Fabricantes brasileiros estão prontos para a guerra de preços com os chineses

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
14/12/2016 às 20:19.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:05

O termo “xing ling”, que no Brasil é corriqueiramente utilizado em referência aos produtos chineses, traz à tona um verdadeiro trauma da indústria brasileira.

Para os segmentos de brinquedos e de máquinas e equipamentos, a expressão é sinônimo de perda de mercado e, consequentemente, fechamento de empresas ao longo dos últimos anos. É o que mostra a última reportagem da série sobre os efeitos da concorrência com a China em alguns setores.

Em 1995,quando a China entrou com força na venda de brinquedos no Brasil, 536 empresas brasileiras fecharam as portas e 40 mil trabalhadores foram demitidos.

Agora, as indústrias que se mantiveram no mercado estão se armando para evitar que o passado se repita por causa do reconhecimento do país como economia de mercado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), desde o último domingo, quando venceu a data de 15 anos que o país se tornou membro da instituição.

O governo brasileiro já revê as barreiras impostas aos produtos chineses e o esperado é uma verdadeira invasão asiática nos próximos anos.

“As 378 empresas que sobraram no setor de brinquedos brasileiro vão enfrentar ‘no tapa’ os chineses, se preciso”, informa o presidente da Associação Brasileira de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista da Costa.

A China vendeu para os brasileiros US$ 269,4 milhões, o equivalente a 81,7% do total importado em 2015. “Os chineses têm 8.500 fábricas de brinquedos e são responsáveis pela fabricação de 72% dos brinquedos do planeta. Eles dominam o negócio mesmo”, afirma Costa.

No Brasil, há uma tentativa de sobrevivência por meio de inovação, design e redução de margens de lucro. A Estrela, por exemplo, vem aumentando o número de brinquedos populares, com preços inferiores a R$ 50, segundo o presidente da empresa, Carlos Tilkian. “Em termos de qualidade nem precisamos nos preocupar. Temos que brigar é por preço”, diz.

Agressividade

Da mesma forma, o setor de máquinas e equipamentos perde espaço para os chineses a cada ano. Conforme o diretor regional da Associação Nacional de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Marcelo Veneroso, a participação da indústria brasileira nas vendas nacionais caiu de 60%, em 2002, para 35%, neste ano. “Os chineses estão cada vez mais agressivos. Buscam setores que não atendiam antes, como máquinas agrícolas”, destaca.

Definição de política industrial tornou China potência global

A justificativa mais fácil para o domínio chinês sobre o comércio global é a exploração da mão de obra em condições análogas à escravidão. Mas, na verdade, existe um contexto muito mais amplo e uma política industrial definida por parte do governo.

Prova disso é um levantamento feito pela Abrinq dos salários utilizados por profissionais nas fábricas da área no Brasil e na China. Em Pequim, por exemplo, o salário é 1.890 yuans ou R$ 1.118. O valor é equivalente ao pago pelo setor no Brasil, conforme a Associação.

“A China iniciou o processo de reformas econômicas importantes a partir de 1978. O governo, então, fez medidas que tinham por objetivo impulsionar a economia e aumentar a presença do país no comércio internacional”, destaca o economista e coordenador do Centro de Estudos sobre Ásia Oriental da UFMG, Gilberto Libânio.

De acordo com o especialista, colaboraram com o sucesso do país ações como a abertura de zonas econômicas especiais mais próximas do litoral, incentivos para a abertura de multinacionais com sócios chineses e taxas de câmbios favoráveis à exportação.

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