A Savassi passa o ponto

Júnia Brasil- Do Portal HD
04/07/2012 às 10:09.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:18
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

As placas por toda parte não deixam dúvidas: a Savassi passa por mudanças que vão além da revitalização da praça Diogo Vasconcelos. Muitos comerciantes estão deixando uma das regiões mais nobres da capital impulsionados por aluguéis caros, violência e falta de infra-estrutura. Em um pequeno quarteirão, da avenida Getúlio Vargas, é possível ver uma série de anúncios que sinalizam que a loja em breve deixará de existir. É o caso da A Casa de Chá, que pouco antes de completar dois anos na região está fechando as portas. A proprietária Celina Teixeira conta que ela e a sócia viram naquele que seria o ponto dos sonhos, uma oportunidade de alavancar as vendas de um produto diferenciado.

Juntas, as duas transferiram a loja do bairro Cidade Nova para a Savassi, com a expectativa de que a demanda pelos produtos aumentasse. Porém, as dificuldades enfrentadas com o empreendimento foram maiores que a procura pelos produtos. Segundo Celina, antes mesmo das obras na região, o público frequentador já não estava mais assíduo como antes. "Depois da mudança dos prédios do Governo para a Cidade Administrativa, a Savassi já perdeu um pouco a movimentação diária de clientes. Depois das obras da Savassi, a situação piorou bastante", explica Celina.

A queixa da comerciante não é isolada. Segundo o pesquisa do Sindicato dos Lojista do Comércio de Belo Horizonte (Sindilojas BH), 51 lojas já fecharam as portas e 65% dos lojistas entrevistados sentiram quedas nas vendas no período de março de 2011 a março de 2012, data em que foram realizadas as obras. Na avenida Getúlio Vargas, onde se concentraram as obras, 10 estabelecimentos fecharam as portas, o maior número registrado durante o levantamento. Em seguida vem a rua Fernandes Tourinho, com sete, e a rua Paraíba com seis.

Na rua Alagoas, altura do número 429, uma enorme faixa também anuncia a entrega do ponto. O gerente da loja de tecidos, Hélio Dias, não relaciona a mudança a nenhum acontecimento em especial, mas afirma que deixar a Savassi não deve impactar nas vendas da loja. "Nossas vendas são, na maioria das vezes, acertadas pelo telefone e internet. Não justifica manter uma loja em um ponto tão caro", afirma.

Ainda segundo o Sindilojas, os motivos mais comuns apresentados por pelos comerciantes para justificar a queda nas vendas e o fechamento das lojas são a falta de estacionamento gratuito para os clientes e custos como IPTU e aluguel.



Antes das obras na região, que custaram mais de R$ 11,8 milhões, o preço médio para quem queria manter um comércio na região era de R$ 3 mil. Após a entrega da "Nova Savassi", este saltou para R$ 5 mil. "Os valores cobrados pelos aluguéis estão crescendo em um ritmo assustador", disse o presidente do SINDILOJAS BH, Nadim Donato. De acordo com ele, em alguns estabelecimentos o preço do metro quadrado subiu acima de 50%. Para o diretor do conselho CDL Savassi, Alessandro Runcini, a alta dos aluguéis já era esperada, mas a porcentagem está desproporcional ao lucro dos comerciantes. "Os lokistas tiveram um período de queda nas vendas por causa das obras e soomente agora é que estão começando a recuperar o caixa", avalia.

Estacionamento:

A retirada de 111 vagas de estacionamento também está impactando na movimentação do comércio. De acordo com o diretor da Livraria Mineiriana, Gabriel Campos, os clientes estão encontrando dificuldades para estacionar próximo ao comércio, o que enfraquece as vendas. "Com medo de serem multados, os clientes acabam procurando outros locais onde é permitido estacionar e a Savassi perde sua clientela", revela. Campos ressalta também, que a melhora esperada após a revitalização ainda não foi sentida, e que o retorno do público para o antigo pólo comercial de Belo Horizonte ainda não aconteceu.


Outra queixa dos comerciantes é a violência na região. Nos últimos meses os casos de assaltos e arrombamentos em lojas se tornaram frequentes, o que além de afastar o consumidor traz mais prejuízos aos lojistas. Segundo a Polícia Militar, o patrulhamento na região praticamente dobrou nos últimos quatro meses por causa das queixas dos comerciantes. Além de aumentar o efetivo durante o dia, a PM ainda implantou o serviço de "Patrulha da Família" e disponibilizou uma viatura extra para fazer rondas pela região das 20 às 6 horas. A PM afirma, ainda, que não tem um levantamento sobre o número de ocorrências na região, mas que após as medidas de segurança o número de crimes contra o patrimônio na Savassi estão diminuindo.

Na tentativa de estimular o comércio e aumentar as vendas, donos de lojas da rua Antônio Albuquerque decidiram, juntamente com a CDL, prolongar em três horas o horário de funcionamento das lojas. Ao invés de funcionar das 9 às 18 horas, as lojas serão fechadas somente a partir das 21 horas. A iniciativa, que pretende implementar a "Via Albuquerque", a exemplo da Oscar Freire - rua de comércio de luxo no bairro Jardins, em São Paulo-, começou a valer no dia 19 de junho. De acordo com Alessandro Runcini, mais de 70% dos ouvidos durante uma pesquisa da CDL, afirmaram que frequentariam mais as lojas da rua se o comércio funcionasse até mais tarde.

A história da Savassi:

Nos anos 30, a família composta pelos irmãos José Guilherme, Hugo e Geraldo Savassi, e o sobrinho Danilo Savassi, abriu uma padaria na Praça Diogo Vasconcelos, dando a ela o sobrenome da família. Com o passar dos anos, a população apelidou a praça de "Praça da Savassi", fazendo referência ao empreendimento. Em 2006, a prefeitura de Belo Horizonte decidiu desmembrar o espaço que fazia parte do bairro Funcionários e o da Boa Viagem e nomeou como Savassi. A região abriga alguns dos pontos turísticos da capital mineira, como a Praça da Liberdade, a própria pracinha da Savassi e a escola de arquitetura da UFMG.

 

Confira mais sobre a situação dos comerciantes na Savassi 

 

 

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