Grampos abalam República e põem em xeque seu futuro

Publicado em 25/05/2016 às 21:26.Atualizado em 16/11/2021 às 03:36.

Impressiona a apatia, frieza e o silêncio do presidente do governo provisório, Michel Temer (PMDB), ante os abalos avassaladores provocados por gravações telefônicas que ameaçam sua gestão, a República e o futuro dela. A primeira das revelações derrubou em menos de 24 horas, na segunda-feira (23), seu ministro do Planejamento e presidente nacional interino do PMDB, Romero Jucá, um de seus homens de sua estrita confiança. Nessa quarta (25), foi a vez do presidente do Senado, Renan Calheiros, e do ex-presidente da República (85/89), José Sarney (ambos do PMDB), serem flagrados em confissões não premiadas nem republicanas. 

Pela sequência, as delações não premiadas insinuaram que, depois deles, a bola da vez seria o senador mineiro, Aécio Neves (PSDB), mais uma vez citado de ser beneficiário de algum esquema. Tudo leva a crer que, se todos os políticos brasileiros fossem investigados, nenhum escaparia de algum malfeito que o tornaria inelegível e alvo de processo de cassação, outros de prisão. Na política, ninguém chega ao poder porque é corrupto ou porque nasceu assim, mas permanecer nele faz de boa parte culpada, ou pelo menos, omissa, ou ainda, cúmplice desse sistema que sustenta a República. Ninguém move uma palha sequer para mudá-lo ou extingui-lo.

Deixar como está, fingir que não é comigo e nada fazer é negligenciar responsabilidades à espera de um abalo ainda maior e, talvez, mais trágico. As jornadas de junho de 2013 foram bastante significativas a respeito de uma insatisfação que, de uma hora para outra, pode reemergir como aquela, porém, dessa vez, de forma mais contundente. 

Os consecutivos malfeitos e parcialmente revelados lançam suspeitas, mais de uma vez, até sobre ministros da mais alta corte do país, o STF, apontando uma grande operação política que tinha, como objetivo maior, o impedimento da presidente Dilma Rousseff (PT), hoje afastada por 180 dias para seu julgamento político. 

De seu lado, Dilma e aliados vão usar as gravações para reforçar a defesa e sustentar a tese de que o impeachment foi um golpe parlamentar contra a presidente. É improvável que alcancem o efeito desejado de ou paralisar o processo ou inocentá-la de eventuais crimes administrativos que não justificariam, até onde se sabe, a pena de morte política. Com certeza, servirão para o julgamento jurídico dos envolvidos pela Suprema Corte, depois que a Procuradoria Geral da República usá-las para abrir novos inquéritos. 

Ninguém duvida que a economia é uma questão emergencial a ser tratada, mas não é a única prioridade. Também não se pode reduzir a ação de governo a isso nem ignorar o desleixo como a política tem sido praticada no país desde a redemocratização em 1985 (sabido que antes não havia política nem democracia). O Brasil de hoje é todo uma emergência só e não pode ser tratado com frieza, apatia e omissão. Do contrário, comemorar vitória, como fez Michel Temer, sobre o resultado da aprovação da nova meta fiscal na madrugada dessa quarta-feira (25), poderá dar-lhe sobrevida, deixando-o, ao mesmo tempo, refém de um Congresso Nacional que cobra, cada vez mais caro, pelo pedágio de um sistema que não é republicano nem democrático. 

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