40 sons de sinos: projeto imortaliza história de Minas

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
01/05/2015 às 06:48.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:51
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Do alto de uma torre estreita, erguida sobre pedras por escravos há centenas de anos, ecoa o som que anuncia a uma cidade inteira mortes, nascimentos, celebrações religiosas e chamados para procissões. Para cada uma das notícias, uma badalada distinta. É o toque dos sinos, que mantém, em nove cidades históricas, uma tradição tipicamente mineira.


Patrimônio nacional reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a sonoridade dos instrumentos forjados em bronze ficará acessível a todos graças à tecnologia. Os cerca de 40 sons, produzidos pelo atrito dos pesados badalos nas caixas acústicas, foram digitalizados e estão reunidos em site, aplicativo para dispositivos móveis e documentário.


Mantida viva sobretudo entre os mais velhos, a comunicação pelos sinos é um importante capítulo da história de Minas, diz a professora emérita da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), pesquisadora em patrimônio imaterial, Hebe Rôla. Segundo ela, a linguagem dos instrumentos é a mais democrática que existe. “Eles falam indistintamente, comunicam a todos e não precisam de aparelhagem”.


Experiência


Mais jovem sineiro de Sabará, Fabiano Dias Teixeira, de 27 anos, exerce o ofício há cinco na igreja Nossa Senhora do Rosário, no centro histórico do município da Grande BH. O interesse por conhecer cada uma das badaladas e fazer disso um trabalho, ele associa a um “chamado de Deus”.


“Sempre fui curioso, interessado. Aprendi lendo em livros, estudando muito. Os sinos têm línguas e perpetuar isso pelo mundo é fundamental para manter a história viva”, afirma.


Toques dos mineiros para o mundo


O Som dos Sinos está disponível somente para iOS, por enquanto (Foto: Flávio Tavares/Hoje em Dia)


Mais do que difundido em território mineiro, o projeto “O Som dos Sinos – 9 Cidades, 40 Toques e Outras Histórias” ganhará, oficialmente, a partir desse sábado, o mundo. O material, fruto de um trabalho de dois anos, foi idealizado por uma carioca e uma paulista, apaixonadas pela história de Minas.


“O sino tem um aspecto multimídia que é muito interessante, pela sonoridade que apresenta, pelo movimento. O bacana de tudo isso é avaliar como o projeto consegue fundir o patrimônio, o moderno e a tradição”, detalha a documentarista Marina Thomé, codiretora do projeto.


Candidato na categoria patrimônio imaterial do Programa Cultural das Empresas Eletrobras 2014, o Som dos Sinos concorreu com outros 200 trabalhos e foi um dos dois vencedores, em todo o país. A ideia, segundo as idealizadoras, é servir de referência para que outros tipos de patrimônio também possam explorar as possibilidades de unir tradição e contemporaneidade.


Pelo celular


Um toque no celular e o usuário pode navegar pelas nove cidades contempladas no projeto, pelas igrejas participantes ou ainda pelo sons dos sinos, que entoam melodias características para cada tipo de ocasião, como celebrações festivas e procissões.


O lançamento oficial das plataformas, a única que, de acordo com o Iphan, imortaliza algum tipo de patrimônio imaterial no país, é a partir desse sábado, quando um documentário sobre a cidade será projetado, à comunidade, na parede de uma das igrejas do município.


A partir de então, moradores, viajantes, internautas e curiosos de todos os tipos poderão experimentar as várias plataformas e desvendar os mistérios dos sinos mineiros.


Ao todo, nove vídeos serão exibidos em cada uma das cidades participantes, que ainda mantêm as badaladas como tradição. Os vídeos contam a história do local por meio de depoimentos de moradores e sineiros.


A última parte do projeto irá contemplar a produção de um documentário em formato de longa-metragem. A ideia é que o material percorra festivais do gênero e seja exibido em salas de cinema e na televisão.

 


OFÍCIO – Fabiano Teixeira é orgulhoso por trabalhar tocando os sinos da igreja Nossa Senhora do Rosário em Sabará (Foto: Lucas Prates/Hoje em Dia)


Iphan faz levantamento sobre conservação de instrumentos


Um inventário sobre o estado de conservação de cada um dos sinos presentes nas nove cidades históricas vem sendo feito pelo Iphan há cerca de seis meses e deve ficar pronto ainda no primeiro semestre deste ano. O objetivo do material é mapear os instrumentos e saber como está cada um deles.


Para a superintendente do Iphan em Minas, Célia Corsino, o trabalho irá permitir que novas medidas sejam tomadas no sentido de proteger e manter viva a história e o patrimônio do estado. “Viemos fazendo reuniões articuladas com a comunidade, os sineiros e, a partir das demandas apresentadas, iremos desenvolver trabalhos, principalmente com relação à transmissão de saberes e manutenção dos instrumentos”, diz.


Históricas


Tiradentes, São João del-Rei, Congonhas, Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Serro, Diamantina e Sabará são os nove municípios inscritos no Livro das Formas de Expressão do Iphan, onde o Toque dos Sinos em Minas Gerais foi registrado como patrimônio imaterial, em 2009.


Clique e ouça trechos dos documentários, que registram os sons dos sinos das noves cidades:

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