Evitar o colapso nas corporações: estratégia em tempos de crise

Publicado em 21/06/2025 às 06:00.

Leonardo Ribas*
Diego Fernandes**

Nas últimas décadas o Brasil enfrentou diversos desafios que testaram severamente a resiliência de suas empresas, governos e outras instituições, públicas e privadas. Eventos críticos como desastres ambientais, escândalos políticos, crises sanitárias, ameaças reputacionais e dificuldades econômicas agudas se tornaram frequentes.

Tais situações demonstraram que, embora muitas vezes evitável, a possibilidade de uma crise não deve jamais estar fora do radar de nenhuma instituição, e que sua abordagem estratégica divide quem sobrevive de quem sucumbe.

Casos emblemáticos como Mariana (2015), Brumadinho (2019) e o recente fenômeno geológico em Maceió (2023) evidenciaram a complexidade do enfrentamento de riscos inerentes a certas operações. Já no campo da política, episódios como o Mensalão e a Operação Lava Jato geraram profundas consequências institucionais e econômicas, abalando a reputação e a estabilidade de grandes corporações.

Também na área empresarial, situações como a do colapso da OGX, da quebra da Ricardo Eletro e, mais recentemente, do drama contábil das Lojas Americanas, exemplificam desafios críticos não superados, ou, pelo menos, ainda não superados. 

A pandemia da covid-19, por sua vez, importou em um tipo diferente de crise — sanitária, social e econômica — com severas e abrangentes repercussões em contratos, empregos e em políticas públicas, tendo sido especialmente dramática para alguns setores, como o artístico, que enfrentou enormes desafios com altivez e perseverança.

Nos últimos anos também emergiram crises de reputação provocadas por fatores externos, incluindo fake news, vazamentos forjados e ataques digitais sofisticados. Essas situações, quando não tratadas com agilidade e inteligência, abalam duramente a reputação institucional das corporações, com impactos bastante amplos.

A experiência tem evidenciado que, diante de um cenário de crise, mostra-se fundamental a atuação integrada de vários agentes de enfrentamento, quais sejam a gestão executiva estratégica e bem-informada, um time jurídico técnico e experiente, e uma equipe de comunicação alinhada com os valores e objetivos da empresa. 

Em particular, o papel desempenhado pelos advogados deve transcender a técnica, exigindo desses profissionais uma abordagem holística para identificar riscos de forma antecipada, articular soluções com múltiplos stakeholders e mitigar conflitos antes de sua escalada.

Além disso, uma gestão jurídica eficaz também passa pela escolha de quais litígios estratégicos devem ser submetidos ao Judiciário, e quais devem ser objeto de composição, celebrando-se acordos específicos, avaliação que apenas é possível a partir de entendimento completo e claro do problema e de suas consequências.

Quem atua em questões multifacetadas e complexas conhece os custos reais de um conflito mal gerido — em tempo, imagem, recursos e relações institucionais, sendo capaz de dialogar com vários interlocutores, em diferentes níveis e instâncias, assim contendo ou mesmo revertendo situações não raras vezes dramáticas e potencialmente fatais.

Soma-se a tudo isso o trabalho de uma assessoria de comunicação conectada com os fatos e integrada ao planejamento estratégico, o que é determinante. A ausência de posicionamento, a demora em responder às acusações ou o discurso descoordenando aprofundam os problemas, ao invés de resolvê-los.

O caso da Petrobras teve êxito porque, depois da crise desencadeada pela Operação Lava Jato, a empresa reformulou suas práticas de governança, firmou acordos de leniência e adotou comunicação clara e consistente, permitindo resgate de credibilidade, com significativos e positivos reflexos em performance financeira.

A ação da Petrobras (PTR 4), que no início de 2016 chegou a bater R$ 4,54, no mesmo período de 2024 já estava em R$ 41,90. Atualmente, ela está cotada a R$ 31,48, mas certamente muito em razão das disputas tarifárias em curso no mundo. Analistas estimaram que o preço-alvo das ações da companhia para 2025 seria R$ 48,00, e que o pagamento dos dividendos deveria ficar por volta de 14% do valor de mercado da companhia em 2025, o que não é pouco.

É preciso reconhecer, contudo, que mesmo as melhores estratégias no âmbito do direito possuem limitações. Dificuldades como resistência interna nas corporações, pressões políticas e desafios de implementação podem surgir. Por isso, também é fundamental perceber rapidamente eventuais falhas e promover as adaptações que a realidade impõe à estratégia adotada.

Para enfrentar crises, as instituições devem fortalecer práticas internas de compliance e governança corporativa, criar e testar regularmente planos de contingência e gestão de crise, implementar estratégias jurídicas preventivas, como acordos e cláusulas contratuais protetivas, investir em treinamento especializado para suas equipes e desenvolver protocolos ágeis de comunicação interna e externa, estando sempre abertas para promover a qualquer tempo as modificações necessárias conforme a realidade se apresentar.

Desse modo, organizações bem-preparadas, ágeis e estratégicas atravessarão períodos turbulentos, não apenas preservando sua integridade institucional, financeira e reputacional, mas saindo desses desafios comumente ainda mais fortalecidas.

* Advogado, sócio do Campos Mello Advogados, especialista em disputas complexas, com atuação em gestão de crises institucionais, empresariais e reputacionais.

** Advogado e Counsel do Campos Mello Advogados, especialista em Direito Público e Gestão de Riscos e Crises.

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