Festival de Cannes celebra momento fértil do cinema

Edcley Araújo
16/05/2012 às 15:21.
Atualizado em 21/11/2021 às 22:52

 

O cinema brasileiro, homenageado no Festival de Cannes, que começa nesta quarta-feira no sul da França, atravessa um período fértil com a produção de 100 filmes por ano e maior visibilidade internacional.

"O cinema brasileiro vive um momento fértil e de muita diversidade. Estamos produzindo quase cem filmes por ano e ocupando uma parte importante de nosso mercado", comemorou em entrevista o cineasta Cacá Diegues, que presidirá em Cannes o júri da ′Camera D`Or`, prêmio destinado ao diretor revelação.

A 65ª edição do Festival de Cannes, que será realizado entre 16 e 27 de maio, não exibirá longas-metragens brasileiros em sua seção oficial.

Mas o Brasil estará presente em um documentário sobre a bossa nova, três curtas-metragens, duas co-produções, três filmes clássicos brasileiros e, na mostra oficial, em Na Estrada (On the road), produção americana baseada no romance de Jack Kerouac - um clássico da literatura beatnik escrito em 1957 -, dirigida pelo brasileiro Walter Salles e filmado em estradas de Estados Unidos, Canadá e México.

A produção de filmes brasileiros saltou na última década de uma média de 30, em 2002, para um recorde de 99 em 2011, segundo dados da estatal Ancine.

Para João Guilherme Barone, professor e pesquisador de cinema e indústria audivisual da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), o cinema brasileiro conseguiu, na última década, produzir mais, diversificar-se e nacionalizar grande parte da distribuição, que antes era dominada pelas empresas estrangeiras.

"Entre 2004 a 2009, o número de distribuidoras passou a ser majoritariamente nacional, com um aumento de mais de 200%. Hoje 73% do cinema brasileiro é lançado por distribuidoras brasileiras", afirmou.

A arrecadação do cinema brasileiro também cresceu e fechou 2011 com 164 milhões de reais, após um recorde em 2010, quando sucessos de bilheteria como Tropa de Elite 2 e Nosso lar ajudaram a arrecadar 222 milhões de reais.

O Brasil estará presente em Cannes em uma sessão especial dedicada a A música segundo Tom Jobim (2011), do cineasta Nelson Pereira dos Santos, de 84 anos, um documentário que homenageia Antônio Carlos Jobim, um dos criadores da bossa nova.

"Amo o cinema brasileiro por muitas razões. E uma importante é que ele é plural, diferente da época do `Cinema Novo`, quando havia uma polarização temática por causa da necessidade que tínhamos de combater a ditadura e de mostrar a realidade de um Brasil que a censura queria esconder", disse Pereira dos Santos.

"Acho que merecíamos ter mais filmes selecionados oficialmente. Mas a presença de Walter (Salles) na competição e de curtas-metragens na seleção oficial, somada à homenagem a (o cineasta) Nelson (Pereira dos Santos) e a mais três filmes brasileiros clássicos, tudo isso é uma deferência muito especial à nossa cinematografia", completou Diegues, um dos fundadores do Cinema Novo e o cineasta brasileiro que mais concorreu à Palma de Ouro durante sua carreira.

Para Ilda Santiago, diretora do Festival de Cinema do Rio e representante da mostra de Cannes no Brasil, a homenagem ao país significa o reconhecimento da importância do cinema brasileiro.

"Há vários níveis da presença do cinema de um país em um festival, não apenas a seleção oficial. Avaliamos também o número de produtores, projetos que foram recebidos, inclusive no nível de coprodução", disse Ilda à AFP, completando que nesses quesitos o país está bem representado.

"Fico feliz e acho que é muito honroso para o Brasil ser escolhido o país homenageado. Isso dá visibilidade a todos os projetos, abre portas para o futuro", afirmou.

Para ela, as indústrias do cinema brasileiro e latino-americano se fortaleceram nos últimos anos e agora contam com produções destinadas "a todos os gostos".

"Toda a América Latina, não só o Brasil, começou a aparecer mais nos últimos anos em todos os festivais", disse. "Começa a despontar um novo cinema", concluiu.

 

 


 

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