colaboração da UFMG

Fiocruz manda dossiê pré-clínico de novo medicamento contra a Covid-19

Da Redação*
18/01/2023 às 18:19.
Atualizado em 18/01/2023 às 18:24
Impacto da pandemia nos números não se restringe a vítimas de covid-19 (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Impacto da pandemia nos números não se restringe a vítimas de covid-19 (Rovena Rosa/Agência Brasil)

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiiocruz), em parceria com a empresa Microbiológica e o Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP), com colaboração da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e outras instituições, trabalha no desenvolvimento de um antiviral contra a Covid-19. 

Os dados sugerem que a administração oral da substância batizada de MB-905 leva à formação de um “metabólito ativo no trato respiratório para atuar como um potente inibidor da polimerase”, capaz de inibir a reprodução do vírus. 

Segundo os pesquisadores, a substância foi purificada a partir da cinetina e demonstrou-se eficaz para inibir a replicação do Sars-CoV-2 em linhagens de células humanas hepáticas e pulmonares, além de auxiliar a frear o processo inflamatório desencadeado pelo vírus. 

O dossiê pré-clínico da pesquisa foi encaminhado para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que, a partir da aprovação do órgão, seja iniciada a primeira fase de ensaios clínicos. 

“Nosso objetivo é que essa substância possa se tornar um antiviral inovador, desenvolvido no Brasil desde a sua concepção, visando a que a gente tenha mais independência nesse tipo de tecnologia, que teria alto custo de importação para o [Sistema Único de Saúde] SUS”, explicou o pesquisador Thiago Moreno, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), um dos principais autores do estudo.

Como funciona

A MB-905 desorganiza o genoma do vírus e causa uma catástrofe na síntese de seu material genético (RNA), processo crucial para a replicação viral. 

A molécula de RNA é composta por quatro bases que precisam se ligar de uma forma determinada (A com U, C com G). A estrutura da cinetina é muito semelhante à da base A, o que permite que uma importante enzima do vírus, chamada RNA polimerase viral, incorpore a cinetina no lugar da base A. 

A cinetina, por sua vez, se comporta de forma aleatória, ora como A, ora como G. Isso cria uma grande confusão na sequência do RNA e induz o vírus a vários erros durante seu processo de replicação, gerando muitas partículas que não têm capacidade de se replicar, o que reduz a replicação geral do vírus.

Além de atuar como antiviral, a MB-905 também conseguiu frear o processo inflamatório desencadeado pelo coronavírus, diminuindo os níveis das citocinas IL-6 e TNFα em monócitos infectados. 

gundo Moreno, isso é fundamental para combater a Covid-19, uma vez que a doença não manifesta somente uma destruição viral, mas serve muitas vezes como gatilho de uma resposta inflamatória exacerbada do organismo do paciente.

“Não estou buscando um antiviral sozinho. Como a dexametasona, como uma aspirina, esse produto não consegue reduzir qualquer tipo de inflamação, mas somente uma inflamação seletiva induzida pelo vírus. A gente entende também que isso pode ajudar essa substância a ter potencialmente uma janela terapêutica um pouquinho mais ampla, por conseguir talvez reduzir tanto a fase antiviral quanto a fase inflamatória associada ao vírus”, afirmou.

Coquetel 

Para os pesquisadores, a Covid-19, assim como outras doenças de natureza viral, não será curada com um único medicamento. Eles entendem que será necessário administrar um coquetel de medicamentos para tratar os casos mais graves da doença e aqueles de maior risco, como os de pacientes com comorbidades. Com base no mecanismo de ação da MB-905, portanto, o grupo investigou que substâncias poderiam potencializar o efeito da cinetina. 

Outros medicamentos

O estudo também identifica vantagens do MB-905 em relação a outras substâncias cujo benefício clínico foi demonstrado em ensaios clínicos independentes. O remdesivir, por exemplo, é injetável, enquanto a cinetina será administrada como comprimido, possibilitando que o paciente receba o medicamento o mais precocemente possível. 

Já em relação ao molnupiravir, o MB-905 obteve melhores resultados em testes de segurança. Como desorganiza o genoma viral sem interferir no da célula, a cinetina foi considerada segura de acordo com o teste de Ames.

Além de testado em células humanas hepáticas e pulmonares in vitro, o efeito do MB-905 na redução da carga viral e na proteção contra lesões pulmonares foi reproduzido em diferentes modelos animais. Camundongos transgênicos infectados com Sars-CoV-2 que expressam ACE2 humano (proteína que facilita a entrada do coronavírus na célula) e hamsters foram protegidos por MB-905. 

Quando avaliado em camundongos e ratos, o MB-905 apresentou mais de 50% de biodisponibilidade oral (que é a extensão e a velocidade com que o medicamento entra na circulação sistêmica, alcançando, assim, o local de ação).

O projeto contou com financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), por meio de encomenda tecnológica ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Empresa Brasileira de Inovação Industrial (Embrapii). Teve ainda a colaboração do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

*Com informações da Fiocruz

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