Zagueiro Gabriel sonha em fazer história no Atlético

Henrique André
hcarmo@hojeemdia.com.br
26/05/2017 às 16:54.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:44

Percorrer os cerca de 30km que separam Matozinhos, na Região Metropolitana, da Cidade do Galo, em Vespasiano, faz parte da rotina do zagueiro Gabriel há uma década. Hoje, de carro, ele gasta 25 minutos e consegue pegar o almoço da mãe, dona Edcarla, ainda quentinho na panela.

Elogiado pelo técnico Tite na última convocação da Seleção Brasileira, a revelação de 22 anos virou destaque na mídia e viu o mercado da bola se abrir em poucos dias, mesmos não estando na lista.

Comparado ao zagueiro Marquinhos (Paris Saint Germain-FRA), o camisa 30 da zaga alvinegra curte o bom momento, mas rechaça deixar o Galo antes de uma grande conquista.

Das peladinhas na rua Aimorés, ao lado dos amigos Bruno, Daniel e do irmão Pedro, à titularidade absoluta no Atlético, onde atua com Victor, Marcos Rocha, Robinho, Fred e outros consagrados jogadores, o tempo passou como sopro na vida do defensor.

Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o filho de Sr. Sebastião, ou Chico, fala sobre como é atuar no clube de coração, comenta o elogio de Tite, revela o sonho de atuar na Europa, e destaca a amizade com o atacante Fred, do qual tem recebido vários conselhos para prosperar na carreira.

Em 2016, você fez 25 partidas. Em cinco meses de 2017, já são 23 jogos. Uma mudança de papel que pode mexer com a cabeça de um jogador de 22 anos. Como é se tornar titular absoluto de uma equipe tão concorrida como a do Atlético?

É fruto de muito trabalho. Todo jogador que vem da base tem este propósito de conquistar espaço no Atlético. Graças a Deus, no primeiro ano, e agora, no segundo, estou tendo vários jogos em sequência. Então fico muito feliz e sei que posso ajudar e acrescentar muito ainda. E, é claro, conquistar títulos.

Você praticamente cresceu no Atlético. O ar de Vespasiano é praticamente o de Matozinhos, onde você foi criado. Isso te faz se sentir mais em casa que os outros?

A rotina é muito boa e estar perto de casa e da família é muito bom. Meus familiares são meu porto seguro. Nos momentos de tristeza tenho todos ao meu lado. É uma motivação muito grande para entrar em campo. É gratificante ter o reconhecimento de todos e vê-los orgulhosos.

“Fico feliz por ter feito esses gols nos últimos jogos. Isso (altura) não me atrapalha. Os melhores zagueiros do mundo não tinham mais de 1,83m. Puyol, Cannavaro, Gamarra e outros. Procuro trabalhar bastante para estar sempre preparado”

Como é chegar à equipe principal e ser campeão sobre o Cruzeiro, maior rival, o qual você sempre enfrentou nas categorias de base?

O Atlético é meu time de coração. Você vai criando um amor maior ainda pelo clube, e ser campeão sobre o maior rival, com o Independência cheio, e também com os torcedores que foram ao Mineirão e fizeram uma festa excepcional, te faz ficar muito feliz por dar este sabor e o título à nossa torcida que tanto merece.


Ainda sobre o Cruzeiro. Você venceu mais ou acumula mais derrotas nos clássicos?

Já ganhei mais. Clássico é difícil demais, mas eu sempre tive a felicidade de vencer mais do que perder.

Tem amigos lá?

Tenho sim. O Judivan e o Fabrício Bruno, que agora está na Chapecoense, são amigos meus. O Lucas França e alguns outros também. Eles têm um grupo muito bom e sou amigo de vários que cresceram comigo na base. Temos um relacionamento muito bom.Bruno Cantini/Atlético 


Como os jogadores encaram as brigas que acabam vitimando várias pessoas em dias de clássico na capital?

A melhor coisa do futebol é a rivalidade. Somos rivais, mas não somos inimigos. Ficamos tristes ao ver este tipo de notícia, porque o esporte é algo que existe para unir as pessoas e, não, ter mortes e famílias destruídas. Espero que isso melhore em breve. Não faz parte do futebol.

