860 mil hectares em Minas sem proteção contra incêndio

Ricardo Rodrigues - Hoje em Dia
21/07/2015 às 06:24.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:00
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

O tempo seco em Minas acende o alerta para riscos de incêndios florestais tão comuns nesse período, e a situação é agravada pela falta de brigadas em 11 das 17 unidades de conservação federais no Estado. Isso significa dizer que dos mais de 1,5 milhão de hectares protegidos, apenas 672 mil hectares têm equipes próprias de combate ao fogo, enquanto 860 mil hectares estão à mercê das queimadas criminosas.

É o caso das Áreas de Proteção Ambiental (APA) Carste de Lagoa Santa, por exemplo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que possui grande riqueza de fauna, flora e cavernas.

Nessas unidades de conservação, o órgão gestor, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), limita-se a promover campanhas de sensibilização e conscientização.

“O ICMBio não prevê a contratação de brigadas exclusivas para esses territórios, pois considera-se que a maior parte dessas APAs é constituída de áreas privadas, mas fomenta a formação de brigadas municipais e campanhas de conscientização”, afirma a coordenadora regional substituta do ICMBio em Minas, Carolina Fonseca.

Entretanto, no Parque Nacional da Serra do Gandarela, na Região Metropolitana de BH, e na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Nascentes das Geraizeiras, no Norte do Estado, ambos criados em outubro de 2014 e que se encontram em processo inicial de estruturação, o ICMBio não previu a contratação de brigadas de incêndio nem campanhas de conscientização.

Reforço

O instituto contratou brigadistas para reforçar a proteção dos parques que mais sofrem com esse tipo de ação criminosa. Mas ainda não é o suficiente para garantir proteção a todas as unidades, apesar da grande relevância em recursos hídricos e biodiversidade em cada uma delas.

O reforço nas brigadas vai ajudar a impedir a repetição dos focos de incêndios que destruíram, em 2014, quase a metade dos 200 mil hectares do Parque Nacional da Serra da Canastra, que abriga as nascentes do rio São Francisco.

“Podemos contratar até 42 brigadistas este ano”, informa o chefe do parque, Luiz Artur Castanheira. Além disso, em casos de incêndio, a unidade recebe apoio de brigadistas de outros parques nacionais e também do Instituto Estadual de Florestas (IEF).

Três brigadas estão atuando neste mês na formação de mais de 15 quilômetros de aceiros negros, medida que consiste em queimar faixas de seis metros de largura nos limites do parque para evitar que eventuais focos se alastrem pela vegetação nativa.

“Veio uma brigada do ICMBio do Rio de Janeiro para ajudar nos aceiros. Está difícil contratar com um salário mínimo por mês. O pessoal da região prefere colher café, trabalho considerado menos árduo e melhor remunerado”, assinala Castanheira.

Sem equipes oficiais, participação de voluntários é fundamental para proteger as reservas

A coordenadora do ICMBio, Carolina Fonseca, ressalta que as medidas de prevenção às queimadas são específicas para cada unidade de conservação, por isso a importância de haver o envolvimento da comunidade local na formação de brigadas voluntárias. Elas podem ser a saída para as reservas que não contam com o apoio do governo federal para contratação de brigadistas.

No plano de combate a incêndios são explicitados o contingente de brigadistas a serem contratados durante seis meses do ano, constituído por moradores da região. Nos planos são estabelecidas as áreas onde serão feitos os aceiros (capinas para evitar a passagem do fogo de uma área para outra), manutenção de estradas e acessos dentro das reservas e de cercas em parceria com proprietários das áreas.

“Alguns parques estão avançando nos trabalhos junto aos fazendeiros para utilização de fogo controlado nas propriedades e com apoio da brigada da unidade mais próxima. Paralelamente, são fomentadas a formação de brigadistas voluntários para serem acionados em caso de emergência e as campanhas de sensibilização e conscientização junto às comunidades próximas aos parques”, assinala Carolina.

Parcerias

É o caso do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Januária, no Norte de Minas, que possui três esquadrões de brigadistas (com sete pessoas cada), incluindo uma formada juntamente com a comunidade da terra indígena Xacriabá.

Eles atuam intensamente na sensibilização e envolvimento das comunidades locais no combate ao fogo para tentar proteger mais de 56 mil hectares de cerrado. Na última semana, os brigadistas passaram por treinamento com o Corpo de Bombeiros de Januária.

No Parque Nacional da Serra do Caparaó, 21 brigadistas já arregaçaram as mangas e estão em plena campanha de prevenção: conversas e reuniões com as comunidades, além da limpeza e manutenção de mais de 20 quilômetros de aceiros no entorno da unidade.

Com o programa de voluntariado, a meta é mobilizar 42 ex-brigadistas do parque em 2015 para apoiar outras brigadas voluntárias existentes nas comunidades vizinhas.

Proprietários de terra são alvos de campanhas para disseminação da queima controlada

Em outubro e novembro do ano passado, o fogo destruiu mais de 30 mil hectares na Serra do Cipó, importante área de preservação na região Central de Minas. Neste ano, três esquadrões já estão trabalhando para evitar que o cenário de 2014 se repita. Estão sendo feitos aceiros negros nos vales dos ribeirões Mascates e Bocaina para proteção dos principais atrativos turísticos naturais da unidade.

Também foi implantado o manejo integrado do fogo (MIF), tanto como medida de prevenção quanto para o combate aos grandes incêndios. Na última semana, aconteceram cursos de queima controlada, voltados para proprietários rurais, posseiros e arrendatários de terras no entorno do parque, além do curso de formação da brigada voluntária, com 35 vagas.

Crime

De 1º a 9 de julho de 2014, foram registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) 768 focos de incêndio em áreas protegidas de Minas, praticamente o mesmo número registrado em igual período de 2013.

Nas reservas estaduais, o plano de prevenção e combate a incêndios contou com reforços neste ano. Mesmo assim, as medidas de prevenção nem sempre conseguem inibir a ação criminosa, apontada como importante causa dos incêndios florestais em Minas.

O Parque Serra do Rola-Moça não é poupado. As áreas de proteção ambiental estaduais (Apae) Cochá e Gibão (em Bonito de Minas) e a do Rio Pandeiros, entre outras, também têm sido alvo de sucessivos incêndios criminosos.

A Secretaria Estadual de Meio Ambiente informou que ainda está contratando brigadistas para reforçar o combate a incêndios nestas unidades.

O planejamento de manejo no Parque Nacional das Sempre-Vivas, em Diamantina, foi feito em conjunto com os proprietários que ainda não foram indenizados pelo ICMBio e continuam na área do parque. Foi elaborado um calendário para a queima controlada e três esquadrões estão fazendo 30 quilômetros de aceiros.

O monitoramento por satélite feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra que as unidades mais atingidas por incêndios são os parques nacionais da Serra da Canastra, Serra do Cipó, Sempre Vivas, Grande Sertão Veredas e Cavernas do Peruaçu, além das APAs Carste de Lagoa Santa e Cavernas do Peruaçu.

 

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