Árbitro defende UFC, mas revela que Pride já teve lutas forjadas

Gazeta Press
24/01/2013 às 09:42.
Atualizado em 21/11/2021 às 21:02

Primeiro árbitro brasileiro do UFC, o paulistano Mario Yamasaki não gosta de encenação. Ele visitou a redação da "Gazeta Esportiva.net" por ocasião do retorno do evento a São Paulo e agiu de forma bastante natural: divertiu-se com o acervo que continha registros da tradição de sua família no judô, tirou fotografias com o  telefone celular e falou abertamente das polêmicas da história ainda recente do MMA (artes marciais mistas). Inclusive sobre as suspeitas de armação.

Yamasaki lembra brigas de lutadores

Sem fazer teatro ou cerimônia, Yamasaki confirmou com exclusividade que presenciou lutas forjadas ao longo de sua carreira no esporte. "Já. É ruim", resumiu. "Uma que sei que foi armada... Acho que não deveria nem falar, mas...", acrescentou o árbitro, muito reticente, apesar de restringir a sua revelação a eventos menos tradicionais ou já extintos - como o japonês Pride, que fez sucesso entre as décadas de 1990 e 2000 e projetou lutadores consagrados para o hoje badalado UFC.

"No Japão, faziam muitas lutas forjadas. Em eventos um pouco menores e até mesmo no Pride já houve", avisou Yamasaki, que trabalhou na organização japonesa e também no EliteXC, citado por ele como uma vítima fatal da encenação.

"Quem vê a luta forjada sabe (o que está acontecendo). Às vezes, o árbitro nem sabe (da armação). Rolava no boxe, sim. Mas o MMA não pode fazer. Quem fizer... Se fizer, (o evento) acabará", decretou.Os fãs da maior organização de MMA do mundo não precisam se preocupar, de acordo com Yamasaki. A encenação do UFC se resumiria a atitudes de lutadores que gostam de se autopromover, como o irreverente norte-americano Chael Sonnen, famoso no Brasil por provocações aos rivais brasileiros (chegou a vestir a camisa do Palmeiras na campanha por uma revanche contra Anderson Silva, patrocinado pelo Corinthians). "O Sonnen deveria estar no WWF (luta-livre coreografada)", condenou Vitor Belfort, logo após bater o inglês Michael Bisping no principal combate do UFC São Paulo.

"O MMA é massacrado por causa de palhaços como ele", concluiu.

A popularização de Vitor Belfort e de outros astros do UFC, com direito a transmissões de lutas na televisão aberta, fez eclodir também suspeitas dos novos fãs em relação a possíveis armações. O receio é de que o MMA se aproxime de alguma forma dos shows de vale-tudo da década de 1960, que teve personagens como o falecido bom-moço Ted Boy Marino no papel de rival do Chael Sonnen de sua época. Muitos brasileiros aderiram à teoria da conspiração especialmente após derrota do então campeão Junior "Cigano" dos Santos para Cain Velasquez, norte-americano de origem mexicana, em 29 de dezembro do ano passado.Para os mais desconfiados, o fato de Cigano ter lutado com a guarda baixa contra Cain, o lucro que uma revanche traria e a importância de o UFC agradar também ao público mexicano seriam indícios de armação. "Acho isso ignorância. Vivo nesse meio. Alguns eventos acabaram por isso. Aquele EliteXC (antigo concorrente do UFC) acabou por tentar forjar uma luta. O UFC não forja luta. Estou lá, sei e garanto. No dia em que o UFC fizer isso, perderá a sua credibilidade e acabará. É justamente isso que eles não querem. Eles fazem tanta coisa boa pelo esporte, ganham dinheiro. Por que fariam isso (forjar lutas)?", defendeu Mario Yamasaki.

O renomado árbitro de MMA ainda deu a sua versão para a derrota de Cigano, que havia conquistado o cinturão com um contundente nocaute sobre o próprio Cain Velasquez, em 12 de novembro de 2011. "O que aconteceu foi que o Junior estava pressionado e não conseguiu lutar por causa de sua cabeça, não pelo corpo. Se ele fosse entregar a luta, faria isso no primeiro round ao invés de ficar apanhando até o final, por cinco assaltos", argumentou.

Mentor de Cigano, Antônio Rodrigo "Minotauro" Nogueira corroborou tecnicamente com a análise de Yamasaki. "Em luta de pesos-pesados, um golpe pode decidir tudo. Até os dois, três minutos, eu achava que o combate se desenrolaria facilmente a favor do Cigano, que estava dominando o octógono, defendendo as quedas e até acertando alguns golpes. Só que o Cain adotou uma tática perfeita, fazendo o Cigano acreditar que ele só tentaria ir nas pernas. Ele acertou um soco e deixou o Cigano mal, tonto por dois rounds. Mas uma derrota não manchará a carreira do Cigano. Estamos falando de um cara jovem, um dos maiores atletas de MMA que já vi. O campeão voltará", assegurou o veterano.Geralmente apresentado como uma "lenda" do esporte, Minotauro era um dos principais atletas do Pride. O brasileiro disputou mais de 20 lutas pelo evento japonês, sendo as mais famosas a vitória com chave de braço sobre o gigante norte-americano Bob Sapp (de 1,96 m e quase 150 kg) e a trilogia contra o russo Fedor Emelianenko (duas derrotas e um combate sem resultado). A organização asiática, que também tinha estrelas como o brasileiro Wanderlei Silva e Maurício "Shogun" Rua, os norte-americanos Dan Henderson e Mark Coleman e o japonês Kazushi Sakuraba, acabou comprada pelo UFC em outubro de 2007 e extinta.

Além de associar completamente a sua imagem ao UFC com o fim do Pride, o empreendedor Mario Yamasaki passou a comandar academias em que também ensina MMA e a coordenar cursos e eventos relacionados à modalidade.

Ele não combate apenas a armação nas lutas que promove, como gostou de frisar após encerrar o assunto polêmico. "Outra coisa que não pode acontecer é colocar frango para lutar. A luta precisa ser contra um p... grossa ou então nem vem. Não vou arrumar luta com frango porque isso acaba tirando a credibilidade e a essência do negócio", ensinou o árbitro da mais bem-sucedida organização da história de seu esporte.

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