Guerra na Europa

Não há previsão para resgate de brasileiros na Ucrânia; especialista critica postura do Itamaraty

Bernardo Estillac
bernardo.leal@hojeemdia.com.br
Publicado em 24/02/2022 às 19:25.Atualizado em 24/02/2022 às 19:37.
Cenário de destruição na Ucrânia após invasão russa (Foto: Ukrainian State Emergency Service/Divulgacão)
Cenário de destruição na Ucrânia após invasão russa (Foto: Ukrainian State Emergency Service/Divulgacão)

Os cerca de 500 brasileiros na Ucrânia vivem momentos de grande tensão com o início dos ataques russos aos país vizinho. Enquanto ucranianos começam a deixar sua terra natal e a embaixada brasileira em Kiev orienta a saída da região, o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) informa que o plano para evacuação dos cidadãos do Brasil está em fase de planejamento.

Para o doutor em Ciência Política e professor de Relações Internacionais do Ibmec, Christopher Mendonça, a retirada dos brasileiros da região em conflito deve ser prioridade.

“Do ponto de vista logístico, é preciso um planejamento, mas, sem dúvida, isso precisa ser colocado como uma prioridade e tratado com urgência”, afirma.

Em entrevista coletiva, o embaixador Leonardo Gorgulho, secretário de comunicação e cultura do Itamaraty, afirmou que ainda não há data nem local para a retirada dos brasileiros, mas ressaltou a importância de realizarem o cadastro na embaixada de Kiev

"O local e o momento em que os brasileiros serão chamados a se concentrar para fins de evacuação serão amplamente difundidos pela embaixada, por meio de seus canais de comunicação com a comunidade brasileira. É, portanto, muito importante que todos se cadastrem", alertou.

O posicionamento do Brasil diante do conflito no Leste europeu está sendo criticado por especialistas. Além do silêncio do presidente Jair Bolsonaro sobre a escolha de um lado na guerra entre Ucrânia e Rússia, a postura do Itamaraty não conforta os brasileiros na zona de conflito, por não ser clara o suficiente, de acordo com o professor Christopher Mendonça.

“A posição do Brasil é totalmente deplorável. O Itamaraty não se posicionou de forma cabal até agora ao lado da Ucrânia, que, assim como o Brasil, é um país independente e democrático que está sofrendo um ataque. Estamos perdendo tempo em não nos pronunciarmos de forma clara. Nossa posição diplomática sempre foi pela negociação. Não houve nenhum momento na história em que o Brasil se posicionou ao lado do opressor”, afirma.

Embora Bolsonaro tenha manifestado solidariedade com os brasileiros na Ucrânia, o presidente não falou especificamente sobre o país. A situação é agravada pelo encontro do presidente brasileiro com Vladimir Putin na última semana, quando manifestou sua solidariedade à Rússia.

A manifestação mais contundente por parte de um membro do executivo brasileiro veio do vice-presidente Hamilton Mourão. Para o professor Mendonça, a fala, embora não represente um posição formal do governo brasileiro, teve pontos positivos.

“Ele disse duas coisas importantes. Uma foi que o Brasil, como país independente e democrático, posiciona-se ao lado da Ucrânia. A outra foi que ele falou foi que não há efetividade em aplicar apenas sanções econômicas”, analisa Mendonça.

Sanções econômicas
O professor explica que, mesmo que o Brasil não tenha na Rússia um parceiro econômico prioritário, é importante, do ponto de vista simbólico, que o país acompanhe potências ocidentais na agenda de sanções econômicas ao governo russo.

“Não há dúvidas de que os países estão olhando para ver quem está se posicionando. Pode haver, nos próximos dias, uma pressão para que o Brasil se posicione nesse sentido e isso influencia em nossas parcerias econômicas”, conclui.

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