Covid-19

Coronavírus endêmico? Especialistas explicam que fim da pandemia ainda está distante no Brasil

Bernardo Estillac
bernardo.leal@hojeeemdia.com.br
08/02/2022 às 20:06.
Atualizado em 08/02/2022 às 20:12

Em quase dois anos de pandemia, uma outra palavra vem tomando força em países europeus e alimentando esperança em outros pontos do mundo: endemia. Reino Unido, Espanha e Dinamarca já começam a tratar a Covid-19 sob outra perspectiva e alterar as medidas sanitárias. O momento não é para tanto otimismo, alertam especialistas ouvidos pelo Hoje em Dia.

Em uma endemia, a doença segue circulando na sociedade, mas com números equilibrados, sem causar mortes ou sobrecarregar o sistema de saúde.

"Até o momento, não vejo nada de endêmico no comportamento do coronavírus. Se um dia ele vai entrar num equilíbrio tal que teremos um número esperado de casos todos os anos, acho que é tudo uma suposição", comenta o epidemiologista e mestre em infectologia, José Geraldo Leite Ribeiro.

A visão é corroborada pelo infectologista e diretor médico da Target Medicina de Precisão, Adelino de Melo Freire Júnior. Ele acredita na permanência do coronavírus em circulação na sociedade, mas não percebe a perspectiva clara de um cenário de endemia.

"A gente não vai ficar livre do coronavírus. É muito improvável que a doença suma, mas com níveis endêmicos você deixa de ter picos muito grandes. Agora não estamos vivendo uma endemia no brasil, não existe a menor expectativa de dizer que esse é um momento endêmico", afirma Freire.

De acordo com os médicos, a possibilidade do surgimento de mutações do coronavírus, como é o caso da variante Ômicron, é o principal fator que dificulta uma antecipação sobre o futuro da pandemia.

"Enquanto o vírus está mutando livremente, como está acontecendo, acho impossível prever", diz Ribeiro. "Três meses atrás, a Ômicron estava sendo relatada pela primeira vez. Os números estavam menores, as taxas estavam equilibradas e de repente surge uma nova variante que além de muito transmissível, tem capacidade de escapar do sistema imunológico. Então, falar que isso não vai acontecer de novo é exercício de futurologia", complementa Freire.

Vacinação
Para ambos os profissionais ouvidos pela reportagem, a ampla vacinação se apresenta como uma esperança para que o caráter pandêmico da Covid-19 possa ser transformado em contextos mais brandos, como seria o caso de uma endemia.

"Na minha opinião, é a única ferramenta. Se nós tivermos coberturas vacinais altas e homogêneas podemos sonhar com o fim da pandemia. Mas, enquanto as coberturas não forem homogêneas e tivermos países com coberturas muito baixas, vão surgir variantes e a gente corre o risco de sofrer picos da doença", afirma José Geraldo Leite Ribeiro.

Para Adelino Melo Freire, a imunização também é a única possibilidade para que os números de casos de Covid não atinjam níveis de risco para os sistemas hospitalares.

"Neste momento é o principal artifício. A gente, de certa forma, conseguiu segurar o número de mortes, conseguiu manter os hospitais de certa forma absorvendo o número de casos. Se a gente tivesse a explosão de casos graves que tivemos neste ano sem a vacina,  estaríamos absolutamente em colapso", diz.

Vale lembrar que as endemias são mais controláveis e não exigem medidas rígidas de controle social, mas ainda assim representam risco. Adelino ressalta que a dengue e o HIV, por exemplo, são endemias no Brasil. 

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