A dura rotina de quem vive sem água tratada e sem esgoto em Minas

Renata Evangelista - Hoje em Dia
22/03/2013 às 11:21.
Atualizado em 21/11/2021 às 02:09
 (Maurício de Souza)

(Maurício de Souza)

Diariamente, o porteiro Valdecir Aparecido Pereira, de 37 anos, caminha cerca de 400 metros com baldes nos ombros para pegar água e levar para casa. Além do transtorno de não ter água encanada em sua residência, ele também não conta com tratamento de esgoto.

A cena descrita acima ocorre com outras 500 famílias que vivem no chacreamento do bairro Bom Destino, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A água que os moradores utilizam é de uma represa que fica em Sabará, na Grande BH, que até animais têm acesso.

Para evitar que sua mulher e os três filhos, de 2, 12 e 14 anos, adoeçam com a água imprópria para o consumo, o porteiro relatou que trata o líquido com cloro. "Sinto como se morasse no Nordeste. Essa situação é um absurdo", declarou.

O ex-presidente da Associação dos Moradores do bairro Bom Destino e atual vereador (PDT), Ailton Gomes da Silva, informou que o problema ocorre porque o terreno onde as famílias vivem é irregular e, por isso, a Copasa não pode atuar. Para trabalhar no local, a prefeitura teria que liberar uma licença, que ainda não foi autorizada. Ele ressaltou que devido à falta de água potável e saneamento básico no chacreamento, doenças como diarréia, coceira e dor de barriga são constantes nos moradores.

Água e saneamento

Em Minas Gerais, 121 mil domicílios (1,9%) não têm acesso a água potável. O número de residências que sem saneamento básico é bem maior. No Estado, 1,219 milhão de casas (19,1%) não tem rede de esgoto e fossa séptica. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2011.

Conforme o PNAD, grande parcela da população que sem acesso a água potável em casa fica na zona rural. A pesquisa revelou que 86 mil domicílios não têm o precioso líquido tratado em casa, o que representa 9,1% da população. Na zona urbana, este número cai para 0,6% das residências mineiras, ou 34 mil domicílios.

Quanto ao saneamento básico, a pesquisa mostrou que o número de residências que não possuem acesso a rede de esgoto e fossa séptica na zona rural de Minas é mais de três vezes maior aos que têm. São 745 mil (78,3%) sem esgoto contra 207 mil (21,7) casas que contam com saneamento básico. Na zona urbana, 474 mil residências continuam sem rede de esgoto.

A região mais afetada em relação ao esgotamento sanitário é o Norte de Minas. De 445.532 domicílios, 275.334 (61,8) não possuem  esgoto e fossa séptica. O Vale do Jequitinhonha é a região que mais sofre com a falta de água potável. O PNAD mostrou que 38.264 (19,6%) domicílios não tem água tratada.

Copasa

Em Belo Horizonte, a Copasa informou que 100% dos domicílios são atendidos com água tratada e rede de esgoto. No Estado, a empresa atua em 627 municípios mineiros com relação ao tratamento de água e 277 cidades com saneamento básico. Das cidades atendidas com rede de esgoto, a abrangência da Copasa é de 65% da população.

A Copasa informou que, de 2003 a 2012, investiu 6,8 bilhões em Minas. Desse montante, R$ 2,9 bilhões foram aplicados nos sistemas de abastecimento de água; R$ 3,6 bilhões em esgotamento sanitário e R$ 268 milhões em bens de uso geral e outros. Em  2013 estão previstos recursos da  ordem  de  R$ 900 milhões, sendo R$ 257 milhões em abastecimento de água e R$ 601 milhões nos sistemas de esgoto e R$ 42 milhões em bens de uso geral e outros.

A intenção da empresa para este ano é ampliar para 71% a cobertura do esgoto coletado na sua área de atuação. Atualmente, a Copasa conta com 129 estações de tratamento de esgoto (ETE) em operação. Outras 85 já estão em obras, 54 ETEs projetadas para serem construídas e 12 ETEs estão em licitação.

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