a viver do futebol em clubes de pequeno porte convive, na maioria das vezes, com promessas não cumpridas de dirigentes, além de alojamentos precários e cobradores batendo à porta de casa.

Este é o caso do zagueiro Marco Tiago e vários outros jogadores contratados pelo Villa Nova para a disputa do Campeonato Mineiro – o time terminou em sexto lugar – e a Série D do Brasileiro, competição na qual ficou na lanterna entre os 40 participantes, assim como em 2014.

Tiago, 31 anos, se cansou da situação calamitosa de quem não tem o luxo de atuar nos grandes clubes e resolveu descruzar os braços. Com o apoio de 15 atletas do Leão, ele agiu e comandou uma greve no clube pentacampeão mineiro.

Com até nove meses de salários atrasados, no início do mês passado o grupo se recusou a treinar e a jogar, e acionou o alvirrubro judicialmente, cobrando a quitação dos vencimentos.

“Esta é a situação dos jogadores de muitos clubes brasileiros. Respeitamos o Villa Nova e sua história, mas temos nossas contas para pagar”, conta o zagueiro, que teve o mesmo problema no Mamoré, no Asa-AL e em outros clubes onde atuou.

A iniciativa do defensor ganhou tanto destaque que ultrapassou os limites de Nova Lima e despertou a atenção do Bom Senso F.C. O movimento, que busca defender os direitos dos atletas profissionais, procurou Marco Tiago e o convidou para ser o “porta-voz da periferia” em Minas Gerais.

Feliz com a oportunidade, ele espera que outros atletas abracem a causa e exijam a profissionalização dos clubes menores.

Além de ter o zagueiro como aliado, o movimento promete auxiliar os demais com assistência jurídica e qualquer outro tipo de orientação.

Problema comum

 

ALOJAMENTO PRECÁRIO – Meia Douglas Guedes, o Alemão, tenta encontrar espaço no alojamento do Villa Nova, no Alçapão do Bonfim; alimentos e equipamentos se misturam no quarto

 

No Villa desde 2011, o goleiro Thiago Braga diz que é a pior crise do Leão e destaca que esta realidade está longe de ser exclusiva do clube. “Tive o mesmo tipo de problema no Ipatinga. O clube estava na Série A do Brasileirão (2008) e também não nos poupava destas dores de cabeça”, relata.

Segundo emprego é solução para sobreviver

Sem o glamour de quem atua em grandes clubes brasileiros, os jogadores da periferia buscam alternativas para diminuir as dívidas e conseguir sustentar as famílias. Marco Tiago, por exemplo, dribla a falta de compromisso dos dirigentes e ganha dinheiro com uma loja on-line. Já o meia atacante Ewerton, o Alemãozinho, faz bicos pela cidade.

Natural de Nova Lima, o prata da casa, 21 anos, não recebe o salário de R$ 1.700,00 há nove meses e foi obrigado a achar uma saída. “Não tenho vergonha de contar que faço bicos por aí. O último foi com um amigo que tem um bufê”, conta Alemãozinho, que deixa a chuteira no precário alojamento do clube para atuar como garçom em festas.

A situação dos quartos instalados no estádio Castor Cifuentes é tão precária que ele e os demais hóspedes precisam da luz do dia para arrumar os pertences; isso porque em um desses ambientes o sistema de iluminação estragou e não foi consertado.

Usar a luz que vem do corredor, da televisão do quarto vizinho ou da janela, quando o dia ainda está claro, é a única solução para não ficar totalmente no breu. Outro problema presenciado pela reportagem é o mau cheiro nos banheiros.

Vestibular da bola

Em busca de uma vida melhor, os jogadores relatam que a chave do sucesso é se destacar no primeiro semestre do ano para ter emprego garantido nos outros meses, numa espécie de vestibular.

O período, que geralmente vai de dezembro ao final de abril, serve também para fazerem um “pé de meia”para os dias de incerteza.

Contudo, como não recebem aquilo que lhes é prometido, os jogadores vêem os planos se perdendo e a única esperança é na justiça. “Tem dirigente que até prefere que a gente entre na Justiça. Para eles, é um processo a mais na fila”, relata o zagueiro Elder. (H.A)

 

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