Acordo frustrado mantém sufoco nos ônibus de BH

Simon Nascimento
25/04/2019 às 20:51.
Atualizado em 05/09/2021 às 18:24
 (Riva Moreira )

(Riva Moreira )

Passageiros e motoristas do transporte público em Belo Horizonte terão que esperar pelo menos seis meses para viajar com mais conforto. Prevista para até o fim de abril, a entrega de ônibus com ar-condicionado e suspensão a ar deverá ocorrer só em outubro. Dos 300 coletivos prometidos, 117 foram incorporados à frota no prazo estabelecido.

A implementação havia sido acertada entre as empresas que operam o sistema e a BHTrans em 30 de dezembro do ano passado, após o aumento da tarifa de R$ 4,05 para R$ 4,50. A justificativa para o atraso é a demora na entrega dos veículos pelas montadoras, segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH). 

“Devido ao aquecimento das vendas de ônibus e caminhões, no primeiro trimestre de 2019, as montadoras estão pedindo prazos entre quatro e seis meses”, alegou a entidade, por meio de nota.

Quem depende do meio de transporte para se locomover na metrópole reclama. A babá Dina da Rocha, de 41 anos, que pega quatro ônibus por dia, entre as regiões Nordeste e Centro-Sul, diz que é raro fazer viagens em coletivos equipados com o ar-condicionado. 

“Mesmo quando a gente dá sorte, nem sempre o sistema está regulado. Às vezes, no frio, a temperatura está muito baixa e, no calor, que é quando precisa de verdade e o ar está desligado, fica aquele clima abafado, difícil de aguentar”.

que a recomendação é de deixar o sistema de refrigeração entre 19°C e 26°C, sendo o ideal 22°C

Mais reclamações

O acordo firmado após o reajuste de 11% da tarifa também previa a contratação de 500 cobradores. A necessidade surgiu após denúncias de que os coletivos estavam circulando sem a presença dos agentes de bordo fora do horário permitido por lei. Apesar de a BHTrans e o SetraBH confirmarem que essa parte foi cumprida, nas ruas a população reclama da ausência dos trabalhadores nos veículos.

“Na hora do acordo, eles afirmaram que o aumento da passagem seria para melhorar o serviço prestado. Mas os ônibus continuam lotados, com filas quilométricas nas estações e sem cobradores”, diz a presidente da Associação dos Usuários de Transporte Coletivo e Alternativo de BH, Gislene Reis.

“Não melhorou nada. Tiraram os trocadores, os ônibus são velhos, demoram demais e a passagem está muito cara. É mais barato pegar um aplicativo e dividir com mais três pessoas”, afirma o entregador de jornais João Batista Assis, de 53 anos.

Integrante do Movimento Tarifa Zero, Juliana Galvão diz que a renovação da frota não deveria ter sido condicionada ao reajuste da tarifa. “Isso jamais pode ser argumento para aumentar a passagem. É uma obrigação das empresas prevista no contrato de concessão”.

Professor do curso de engenharia de transportes do Cefet, Renato Ribeiro acredita que os problemas enfrentados pelos usuários do transporte público da capital estão diretamente relacionados à falta de investimentos.

“A solução para o barateamento de passagem é o subsídio ou a melhoria de produtividade com corredores exclusivos para ônibus, além de veículos mais novos. Se tivermos um sistema de trânsito melhor, os atrasos vão diminuir e, consequentemente, vai equacionar esta relação entre preço e qualidade”, afirma.

Com relação ao ar-condicionado, a BHTrans informou que a recomendação é de deixar o sistema de refrigeração entre 19°C e 26°C, sendo o ideal 22°C. A reportagem questionou se algo será feito diante do descumprimento do acordo por parte das empresas, mas nenhum posicionamento foi emitido. 

Em janeiro deste ano, o Hoje em Dia mostrou o forte calor enfrentado pelos passageiros e motoristas. Na época, a BHTrans informou que o descumprimento da meta não gerou punições, por se tratar de um acordo sem a assinatura de um contrato.

A empresa não forneceu fonte para falar sobre as reclamações listadas, em tempo hábil, nem se posicionou por meio de nota. O Setra também não se manifestou sobre as queixas dos usuários.

MP

Na semana seguinte ao anúncio de aumento no valor das passagens de ônibus em BH, ainda em dezembro de 2018, o Ministério Público de Minas Gerais instaurou inquérito para apurar supostas ilegalidades no acordo entre a Prefeitura de Belo Horizonte e o Setra, que resultou no reajuste da tarifa.

O MP solicitou à PBH toda a documentação da auditoria realizada nos contratos das empresas com a BHTrans que embasaram o aumento da passagem. O procedimento está em trâmite e em fase de diligências, conforme o órgão.

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