Idealizado pelas pesquisadoras, artistas - e também cozinheiras - Laís Velloso e Luísa Macedo, o projeto “Lambida” reúne receitas, histórias e memórias de seis cozinheiras de Belo Horizonte em áudios, fotografias e intervenções visuais. Mais que isso, dá visibilidade a mulheres comuns e, ao mesmo tempo, singulares: Belinha, Sílvia, Ruth, Rose, Lena e Vera e será oficialmente lançado sábado (27), no Centro Cultural Usina de Cultura (rua Dom Cabral, 765, Ipiranga, BH). É gratuito e aberto ao público.
A coleta do material começou no segundo semestre do ano passado, com registros do preparo de pratos marcados por memória afetiva. Na verdade, o prato é apenas o ponto de partida: o convite mais profundo é imaginar, escutar e se demorar nas vidas narradas ao pé do fogão.
As fotografias de Luísa revelam o cotidiano das personagens de forma íntima e cuidadosa, transformando cada panela e gesto em matéria estética. “Não queria transformar essas mulheres em personagens distantes, mas mostrar a beleza que já existia ali. Cada mulher é um micromundo”, explica a fotógrafa.
Escolham revelam vidas inteiras, diz uma das idealizadoras
O material se transformou em lambes espalhados pela cidade, cada um com QR Codes que levam a vozes, sons e histórias. As receitas - feijão tropeiro, pernil com angu, nhoque, frango com quiabo e biscoitos fritos - podem parecer simples, mas ganham outra dimensão quando ligadas às histórias de luta, resistência e alegria das protagonistas. “O que nos moveu não foi o prato em si, mas a pergunta: por que essa receita, e não outra, atravessa uma vida inteira? Essas escolhas revelam vidas inteiras”, afirma Laís.
Ao dar espaço às histórias, o projeto ressignifica a cozinha, mostrando que ela vai muito além de um lugar utilitário ou de um papel feminino naturalizado. “A cozinha me ergueu em muitos momentos, e a palavra me deu ferramentas para dar nomes às coisas. O Lambida é um encontro desses dois universos: cozinhar e compartilhar histórias”, afirma Laís.
“Eu entrei no projeto achando que seria previsível. Saí sabendo que nunca vai ser igual. Aprendi muito. Nunca tinha trabalhado com tantos atravessamentos. Foi uma experiência inédita”, completa Luísa.
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