Você é agenciado por parceiros do ex-jogador Deco, que tem ótimo trânsito no futebol europeu, tendo inclusive ajudado a trazer o Otamendi para o Atlético em 2014. Ver você atuando em solo europeu é uma realidade de um futuro próximo?

Tenho este sonho sim, mas quero pensar apenas no Atlético. Quero marcar meu nome na história do clube para depois pensar nisso. Deixo nas mãos dos meus empresários e do clube. Quero conquistar títulos importantes e ser muito feliz aqui.

Sondagens já apareceram?

Várias sondagens apareceram, mas nada de concreto. Para mim, não chegou nada oficial. Porém, nem penso nisso, pois só quero fazer história com a camisa do Atlético.

Esse tipo de procura te assusta? Os milhões mexem com você?

Tento absorver da melhor maneira possível. Mostra que o trabalho está sendo bem feito, mas isso não sobe à minha cabeça.

Você e Fred parecem ser grandes amigos aqui no dia a dia do Atlético. Qual a importância de ser “apadrinhado” por um jogador mais veterano? Qual é o relacionamento seu com o jogador fora de campo?

Ele me ajuda muito, até nessas questões de especulação. Ele me pede para manter a cabeça no trabalho e o foco no Atlético. Somos amigos, saímos juntos, conversamos muito e ele me ajuda demais, desde que chegou. É um cara experiente, então fico feliz com esta amizade. Conversamos muito, e estudamos muito a Bíblia nas concentrações. Ele é um pai de família e um cara muito sábio.

Como você aprendeu a lidar com as críticas? Quando errava, como reagia ao colocar a cabeça no travesseiro?

Me apego a Deus e, principalmente, à minha família. Eles estão ao meu lado em todos os momentos. Sabia que era apenas uma fase e tirei muito aprendizado dela. Isso me fortaleceu e me fez chegar neste grande momento.

“O Atlético é meu time de coração. Você vai criando um amor maior ainda pelo clube, e ser campeão sobre o maior rival, com o Independência cheio, te faz ficar muito feliz e realizado”


Como é chegar a Matozinhos? Qual é a reação das pessoas ao te ver?

É muito bacana. O pessoal me para, pede autógrafo, foto, e isso é muito legal. Tenho amigos de infância lá, conheço a maioria das pessoas desde pequeno, então é muito bom ter esse reconhecimento dentro da cidade. O ambiente é muito bom. As pessoas te olham com outros olhos, sim, mas jogador de futebol é como qualquer outra profissão. É questão de dom. Não somos nada de outro mundo.

Acha que a divisão entre os religiosos e os “baladeiros” pode atrapalhar a harmonia do elenco?

Claro que não! Pelo contrário. A gente se respeita demais. Cada um segue a religião que se sentir melhor. Todo mundo tem sua crença, e é o máximo de respeito possível. Todos nós somos muito tranquilos e amigos.

Apesar de ser o “baixinho” entre os zagueiros, você já tem três gols pelo Atlético. Felipe Santana e Erazo, mais altos do que você, ainda não balançaram as redes. Tamanho, no futebol, é documento?

Fico feliz por ter feito esses gols nos últimos jogos. Isso (altura) não me atrapalha. Os melhores zagueiros do mundo não tinham mais de 1,83m. Puyol, Cannavaro, Gamarra e outros. Procuro trabalhar bastante para estar sempre preparado.

Qual foi a sua reação e da família ao saberem do elogio que o Tite fez, te comparando ao Marquinhos do PSG? 

Eu estava em casa almoçando, e um amigo me ligou contando o que o Tite tinha dito. Não cheguei a ver. Só depois vi as matérias. Meus pais ficaram muito felizes. Para eles, é uma satisfação imensa, pois criaram o filho dando tudo do bom e do melhor, às vezes até deixando de fazer coisas para eles mesmos. É sempre bom receber um elogio do treinador da Seleção. Dá muita confiança. Mas tenho que seguir focado e trabalhando no Atlético. O Tite é referência no futebol brasileiro e até mundial, isso motiva, sim.Bruno Cantini/Atlético 

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