Fit-BH prova que a cultura é viva e vital para a sociedade

27/05/2016 às 16:39.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:37

No último dia 20, Belo Horizonte estava incendiada. E não, não era pela manifestação pró-Dilma (que também teve sua parcela na movimentação daquele dia), que recebeu a presidente afastada na entrada do 5º Encontro de Blogueiros, no Centro da capital. O que incendiava a cidade era a arte. O que me emocionou foi a capacidade que a arte tem de mover corações. Enquanto assistia, deslumbrado, à abertura do FIT-BH, ouvi gritos de “a arte ocupa”, e logo pensei, olhando ao redor: “ocupa mesmo”. 

Foi uma experiência absolutamente extrassensorial. O espetáculo era a apresentação, na rua, de “Les Girafe”, peça da francesa Compagnie Off, que fez da noite um momento apoteótico para o FIT – uma das coisas mais lindas que já presenciei, sem me furtar a exageros. Eu vi a história começar em uma imersão na loucura de um homem e seus sonhos. Desloquei-me do Baixo Centro ao inconsciente de um palhaço francês que ali despejava toda sua fantasia idílica.


Partindo de um pequeno núcleo, a apresentação ganhou corpo com grandiosidade e imponência, ao se movimentar por toda a Praça da Estação, inclusive atravessando a Avenida do Contorno, andando no meio dos carros e ônibus (o que devem ter pensado aqueles que estavam ali de passagem ao ver todo aquele “circo” armado? Achei isso maravilhoso), movimentando-se pela praça Rui Barbosa e deixando a todos os “viajantes” boquiabertos. 

A experiência contava com gigantes girafas, mote da apresentação, guiadas por guerreiros artistas circenses (muitos locais contratados para a equipe), um palhaço, uma cantora lírica e uma “trupe” que ajudava a empurrar o cenário e o equipamento técnico, tudo móvel. Todos entrando na fonte da praça, correndo com carros de som e tambores em meio à plateia, gritando por passagem. No alto, cantavam, se apresentavam. Corriam. E nós, que ali estávamos, andando o tempo todo atrás deles para não perder nenhum detalhe. Era quase impossível. 

De repente, cai a ficha. O que assistíamos naquele momento era uma reinvenção circense de Luthier, a ópera. Uma tragédia do amor. Com muita luz, efeitos, risos e, o mais lindo, aceitação do público, interação, participação. Por onde a peça andava, todos se deslocavam absolutamente envolvidos. Não havia ali distinção ou limitações físicas ou subjetivas entre público e plateia e palco e cidade. Sequer estávamos em Belo Horizonte. Em quase 2h de espetáculo, era como se todos tivéssemos entrado, de verdade, no subconsciente do personagem central que devaneava em sua loucura. Tudo ganhava corpo. 

A emoção era grande porque percebemos que, sim, a arte ocupa. Que a cultura é viva. Que a cultura é saúde. Que a cultura é educação. Que a cultura é economia. Que a cultura é estruturalmente ligada a qualquer ser humano. Não é possível que se faça falsa simetria em nenhum aspecto quando se tenta colocar na balança coisas que são feitas de materiais diferentes. A arte ocupa, a cultura é viva, e não se limita. 

A cultura não precisa estar internada no hospital da educação – o que não significa que não precisa passar por uma reforma estrutural. Não precisamos escolher entre ter leitos hospitalares e comida na mesa ou ter acesso à cultura. O peso não é medido assim, não se deixe levar por aforismos. Enquanto tivermos conclusões assim, simplistas, aforistas e com total desconhecimento de causa, com o único objetivo de reafirmar posicionamento sem ter que repensar nossa própria postura, viveremos neste eterno caos de polarização. 

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