É osso! Açaí vira prótese em laboratório

Izabela Ventura - Do Hoje em Dia
25/06/2012 às 08:44.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:04
 (Foto Wikicommons/Divulgação)

(Foto Wikicommons/Divulgação)

Mais do que um alimento funcional comum na dieta de muitos brasileiros, sobretudo os do Norte do país, o açaí virou um poliuretano (ou polímero, composto químico) para ser usado
como prótese óssea, principalmente nas regiões do crânio e da face.

A transformação ocorreu no laboratório da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A novidade, uma espuma rígida e porosa, que facilita o crescimento ósseo, promete ser mais eficiente do que as peças usuais, fabricadas com metal.

Segundo a química Laís Pellizzer Gabriel, autora da dissertação de mestrado que resultou na descoberta, a matéria-prima é um extrato retirado da semente do açaí, o poliol, na forma de pó. As amostras de sementes e do bagaço da fruta foram fornecidas pelo laboratório de engenharia mecânica da Universidade Federal do Pará (UFPA), que investiga as propriedades do fruto há anos.

Da reação do poliol em contato com outros compostos, como o isocianato, obtém-se um material esterilizado e pronto para uso. “Ele pode substituir próteses que geralmente são feitas em titânio, material que precisa ser retirado em uma segunda cirurgia, depois que o osso se regenera”. A nova prótese de polímero natural, ao contrário, permite o crescimento do osso. Neste caso, depois que ele se regenera, o material se decompõe e é naturalmente absorvido pelo organismo. Além disso, como a prótese à base de açaí é personalizada, os médicos
precisarão de menos tempo para realizar a cirurgia. Dessa forma, o paciente ficará menos tempo anestesiado e o risco de infecções é reduzido.

“A prótese é produzida a partir da deformação óssea de cada paciente, de acordo com a lesão que ele sofreu”, informa Pellizzer. Tomografias e estudos médicos ajudam a dar exatidão
milimétrica ao material produzido.

De acordo com André Jardini, pesquisador que também trabalhou no projeto, o poliuretano já é um material consagrado para a fabricação de próteses ortopédicas e é aprovado pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mas, um detalhe: o material da Unicamp é o único de base natural.

Ainda em fase de testes clínicos, a pesquisa para desenvolvimento do biopoliuretano é financianda pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

A nova meta de Laís Pellizzer é investigar se outras propriedades do açaí podem ser incorporadas ao polímero já desenvolvido. O experimento já foi testado "in vitro" e em ratos, demonstrando ser biocompatível com as cobaias, ou seja, não sofreu rejeição do organismo delas. O próximo passo é testá-lo em humanos.

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