Pacientes em risco

Falta de remédios faz mineiros com doença rara esperarem até 5 meses por tratamento

Luiz Augusto Barros
@luizaugbarros
Publicado em 28/02/2022 às 07:41.
ESCLEROSE MÚLTIPLA – Juliana reclama da falta de medicamentos e dificuldade na marcação de exames e consultas (Fernando Michel/Hoje em Dia)

ESCLEROSE MÚLTIPLA – Juliana reclama da falta de medicamentos e dificuldade na marcação de exames e consultas (Fernando Michel/Hoje em Dia)

Pelo menos 36 remédios para o tratamento gratuito de doenças raras estão com estoques desabastecidos em Minas. Pacientes têm esperado até cinco meses para receber o medicamento durante a pandemia. A dificuldade coloca as pessoas na corda bamba, com possibilidade de piora do quadro de saúde e, em alguns casos, risco de morte. 

O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza fármacos para 68 enfermidades, como Síndrome de Guillain-Barré, Alzheimer e alguns tipos de cânceres. Sem opções, os pacientes são obrigados a interromper o tratamento. Outros apelam para a judicialização.
Diagnosticada com esclerose múltipla, Juliana de Souza Ervilha, de 43 anos, chegou a esperar dois meses pelos comprimidos. “Para uma pessoa que depende de uma medicação, é muito tempo. Quinze dias já é extremamente angustiante”, lamentou. 

Além disso, ela tem enfrentando dificuldades para atendimentos e exames. “Mesmo tendo plano de saúde, tive que esperar mais tempo para consultar com o meu médico”, afirmou a psicóloga e bacharel em Direito, que faz parte do Instituto Vidas Raras.

Por conta da Covid, vários profissionais foram deslocados para a linha de frente, o que prejudicou a continuidade dos acompanhamentos de rotina. “Tivemos um cenário de pacientes não querendo, e não podendo, sair de casa para as consultas”, afirmou. 

Em 2019, a farmacêutica Luciana de Castro, de 49 anos, descobriu um tumor neuroendócrino – o mesmo que acometeu Steve Jobs, da Apple. Desde então, fez duas cirurgias, uma na vesícula e outra no intestino delgado. Atualmente, faz tratamento com dois fármacos: uma injeção, aplicada mensalmente, e a utilização de uma medicação radioativa.

“Essa medicação seria em quatro doses, uma a cada oito semanas. A primeira foi em agosto, e a segunda deveria ter sido em outubro, mas aconteceu só em dezembro. A terceira, em fevereiro, foi com uma semana de atraso”, conta.

Como o remédio é importado da Holanda e tem compostos radioativos, precisa ser liberado pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). 

Estoques abaixo de 40% já são considerados desabastecidos. Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) afirmou que os motivos da indisponibilidade de medicamentos no setor público são variáveis, de fatores relacionados ao processo de aquisição à entrega pelos fornecedores. 

Além disso, a pasta garantiu que empenha continuamente todos os esforços para minimizar o impacto dos desabastecimentos, buscando a normalização do atendimento. 

O Ministério da Saúde também foi procurado, mas não se posicionou até o fechamento desta edição.

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