As recomendações do Ministério da Saúde para a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19 foram criticadas pelo presidente da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP), Cássio Ibiapina. A inclusão do público no programa de imunização foi anunciada nesta quarta-feira (5) e alguns pontos apresentados desorientam a população, segundo Ibiapina, como a orientação para pais procurarem médicos previamente e o intervalo entre as doses.
Em entrevista coletiva para anunciar a medida, a secretária de enfrentamento à Covid, Rosana Leite de Melo, disse que é imprescindível que pais ou responsáveis procurem um médico antes de imunizar as crianças.
Para o presidente da SMP, a recomendação mostra um desconhecimento do governo federal em relação à realidade do atendimento pediátrico no país.
"Isso certamente aumentará ainda mais a desigualdade social, porque a família que tem condição de ter seu pediatra, vai fazer isso. Aquelas crianças do sistema público provavelmente não terão condição e ficarão expostas ao vírus. Temos que lembrar que convivemos com Unidades Básicas de Saúde lotadas de crianças com gripe, além do aumento de casos de Covid", comenta o médico.
Mesmo com críticas, Cássio Ibiapina comemora a aprovação da vacinação para as crianças de 5 a 11 anos, mas considera que a decisão foi tomada de forma tardia.
"Temos motivos éticos, sanitários e epidemiológicos para vacinar as crianças. Não havia menor necessidade de consulta pública, uma vez que os órgãos como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sociedades médicas e toda a comunidade científica concordam com a segurança e eficácia da vacina", afirma.
Em nota, a fabricante Pfizer afirmou que além da Anvisa, a vacina foi aprovada por agências regulatórias nos Estados Unidos e na União Europeia. Segundo a biofarmacêutica, o imunizante demonstrou eficácia de 90,7% em estudo clínico desenvolvido especificamente para a faixa etária pediátrica, de 5 a 11 anos.
Intervalo entre doses
Na bula das vacinas contra coronavírus destinadas às crianças, o intervalo recomendado entre as doses é de três semanas. Ainda assim, o Ministério da Saúde informou nesta quarta (5) que o período no Brasil será de oito semanas.
Uma das justificativas utilizadas pela pasta é que, com o intervalo maior, seria possível entender melhor o desenvolvimento de miocardite como efeito colateral do imunizante nas crianças.
Para Cássio Ibiapina, a justificativa não faz sentido, já que essa condição, uma inflamação do músculo do coração, é rara nessa faixa etária e mais perigosa no caso de infecção pelo coronavírus.
"A miocardite é mais frequente nas crianças que têm Covid do que nas que receberam a vacina. Os estudos mostram que é uma complicação rara e foi inclusive maior a prevalência nos adolescentes de 12 a 17 do que no grupo de 5 a 11", conclui o presidente da SMP, que também afirma que pais devem ter tranquilidade e levar as crianças para se imunizarem contra o coronavírus.