Acidentes com crianças geraram mais de 4 mil internações nos últimos três anos em Minas

Raul Mariano e Simon Nascimento
29/06/2019 às 14:16.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:19
 (Editoria de Arte)

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Acidentes com menores de 14 anos geraram mais de 4 mil internações na rede pública de saúde em Minas nos últimos três anos, segundo levantamento da ONG Criança Segura. Os casos envolvem tanto ocorrências domésticas quanto colisões de automóveis, atropelamentos e quedas que causam traumatismos de todos os níveis.

O episódio recente envolvendo o filho de 11 anos do apresentador Luciano Huck – que sofreu afundamento de crânio enquanto praticava wakeboard – reacende o debate sobre os cuidados de pais com a segurança da garotada, sobretudo no período de férias escolares. 
As ocorrências no trânsito estão entre as principais causas de ferimentos em meninos e meninas. Seja na condição de pedestres ou passageiros de veículos, o público infantil está entre o mais vulnerável do tráfego urbano. 

Para especialistas, não restam dúvidas de que todo trajeto feito com meios de transporte – motorizados ou não – deve contar com os acessórios de proteção equivalentes. O médico Dirceu Rodrigues Alves, membro da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), afirma que a atenção às crianças deve ser “privilegiada e constante”.

Dentro dos automóveis, destaca o médico, eles devem estar sempre muito bem “fixados”. “Caso contrário, serão projetados para frente ou para o alto no caso de batida ou freada brusca. O choque tende a provocar lesões de alta gravidade”, alerta.

Fora dos carros, reforça Alves, os cuidados devem ser os mesmos, uma vez que mais de 400 crianças foram atingidas por veículos no ano passado em Minas. “Os atropelamentos também são um problema seríssimo. A garotada deve ser instruída sobre o respeito à sinalização desde a pré-escola”, destaca. 

Dentro de casa

As crianças também podem estar expostas a riscos mesmo no próprio lar. Quem afirma é o tenente Sandro Júnior, comandante do Corpo de Bombeiros em Ribeirão das Neves, na Grande BH.

Ele destaca que a cozinha é um dos ambientes mais perigosos da casa e acidentes envolvendo panelas com alimentos quentes são corriqueiros. 
“Materiais de limpeza e objetos cortantes são sempre nocivos. Ela vê os rótulos coloridos e não sabe do que se trata, pode ingerir algum produto e se intoxicar”, afirma o militar. 

O descuido dos pais, acrescenta o oficial, quase sempre contribui para que os acidentes domésticos aconteçam. 
“A gente observa que há uma falta de precaução dos responsáveis na maioria dos casos que atendemos. Eles confiam demais em deixar os filhos brincando sozinhos”, adverte o comandante Sandro Júnior. 


Ingestão de objetos como botões e moedas é a principal causa de atendimentos no João XXIII 

A ingestão de objetos, como botões, moedas e pequenas peças de brinquedos, é a principal causa de atendimentos de crianças na ala pediátrica do Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, em BH. Apenas nos primeiros cinco meses deste ano, a unidade recebeu 1.102 pacientes de até 12 anos com o mesmo problema –média de sete por dia. Em seguida, os tombos da própria altura, as quedas da cama ou sofá, as picadas por animais peçonhentos e os acidentes em escadas são as principais demandas recebidas pelo hospital. 

O pediatra André Gonçalves Marinho, que atua no departamento de pediatria do HPS, afirma que os acidentes estão relacionados a cada faixa etária. Entre os bebês, relata o médico, asfixias, queimaduras e afogamentos são as situações mais comuns. “Nessa época em que as pessoas não largam o celular para nada, um segundo de distração pode gerar o acidente”, alerta. 

O especialista esclarece que, no caso das quedas em que a criança bate a cabeça, o melhor a se fazer é procurar atendimento médico mesmo que a lesão não pareça ser grave. “Após a alta, os pais devem continuar atentos em casa e observar se a dor piora, se o filho vomita e se há mudança repentina de comportamento, como um choro inesperado”, orienta Marinho. 

Traumatismos

Evitar que a criança durma após um acidente em que ela tenha machucado a cabeça não é mito. Quem afirma é o pediatra aposentado Décio Alvarenga Rocha, que atuou no HPS por cerca de 30 anos.

“Todo traumatismo dá sono, mas a preocupação é que a criança entre em coma e o responsável pense que ela está apenas dormindo. Daí, a orientação para que a mantenha acordada”, explica. 

A gravidade pode variar em pelo menos quatro níveis, conforme explica Rocha. “Pode ser um hematoma simples, o que chamamos de ‘galo’, fraturas lineares menos graves, afundamentos de crânio e lesões dentro do cérebro que, dependendo do tipo, pode levar ao óbito”, esclarece o médico.


Afogamento em piscinas quase sempre é fatal; nem natação dispensa supervisão do pais 

Em cada fase da infância, as crianças estão sujeitas a riscos diferentes, mas, em nenhuma faixa etária, deve ser dispensada a atenção rigorosa dos pais. O alerta é da gestora de comunicação da ONG Criança Segura, Vanessa Machado. 
“De 1 a 4 anos, ela ainda tem a cabeça grande em relação ao corpo, se desequilibra mais e tem dificuldades de sair da água se estiver submersa. Por isso, os afogamentos são tão comuns”, explica. 

Vanessa destaca que as ocorrências em piscinas são a maior causa de mortes entre o público infantil e não aparecem nas estatísticas de internações porque, na maioria das vezes, o óbito é constatado no próprio local. “Matricular as crianças em aulas de natação pode ajudar, mas não torna desnecessária, nunca, a supervisão dos responsáveis”, garante.


Além Disso

Benício, de 11 anos, filho dos apresentadores Angélica e Luciano Huck, sofreu um acidente enquanto praticava wakeboard em 22 de junho, nas proximidades de Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro. De acordo com comunicado oficial expedido pela Marinha do Brasil, na ocasião, ele “esquiava em prática esportiva, desequilibrou-se da prancha e chocou a cabeça na mesma”.

O garoto precisou passar por uma neurocirurgia e chegou a ficar internado na unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital particular, mas não sofreu complicações. O exame de ressonância magnética “demonstrou evolução satisfatória do trauma craniano no período evolutivo”. Nas redes sociais, Huck e Angélica agradeceram o carinho dos fãs. 

Em 2015, o casal e os três filhos estavam a bordo de um avião de pequeno porte quando a aeronave teve de fazer um pouso de emergência em uma fazenda do Mato Grosso do Sul. O acidente teria sido provocado por problemas na bomba de combustível, e todos que estavam no avião sofreram apenas escoriações leves e foram levados para hospitais da região. A bordo, também estavam os três filhos do casal, duas babás, o piloto e o copiloto. 

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