Alfredo Cotait Neto*
A dívida pública brasileira cresce em descompasso com a expansão do Produto Interno Bruto (PIB). Enquanto o endividamento da União, dos estados e dos municípios aumentou 94% nos últimos 14 anos, a riqueza produzida no país subiu 28% de 2010 a 2024, segundo relatório Estatísticas Fiscais do Governo Federal. Não há como pensar a implantação de políticas para o desenvolvimento socioeconômico da nação desconectadas de investimentos, que por sua vez estão intrinsecamente relacionados aos gastos governamentais.
Só nos primeiros cinco meses de 2025, o desequilíbrio entre as receitas e as despesas atingiu quase R$ 500 bilhões de reais. Por isso, é urgente uma política de cortes de gastos para incentivar os investimentos, já que a reforma administrativa não avança.
A preocupação da sociedade civil e de instituições empresariais com o gasto público é legítima e bem-vinda tendo em vista que são protagonistas da produtividade do país. A participação desses setores, que pagam altos tributos, por meio de acompanhamento e monitoramento da aplicação dos recursos, é relevante para assegurar investimentos de qualidade e com retorno efetivo para a população.
A motivação da CACB surge da necessidade de conscientizar e informar a sociedade em relação à arrecadação e ao destino dos recursos e jogar luz sobre os gastos públicos. É preciso buscar eficiência no uso do dinheiro dos brasileiros. A fiscalização do orçamento assegura a continuidade de serviços essenciais e fortalece a confiança da população nas instituições governamentais.
O Estado é pesado, lento e pouco criativo, porque carrega um sistema de práticas antigas. Nesse caminho, o déficit público se torna inevitável, o que resulta em falta de recursos para investimentos em áreas básicas como segurança, transporte, educação e saúde.
O controle dos gastos públicos é uma necessidade para garantir finanças saudáveis e promover o desenvolvimento social e econômico. É imprescindível que haja uma combinação de práticas de transparência, participação cidadã e inovação tecnológica. Esse cenário possibilita a construção de um futuro em que os recursos públicos sejam utilizados de forma responsável e em benefício de toda a sociedade.
A proposta do Painel Gasto Brasil é auxiliar a sociedade na compreensão do destino das verbas governamentais e como elas impactam na vida das pessoas. Cada vez que o dinheiro público se perde em um Estado pesado, a iniciativa privada, verdadeiro motor da economia, sente os reflexos perversos. É dinheiro que deixa de ser investido em infraestrutura, oportunidades de negócios e tecnologia.
* Presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB). Formado em Engenharia Civil pela Universidade Mackenzie, com mestrado em Economia e Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), é também presidente do Conselho de Administração da Boa Vista SCPC e da Câmara de Comércio Brasil-Líbano