Leonardo Ribas*
Diego Fernandes**
Nas últimas décadas o Brasil enfrentou diversos desafios que testaram severamente a resiliência de suas empresas, governos e outras instituições, públicas e privadas. Eventos críticos como desastres ambientais, escândalos políticos, crises sanitárias, ameaças reputacionais e dificuldades econômicas agudas se tornaram frequentes.
Tais situações demonstraram que, embora muitas vezes evitável, a possibilidade de uma crise não deve jamais estar fora do radar de nenhuma instituição, e que sua abordagem estratégica divide quem sobrevive de quem sucumbe.
Casos emblemáticos como Mariana (2015), Brumadinho (2019) e o recente fenômeno geológico em Maceió (2023) evidenciaram a complexidade do enfrentamento de riscos inerentes a certas operações. Já no campo da política, episódios como o Mensalão e a Operação Lava Jato geraram profundas consequências institucionais e econômicas, abalando a reputação e a estabilidade de grandes corporações.
Também na área empresarial, situações como a do colapso da OGX, da quebra da Ricardo Eletro e, mais recentemente, do drama contábil das Lojas Americanas, exemplificam desafios críticos não superados, ou, pelo menos, ainda não superados.
Nos últimos anos também emergiram crises de reputação provocadas por fatores externos, incluindo fake news, vazamentos forjados e ataques digitais sofisticados. Essas situações, quando não tratadas com agilidade e inteligência, abalam duramente a reputação institucional das corporações, com impactos bastante amplos.
A experiência tem evidenciado que, diante de um cenário de crise, mostra-se fundamental a atuação integrada de vários agentes de enfrentamento, quais sejam a gestão executiva estratégica e bem-informada, um time jurídico técnico e experiente, e uma equipe de comunicação alinhada com os valores e objetivos da empresa.
Em particular, o papel desempenhado pelos advogados deve transcender a técnica, exigindo desses profissionais uma abordagem holística para identificar riscos de forma antecipada, articular soluções com múltiplos stakeholders e mitigar conflitos antes de sua escalada.
Além disso, uma gestão jurídica eficaz também passa pela escolha de quais litígios estratégicos devem ser submetidos ao Judiciário, e quais devem ser objeto de composição, celebrando-se acordos específicos, avaliação que apenas é possível a partir de entendimento completo e claro do problema e de suas consequências.
Soma-se a tudo isso o trabalho de uma assessoria de comunicação conectada com os fatos e integrada ao planejamento estratégico, o que é determinante. A ausência de posicionamento, a demora em responder às acusações ou o discurso descoordenando aprofundam os problemas, ao invés de resolvê-los.
O caso da Petrobras teve êxito porque, depois da crise desencadeada pela Operação Lava Jato, a empresa reformulou suas práticas de governança, firmou acordos de leniência e adotou comunicação clara e consistente, permitindo resgate de credibilidade, com significativos e positivos reflexos em performance financeira.
A ação da Petrobras (PTR 4), que no início de 2016 chegou a bater R$ 4,54, no mesmo período de 2024 já estava em R$ 41,90. Atualmente, ela está cotada a R$ 31,48, mas certamente muito em razão das disputas tarifárias em curso no mundo. Analistas estimaram que o preço-alvo das ações da companhia para 2025 seria R$ 48,00, e que o pagamento dos dividendos deveria ficar por volta de 14% do valor de mercado da companhia em 2025, o que não é pouco.
Para enfrentar crises, as instituições devem fortalecer práticas internas de compliance e governança corporativa, criar e testar regularmente planos de contingência e gestão de crise, implementar estratégias jurídicas preventivas, como acordos e cláusulas contratuais protetivas, investir em treinamento especializado para suas equipes e desenvolver protocolos ágeis de comunicação interna e externa, estando sempre abertas para promover a qualquer tempo as modificações necessárias conforme a realidade se apresentar.
Desse modo, organizações bem-preparadas, ágeis e estratégicas atravessarão períodos turbulentos, não apenas preservando sua integridade institucional, financeira e reputacional, mas saindo desses desafios comumente ainda mais fortalecidas.
* Advogado, sócio do Campos Mello Advogados, especialista em disputas complexas, com atuação em gestão de crises institucionais, empresariais e reputacionais.
** Advogado e Counsel do Campos Mello Advogados, especialista em Direito Público e Gestão de Riscos e Crises.