Talvez você não saiba, mas quando a rainha Elizabeth II morreu na tarde desta quinta-feira (8), no palácio de Balmoral, na Escócia, o trono imediatamente passou, mesmo que sem cerimônia, para seu herdeiro, Charles, o ex-príncipe de Gales.

Ainda assim, ele terá de passar por uma série de etapas, muitas delas tradicionais, até ser coroado rei. Um de seus primeiros atos foi decidir reinar como rei Carlos III.

Ele não é o único que enfrenta uma mudança de título. Embora seja herdeiro do trono, o príncipe William não se tornará automaticamente “príncipe de Gales”. Mas herda outro título de seu pai, “duque da Cornualha”. Sua esposa Catherine será conhecida como a “duquesa da Cornualha”.

A segunda esposa de Charles, Camilla Parker Bowles, passará a ser chamada de “rainha Consorte”.

Nas primeiras 24 horas após a morte de sua mãe, Charles será oficialmente proclamado rei. Isso acontece no Palácio de St James, em Londres, em frente a um corpo cerimonial conhecido como Conselho de Adesão, composto por membros do Conselho Privado (deputados seniores, passados e presentes, e pares) bem como por alguns funcionários públicos de alto escalão, comissários da Commonwealth e o lorde prefeito de Londres.

O rei não costuma comparecer. Na reunião, a morte da rainha Elizabeth II será anunciada pelo lorde presidente do Conselho Privado (atualmente Penny Mordaunt), e uma proclamação será lida em voz alta.

Com o ascensão de príncipe Charles ao trono britânico, sua esposa Camilla Parker Bowles se torna rainha consorte (Instagram / The Royal Family / Reprodução)

A redação da proclamação pode mudar, mas tradicionalmente tem sido uma série de orações e promessas, elogiando o monarca anterior e prometendo apoio ao novo. Essa proclamação será assinada por várias figuras importantes, incluindo o primeiro-ministro, o arcebispo de Canterbury e o lorde chanceler.

A primeira declaração do rei
O Conselho de Adesão se reúne novamente – geralmente um dia depois – e, desta vez, o rei Charles estará presente, juntamente com o Conselho Privado.

Não há “juramento” no início do reinado de um monarca britânico, como ocorre com outros chefes de estado, como o presidente do Brasil. Mas há uma declaração feita pelo novo monarca e, de acordo com uma tradição que data do início do século XVIII, ele fará um juramento para preservar a Igreja da Escócia.

Depois de uma fanfarra de trompetistas, uma proclamação pública será feita declarando Charles III como o novo rei. Isso será feito de uma sacada no palácio St James, por um oficial conhecido como Rei das Armas.

Ele dirá: “Deus salve o rei” (“God save the king”). Pela primeira vez desde 1952, quando o hino nacional for tocado, será usado “king” no lugar de “queen”.

A coroação
O ponto alto da ascensão de Charles III será a coroação, quando formalmente assume o reinado. Devido à preparação necessária, a coroação provavelmente não acontecerá logo após a ascensão do rei – a rainha Elizabeth sucedeu ao trono em fevereiro de 1952, mas não foi coroada até junho de 1953.

Nos últimos 900 anos, a coroação foi realizada na Abadia de Westminster – William, o Conquistador, foi o primeiro monarca a ser coroado lá, e Charles III será o 40º.

É um serviço religioso anglicano, realizado pelo arcebispo de Canterbury. No clímax da cerimônia, ele colocará a coroa de Santo Eduardo na cabeça de Charles – uma coroa de ouro maciço, datada de 1661. Ela é a peça principal das joias da coroa britânica que ficam guardadas na Torre de Londres, e só é usada pelo monarca no momento da própria coroação (até porque pesa 2,23 kg).

Ao contrário dos casamentos reais, a coroação é uma ocasião de estado – o governo paga por isso e, finalmente, decide a lista de convidados. Haverá música, leituras e o ritual de unção do novo monarca, com óleos de laranja, rosas, canela, almíscar e âmbar.

O novo rei fará o juramento de coroação diante do público na abadia. Durante essa cerimônia, ele receberá o orbe e o cetro como símbolos de seu novo papel e o arcebispo de Canterbury colocará a coroa de ouro maciço em sua cabeça.

Charles III se torna chefe da Commonwealth, uma associação de 56 países independentes e 2,4 bilhões de pessoas. Para 14 desses países, além do Reino Unido, o rei britânico é considerado chefe de estado: Austrália, Antígua e Barbuda, Bahamas, Belize, Canadá, Granada, Jamaica, Papua Nova Guiné, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Nova Zelândia, Salomão Ilhas e Tuvalu.

(*) Com BBC News.